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Filme

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Fiquei pensando, longamente, na frase de Sobreira, do seu novo romance – ‘O homem que passeava com gansos’, quando avisa: a infância nunca deixa a gente. É que não tive cinema na infância. Daí, quem sabe, o desamparo de não ter a fruição estética que invejo nos outros, se a eles, muito mais que a mim, restou a rica herança de conviver com grandes artistas. A pobreza tem muitos jeitos de chegar ou não chegar. Basta uma cena, um filme, um verso, uma canção. 
Lembro de uma entrevista com Newton Navarro, na sua casa de Nova Dimensão, onde morou um tempo. Estava viajando ao Rio para a exposição no Palácio Gustavo Capanema, o edifício concebido por Le Corbusier e Oscar Niemayer. Nunca pensei que anos depois, o azulão de asas encrespadas, e aquele pintassilgo que passeia manso sobre a linha do muro, pousariam aqui, se impressionaram ao poeta Carlos Drummond de Andrade, segundo notícias da época. 
Sim, como dizia, não tive um cinema na infância. Não guardei comigo o belo olhar de mormaço de Greta Garbo, as pernas de Marlene Dietrich, os beijos apaixonados de Débora Kerr e John Gilbert. A outros jovens meninos, quase rapazes, foi dado tanto, mas a mim foi como se o destino cortasse as mangas. E certamente por não merecê-las quando era mais justo e mais humano. Até hoje prefiro não procurá-los. Cada herói tem seu tempo de vida e de grande magia.  
Do que adiantaria guardá-los entre os algodões da alma se hoje essa alma de agora já não tem para com os heróis, do cinema e da vida, as mesmas carícias de ontem? Prefiro vê-los de longe, de vez em quando, sem dia certo. Não invejo os que colecionam e aprisionam na sala ou no quarto, onde for, aquelas caixas de dvds com os filmes. Nem condeno. Tenho aqui meus prisioneiros, os livros que juntei, por terem em suas páginas antigas as belas histórias de vida. 
Naquela noite, não lembro como, Navarro disse das cenas do cinema que gostava de lembrar para espantar a insônia, se insistia em deitar ao seu lado. E uma delas – lembro a cena, mas esqueci o filme – era o adeus de um homem na plataforma de uma estação de trem enquanto ela partia, lentamente, na janela que, ali, parecia andar como se fosse para nunca mais voltar. Um dia contei a Lenine Pinto, amigo de Navarro, e ele suspirou: ‘Ah, como é doce um adeus!”. 
Sim – pra que negar? – perdi os filmes. Ficaram as poucas cenas das histórias contadas principalmente pelos cronistas, e de quem, sem conhecê-los, só por desejo, me tornei amigo. Como aquele beijo na véspera do Natal. O cronista esperava no terraço a hora do jantar quando aquela mocinha saiu correndo da casa vizinha, com farda de copeira, para beijar seu namorado. Um motorista de caminhão que estacionou na frente e buzinou para chamá-la. Nunca esqueci.
ABSURDO – A ponte tem o nome de Newton Navarro por ser o maior artista plástico da cidade e por ter escrito dois livros sobre as duas margens: a Ribeira e a Redinha. Mudar é estupidez.
MAIS – Não bastasse ser o maior artista plástico da cidade com sua obra, só os precários, com a incultura e a insensibilidade que lhe são próprias, substituem a arte e a cultura pelo populismo. 
JUSTAS – Todas as homenagens à ex-governadora Wilma de Faria serão justas e merecidas, mas a “Ponte Newton Navarro” foi ela que decretou sobre uma corveta nas águas do Potengi.  
VOZES – Ainda há vozes nos corredores do pequeno mundo político dizendo que não há nada de definitivo nas candidaturas de Ezequiel Ferreira ao governo e de Carlos Eduardo, ao Senado.
RISCO – As chances são reais, dizem as mesmas vozes, mas a desistência de Ezequiel Ferreira traria graves danos à candidatura de Rogério Marinho ao Senado. Decisão só depois das cinzas.  
“HARDBALLING” – É o nome da nova tendência entre os jovens que buscam encontros via aplicativos. Significa ‘jogar pesado’. Ou seja: diga logo as suas intenções. Sem enrolação.  
ALIÁS – Em Londres e Nova Iorque, o quente é o ‘matches’. Acontece um dia por semana, vale tudo nas conversas e encontros amorosos daquele dia e 24 horas depois tudo é apagado. 
SONSAS – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, derramando ironia no tampo encardido da mesa: “Prefiro as sonsas. Elas sabem soltar nos olhos aquele sinal de esperança”. 
MACHADO – Vem ai um romance com a Viúva Machado como personagem central de uma história que se passa na Natal do século passado, entre o real e a ficção: ‘A Dona de Natal’. O autor é o escritor Kéber Kennedy Maia, um carteiro na vida real que é uma revelação literária.  
SACADA – A Assembleia vai patrocinar a edição de alguns clássicos literários da província, como ‘O Horto’, de Auta de Souza, e ‘Roseira Brava’, de Palmyra Wanderley. O plano editorial tem a supervisão editorial do Memorial da Assembleia dirigido pelo jornalista Aluízio Lacerda. 
HISTÓRIA – Por falar na Assembleia, Ezequiel Ferreira merece o elogio pelo gesto de adquirir e restaurar a casa na qual viveu o historiador Tavares de Lyra, na Junqueira Aires, ao lado da Capitania das Artes. Será a sede do Memorial, com uma réplica do Balão de Augusto Severo. 
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