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2005 – as estratégias do combate

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Paulo Coelho
Lidando com o medo
O guerreiro da luz sabe: todo mundo tem medo de todo mundo.
Este medo se manifesta de duas formas: através  da agressividade, ou através da submissão. São duas faces do mesmo problema.
Por isso, quando está diante de alguém que lhe inspira temor, o guerreiro se lembra: o outro tem as mesmas inseguranças que ele. Passou por obstáculos parecidos, viveu os mesmos problemas.
Então o guerreiro utiliza o medo como motor, e não como um freio.
Conversando com o Mal
Às vezes o Mal persegue o guerreiro. Então, com tranqüilidade, ele o convida para a sua tenda.
O guerreiro pergunta ao Mal: “você quer me ferir, ou me usar para ferir os outros?”
O Mal finge não ouvir. Diz que conhece as trevas da alma do guerreiro. Toca em feridas não cicatrizadas, e clama vingança. Lembra que conhece algumas armadilhas e venenos sutis que o ajudarão a destruir seus inimigos.
O guerreiro da luz escuta. Se o Mal se distrai, ele faz com que retome a conversa, e pede detalhes de todos seus projetos.
Depois de ouvir tudo, levanta-se e vai embora. O Mal falou tanto, está tão cansado e tão vazio, que não conseguirá acompanhá-lo. 
Prestando atenção
O guerreiro da luz conhece o silêncio que antecipa  o combate importante.
E este silêncio parece dizer: “as coisas pararam. É melhor divertir-se um pouco”.
Os combatentes sem experiência largam suas armas neste momento, e queixam-se do tédio.
O guerreiro está atento ao silêncio; em algum lugar, algo está acontecendo. Ele sabe  que os terremotos destruidores chegam sem aviso. Já caminhou por florestas  durante a noite: quando os animais não fazem qualquer ruído, o perigo está próximo.
Enquanto os outros conversam, o guerreiro se adestra no manejo da espada, e presta atenção no horizonte.
Sabendo esperar
De vez em quando, o combate é interrompido. Não  adianta provocar a luta; é necessário ter paciência, esperar que as forças entrem novamente em choque.
No silêncio do campo de batalha, o guerreiro escuta as batidas de seu coração. Repara que está tenso. Que tem medo.
O guerreiro faz um balanço de sua vida; vê se a  espada está afiada, o coração satisfeito, a fé incendiando a alma. Sabe que a manutenção é tão importante quanto a ação.
Sempre tem algo faltando. E o guerreiro aproveita os momentos em que o tempo se detém, para equipar-se melhor.
Evitando ameaças
Toda vez que uma espada sai da bainha, precisa ser usada. Pode servir para abrir um caminho, ajudar alguém, ou afastar o perigo – mas uma espada é caprichosa, e não gosta de ver sua lâmina exposta sem razão.
Por isso, um guerreiro jamais faz ameaças. Ele pode atacar, defender-se, ou fugir; qualquer uma destas atitudes faz parte do combate.
O que não faz parte do combate é desperdiçar a força de um golpe, falando sobre ele.
Um  guerreiro está sempre atento aos movimentos de sua espada. Mas não pode esquecer que a espada também presta atenção aos seus movimentos.
Ela não foi feita para ser usada com a boca.
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