Vicente Estevam
Repórter de Esportes
Membro da bancada da bola na Assembleia Legislativa, o deputado Poti Júnior se mostra contrário a construção de um novo estádio na ziona Norte, porque acredita que não haverá tempo hábil para vencer a burocracia e promover a inauguração da nova praça esportiva antes de 2014. Como existe urgência na necessidade de América e Alecrim, Poti acredita que em relação ao clube esmeraldino, como a rivalidade contra o ABC não é das maiores, os alecrinenses poderão sim mandar parte dos seus jogos em 2012 no Frasqueirão. Quanto aos americanos não restará outra alternativa que não seja continuar mandando seus jogos em Goianinha até que a Arena das Dunas seja finalizada. Ele disse ainda que os dois clubes vão pagar para jogar no estádio da Copa do Mundo o mesmo que pagavam para usar o Machadão subsidiados pelo governo do RN. Com relação ao dinheiro arrecadado com a venda da área onde hoje se encontra o estádio Juvenal Lamartine, o deputado defende que ele seja revertido para construção de um centro de excelência de preparação para atletas olímpicos. Nessa entrevista à TRIBUNA do NORTE o desportista fala abertamente sobre vários temas. 
Poti, você surgiu com uma proposta diferente em relação à permuta do Juvenal Lamartine, como pretende convencer o governo de que essa seria a melhor alternativa?
O dinheiro que vier a ser apurado com a venda do Juvenal Lamartine deve ser revertido para o esporte, no meu entender. Dentre tantas propostas surgidas eu também ousei fazer a minha. Acho que o esporte merece uma atenção especial por parte dos nossos governantes, o momento, às véspera da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, sugere que façamos algo mais profundo vinculando também ao setor educacional. Minha ideia é pegar o dinheiro resultante do JL e investir na construção de um complexo esportivo de excelência para formar atletas de alto nível. A identificação desses atleta ocorreriam nas escolas através dos professores de Educação Física, identificadas as crianças, as mesmas seriam estimuladas a praticar o esporte para o qual possuem aptidão.
Como funcionaria o sistema após o descobrimento desses talentos?
Após a identificação desses alunos, eles seriam trazidos para esse centro que seria equipado com alojamentos, refeitórios e toda uma infraestrutura para cuidar bem dos alunos. Além disso, seriam pagas bolsa-atleta para os jovens que ficariam estudando na rede pública de ensino em Natal e dividiriam seu tempo entre o estudo e os treinamentos. Com isso, a gente além de criar uma política de estado para o esporte, estaríamos formando uma geração de campeões distanciados do uso da bebida e das drogas. Combateríamos a droga através da educação e do esporte, realmente espero que a governadora Rosalba Ciarlini se mostre sensível a essa proposta. Nós estamos através de alguns amigos da área elaborando o projeto para apresentá-lo ao governo e a sociedade potiguar, acho muito importante que uma providência dessa natureza seja realizada com apoio governamental. O projeto é muito amplo e também pode contar com o apoio da iniciativa privada. Acredito que seria uma revolução em termos esportivos para o RN que passaria a ser uma referência na área esportiva para todo o Brasil.
Esse projeto só se contemplaria com a venda do JL ou poderia advir de outras fontes de recursos do governo?
Pode ser realizado independente da venda do JL, é uma questão de prioridade do governo. Nós falamos em relação ao Juvenal Lamartine, inicialmente, por se tratar de uma área de esporte que será colocada a venda e nada mais justo, na minha visão, do que ver esse dinheiro investido na pasta do esporte. Mas como se trata de um projeto grandioso é natural que o governo independente da venda do JL tenha de arcar com recursos para manutenção, bem como buscar por parceiros para tocar o projeto.
Esse modelo tem muito do modelo cubano, isso é proposital?
Acho Cuba um país vitorioso na área esportiva, acredito que seja bom se aplicar aqui algumas ideias colocadas em prática por lá, mas o modelo do RN respeitaria as nossas peculiaridades. Porém sem dúvida alguma devemos render homenagem ao que ocorre em Cuba, que se mostra como uma potência esportiva, porém acredito que o nosso potencial de formação de atleta é maior e temos capacidade de superá-los também nessa área, não podemos comparar as duas dimensões e realizando investimentos em complexos de excelência esportiva será natural obtermos essa supremacia pelo poderio que o Brasil possui.
Até que ponto esse seu projeto-conceito, não irá se confundir com a concepção do Caic Esportivo?
O Caic foi uma boa ideia, mas não avançou. Foi um projeto concebido pelo governo federal para todo Brasil que enfrentou alguns impedimentos, a coisa não fluiu direito. No nosso projeto, como teríamos uma participação maior do governo estadual, podendo ocorrer parceria com o governo federal através de seus programas de incentivo ao esporte, bem como a participação da iniciativa privada, a minha expectativa é que a coisa possa prosperar e que o RN passe a ser uma referência nessa área.
Qual a sua opinião sobre o projeto do governo Rosalba construir um estádio na zona Norte? Poti acredita haver tempo hábil para socorrer América e Alecrim?
A burocracia é muito grande, se nós vendermos o JL, não será uma venda imediata. Então até que esse processo ocorra para depois se iniciar um projeto de licitação para construção de um novo estádio, acredito eu de que esse novo estádio só seria concluído após a entrega da Arena das Dunas, programado para ocorrer em dezembro de 2013. Assim o novo JL se mostra uma construção desnecessária, até pelo fato de o América já estar se programando para construção do seu próprio estádio. Nessa ótica fica comprovado a falta de necessidade de uma quarta praça de esportes em nossa cidade.
Como deputado, desportista e vice-presidente do ABC, o que você poderia propor para socorrer América e Alecrim?
Realmente há essa dificuldade. Se fosse possível entregar o novo JL em 2012 eu seria favorável a essa ideia, só que 2011 está indo embora e nem se quer temos ideia de quando a construção desse novo estádio seria iniciada. Acho que no próximo ano, os dois clubes podem inclusive tentar usar o Fraqueirão, principalmente o Alecrim e dependendo de uma conversa, eu não sou contra. Com o América é diferente porque houve a condução errada da situação,a rivalidade com o ABC é grande e apesar de não ser contra ver o rival jogando em nosso estádio, acho que a coisa ficou tão acirrada que deixou essa utilização inviável. Acredito que o América deve mesmo continuar usando o estádio de Goianinha em 2012, o Alecrim, como a rivalidade é bem menos acirrada com o ABC, não temos nada a opor, porém precisamos conversar.
Como você tem de zelar pelo melhor para o ABC, a diretoria já imagina a realização de um América x ABC no Nazarenão. Teria condição de jogo lá?
Marcado o jogo pela FNF o ABC joga sem problema, até mesmo porque entendemos que se trata de uma situação emergêncial, que será resolvida num futuro próximo, mas o momento exige isso e jogaremos sem problema.
Gostaria de saber sua opinião sobre a Copa do Mundo em Natal?
É um investimento que terá retorno, se fala muito no gastos que estão sendo realizados para trazer o evento, mas se formos encarar pelo lado da incrementação do turismo, a mídia espontânea e mundial, os projetos de mobilidade urbana que vão ficar na cidade, a questão da saúde que terá um investimento maior, veremos que será vantajoso.
Parte desses investimentos em melhoria na mobilidade urbana estão ameaçados devido ao problema nas contas da Prefeitura do Natal, ela está enfrentando dificuldades para liberar recursos federais, isso lhe traz alguma preocupação?
Espero que a situação seja solucionada, caso não seja a alternativa seriam os convênios federais destinados ao Município serem repassados para alçada do governo estadual. A questão do prazo sabemos que tendo dinheiro as obras costumam andar mais rápido, se os recursos existem e a questão é voltada para 2014 acredito que os projetos possam ser agilizados sem prejuízo para imagem de Natal.
Com esse otimismo em relação aos projetos da nossa cidade, você acredita que Natal será uma sede de que porte em 2014?
Nossa cidade irá sediar quatro partidas e só teremos uma dimensão disso após a divulgação da tabela. Mas esperamos que nossa cidade por ser um local agradável, de praias e com um povo acolhedor possar ser um dos destaques dessa Copa realizada no Brasil. Torço para que consigamos nos fortalecer cada vez mais e que deixemos uma boa impressão para aqueles que vierem nos visitar.
Quanto ao aeroporto de São Gonçalo, você está otimista ou pessimista. Ele ficará pronto para Copa?
Estou otimista, o grupo vencedor só terá o retorno do empreendimento caso o terminal esteja em operação nesse período. O desejo dos investidores é inaugurar esse novo aeroporto antes da realização do Mundial, eles colocaram isso como um desafio, estão correndo contra o tempo por se tratar de um projeto grandioso, tem a questão dos acessos que depende do governo e a obra ficando pronta antes da Copa do Mundo, sem dúvida, será mais um atrativo para fortalecer o nome de Natal.
O Governo não estaria investindo alto demais na construção de um estádio para Copa do Mundo?
Essa questão de valor depende muito do projeto de cada estádio, como tivemos de derrubar o Machadão e o Machadinho para construção de um novo estádio, eu vejo que o valor, apesar de não ter o conhecimento técnico, esteja compatível com o tamanho da obra até mesmo porque existe uma grande fiscalização em cima dessas obras do Ministério Público e da sociedade organizada. Esperamos que esse investimento que realmente é alto, possa dar o retorno desejado ao nosso estado.
Como o desportista Poti Júnior encarou a demolição do Machadão?
A gente sente saudade dos grandes momentos, mas era necessário. Foi o preço que tivemos de pagar para realização da Copa do Mundo em Natal. Mas a história ficará registrada, deveremos ter um museu contando essa época na Arena das Dunas.
Em se tratando de um projeto moderno, a Arena das Dunas não terá um aluguel muito caro para os nossos clubes?
Eu vi num edital do Governo do Estado, enviado aqui para Assembleia Legislativa, destacando que o aluguel da Arena das Dunas terá o mesmo valor que os clubes pagavam para abrir o Machadão. Isso nos deixa bastante tranquilo. Se fosse para colocar preços exorbitantes os nossos clubes não teriam condições de pagar e não teríamos jogos nessa nova praça. Os mesmos percentuais estipulados antes do advento da Arena das Dunas, serão cobrados depois que ela estiver em atividade.
Sabemos que abrir a Arena será bem mais caro do aquilo que era pago para se abrir o Machadão. Quem vai pagar o restante dessa conta?
A obra se trata de uma Parceria Público-Privada, então na hora em que se começar a pagar as prestações do empréstimo, se não for arrecadado o valor total desse produto através de aluguéis, o governo do estado terá a responsabilidade de cobrir. Inclusive passou uma matéria na Assembleia, onde o governo colocou como garantia os seus royalties do petróleo, dando todas as garantias. Isso não irá prejudicar os clubes.
Essa questão de utilização dos royalties como garantia desse negócio conta com a sua simpatia?
Não, mas ou a gente aprovava ou não teria construção do estádio e não teríamos Copa em Natal. Não havia outra escolha, mas esperamos que a providência tenha sido tomada para o bem do RN, quem sabe trazendo até mais retorno ao investimento que está sendo realizado fazendo com que o governo nem necessite abrir mão de parte dos seus royalties.
A Fifa está realizando uma série de exigência e não deseja contemplar a meia-entrada para estudantes, qual sua opinião sobre isso?
Em relação ao ingressos o que se deve ter são valores acessíveis à população, pois realizar uma Copa do Mundo em Natal e a nossa população não ter como comparecer aos jogos por falta de poder aquisitivo é triste. Defendo a existência de ingressos com preços populares.
E a meia-entrada para estudante, de que forma você se posiciona?
Trata-se de um evento especial, uma excepcionalidade e não sabemos se ocorrerá outra competição da mesma envergadura em nosso estado. Então é bom que se beneficie aos estudantes de uma forma que não se onere tanto aqueles que irão pagar a entrada inteira. Isso está sendo estudado excepcionalmente para este evento.
