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Quando um voto faz a diferença no segundo turno

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Ricardo Araújo – repórter

O resultado do segundo turno das eleições 2010 na cidade de Caiçara do Rio dos Ventos, foi, no mínimo, inusitado. Por apenas um voto de diferença, o candidato tucano José Serra venceu a petista Dilma Rousseff que, no primeiro turno, venceu na cidade com uma maioria de 771 votos. No município, opiniões se dividem quando o assunto é Dilma versus Serra. Coincidência, reflexo dos boatos contra a presidenta eleita, experiência do tucano em cargos públicos e questões políticas são apontados como diferenciais levados em consideração pelos eleitores no segundo turno que resultou na apertada vitória do ex-ministro da Saúde naquela cidade. A maioria dos eleitores de Dilma no município é proveniente de áreas rurais, cujo acesso a cidade é difícil. Eles esperavam que o veículo da prefeitura os levasse aos locais de votação, o que não ocorreu. Resultado: o índice de abstenção no segundo turno foi de 23,47% contra 10,25% no primeiro.

A religiosa Maria Barbosa exibe cartaz de Dilma; o estudante Joelison votou em Serra nos dois turnosCom a queda na arrecadação municipal via Fundo de Participação dos Municípios (FPM) agravada nos últimos meses e que, em Caiçara do Rio dos Ventos, culminou com a demissão de mais de 30 funcionários contratados e comissionados dias antes do segundo turno, o prefeito Edson Barbosa optou por não apoiar nenhum candidato após o dia 3 de outubro. “Faltou engajamento do nosso grupo na campanha durante o segundo turno. Me neutralizei devido à situação econômica da cidade”. O prefeito e a maioria dos funcionários públicos do município votaram em Dilma.

Aliado ao alto índice de abstenção confirmado pelo Tribunal Regional Eleitoral no dia 31 de outubro na cidade, os eleitores que anteriormente votavam em Dilma, migraram seus votos para Serra como forma de protesto pela redução do FPM repassado ao município pelo Governo Federal e pela demissão em massa dos trabalhadores contratados. “Votei em Serra como forma de protesto. Hoje faço jogo do bicho para manter minha família”, desabafa o desempregado José Ivanaldo Evaristo. Ele era funcionário da Secretaria de Esportes e foi demitido recentemente.

Alheia às razões pelas quais os demais munícipes escolheram Serra, a aposentada Maria Barbosa de Lima, 77 anos, exibia com orgulho o cartaz de Dilma na parede da sua casa. “Escolhi Dilma pelo apoio dado a ela pelo presidente Lula”. Ministra da Eucaristia e zeladora da Paróquia de São Sebastião, Barbosa (como é conhecida), afirma que os boatos  contra Dilma foram armadilhas da oposição. “Sou contra casamento gay e aborto, mas acredito que Dilma foi vítima de injustiça. Mesmo assim, ganhou”.

A vitória de Serra no município é passível de diversas interpretações. Muitos eleitores afirmam que, com o recuo do prefeito durante o segundo turno e a falta de transporte para conduzir os moradores das áreas rurais, eleitores de Dilma, o tucano foi privilegiado. De acordo com o vereador José Pires, mais da metade das pessoas que recebem auxílio do Governo Federal (Bolsa Escola e Bolsa Família) reside nas áreas rurais. “Quase 500 famílias no município sobrevivem diretamente do apoio do Governo Federal. Essas pessoas votaram em Dilma como forma de agradecimento ao Lula por tudo o que ele fez pelos mais pobres”.

Na contramão deste pensamento, está o estudante Joelison Vitor, 16 anos. Convencido da inexperiência como gestora da então candidata Dilma Rousseff, ele votou em José Serra nos dois turnos. “Dilma nunca foi nem vereadora, como uma pessoa dessas tem experiência política?”. Da sua família, ele foi o único a votar no tucano. Joelison acrescenta que os boatos que surgiram contra Dilma nos últimos dias da campanha, o conscientizaram mais ainda de que Serra era o melhor para o Brasil.

“Pela sua experiência política achei que Serra estivesse mais preparado. Espero que Dilma cumpra com o que ela prometeu, se fizer meu próximo voto será dela”, disse o estudante.

Finanças da prefeitura são críticas

 Com uma população de 3.292 habitantes, segundo dados do Censo 2010, a base da economia em Caiçara do Rio dos Ventos é o funcionalismo público e a aposentadoria dos idosos residentes na cidade e áreas urbanas próximas. A única empresa situada na região produz bolachas artesanalmente e emprega apenas 10 pessoas. Com a redução do repasse do FPM nos últimos três anos, a cidade vive um momento de crise financeira.

 Visando reduzir gastos com folha de pagamento e honrar com os credores do município, o atual prefeito, Edson Barbosa, reduziu os salários do secretariado e afirmou que irá exonerá-los até o final do ano. Ao todo, serão sete secretários que perderão seus mandatos até, pelo menos, março de 2011. “Pretendo enxugar a máquina e efetuar o pagamento dos nossos prestadores de serviços que estão atrasados”. O prefeito comenta, ainda, que nem todos os secretários serão reconvocados no ano que vem.

 De 2008 ao terceiro trimestre de 2010, o município sofreu a redução de R$ 263 mil em repasses do Governo Federal e Estadual. “Para que nenhum dos serviços do município fosse prejudicado, precisaríamos arrecadar cerca de R$ 700 mil/mês”, afirma o prefeito.

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