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Descrédito das instituições políticas favorece candidaturas inusitadas

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O professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, João Emanuel Evangelista, avalia que o descrédito dos políticos e das instituições favorece o surgimento de candidatos que apelam ao ridículo. Doutor em Ciência Política,  ele afirma que, historicamente, essa estratégia, muitas vezes, não dá resultados. “Apesar de divertir alguns segmentos, esses candidatos, em geral, não obtêm sucesso eleitoral”, diz.  O cientista político também aponta a fragilidade dos partidos como um fator que incentiva esse tipo de candidatura. Veja, abaixo, a entrevista na qual João Emanuel analisa essas campanhas e a propaganda eleitoral gratuita.
entrevista/João Emanuel Evangelista /cientista político
Nas eleições proporcionais, muitas siglas lançam “puxadores de votos” para aumentar suas bancadas, e investir em nomes engraçados e fáceis de se decorar. Como o senhor vê essa estratégia?
No sistema politico brasileiro, os partidos políticos, com raras exceções, são relativamente frágeis. É muito comum a existência de políticos que usam as siglas partidárias, sobretudo os chamados partidos “nanicos”, como moeda de troca. Outro fenômeno que está associado a isto é a força das lideranças que se sobrepõem aos partidos. Isso acontece porque o sistema político não está baseado na força eleitoral dos partidos políticos, mas sobretudo na força eleitoral das suas lideranças, que atuam como verdadeiros “donos” das máquinas partidárias. A grande maioria dos eleitores não vota nos partidos, mas em pessoas. Como predomina o personalismo, os partidos políticos estimulam e procuram candidatos, principalmente, na disputa para os cargos parlamentares, que sejam por qualquer motivo mais conhecidos do público e, com isso, possam se tornar potenciais puxadores de voto.

Lançar “candidatos engraçados” não termina por reduzir o debate político?
Esse tipo de candidato somente existe pelo descrédito generalizado da sociedade em relação aos políticos e às instituições políticas. Apesar de divertir alguns segmentos sociais, esses candidatos, em geral, não obtêm sucesso eleitoral. Apenas excepcionalmente, esse tipo de candidato consegue um desempenho eleitoral expressivo. Do total dos candidatos a vereador, há um número pequeno desses candidatos que constituem tipos cômicos ou procuram se destacar dos demais pela comédia representada na propaganda eleitoral na televisão. Todavia, nas eleições para prefeito de Natal em 2004, tivemos o “fenômeno Miguel Mossoró”, que começou como uma brincadeira ou um deboche de setores da classe média e se transformou em surpresa eleitoral, superando, inclusive, a votação obtida por lideranças políticas expressivas da política potiguar. Contudo, nas eleições seguintes, esse mesmo candidato recebeu uma pequena votação, demonstrando que não possuía uma base eleitoral consolidada.   

A política está desgastada com os políticos de carreira. A tendência é que esses candidatos que adotam nomes fantasiosos tenham receptividade da população? Os apelidos podem funcionar nas urnas?
A crise da representação política é um fenômeno mundial nos países democráticos contemporâneos e que possui múltiplas causas. O fato de se adotar um nome fantasioso ou um apelido não dá nenhuma garantia que um candidato terá sucesso eleitoral. No Brasil, temos o exemplo de uma das maiores lideranças da história política nacional, que ganhou projeção internacional, representado pelo ex-presidente Lula, que incorporou o apelido ao seu nome. Neste caso o apelido virou uma marca política que lhe estava associada desde o início da sua trajetória como liderança no movimento sindical e nos movimentos sociais e, depois, como liderança partidária. Todavia, são inúmeros os casos de candidatos que tentam, sem sucesso, usar apelidos para ingressar na política e continuam no anonimato.

O senhor acredita que o voto de protesto e voto consciente podem se combinar?
O “voto consciente” é uma expressão muito ambígua. As ações humanas, inclusive o ato de votar, sempre estão orientadas por algum nível de consciência. A decisão do voto é um fenômeno que combina motivações muito variadas e, às vezes, contraditórias. O eleitor que vota a partir de uma análise sistemática, racional e fria das propostas dos candidatos é uma exceção, mesmo entre os eleitores com níveis mais elevados de escolarização. O voto de protesto pode existir isoladamente ou em combinação com o voto ideológico, como é o caso do voto em candidatos de partidos políticos de esquerda.

O senhor tem visto os programas eleitorais? Como avalia?
Os programas da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão adquiriram, de uma maneira geral, um elevado nível técnico no Brasil. Nestas eleições para prefeito de Natal, temos uma situação rara de candidatos com alta qualificação técnica e preparo político. Mesmo os candidatos dos pequenos partidos de esquerda apresentam destacada qualificação profissional mas terão dificuldades financeiras para fazer a propaganda eleitoral e a campanha que são muito caras. Assim, os eleitores natalenses terão a oportunidade para acompanhar uma campanha eleitoral que poderá discutir os problemas da cidade e da população e comparar diferentes projetos políticos para o futuro da nossa capital. A propaganda eleitoral está ainda no seu início. No quadro atual, uma das disputas mais importantes acontecerá entre os candidatos que tentam ocupar a posição de principal concorrente em relação a Carlos Eduardo, que é o líder nas pesquisas eleitorais. Como a campanha eleitoral começou de fato, nesta semana, com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, ainda não se sabe se as tendências detectadas pelas pesquisas serão consolidadas ou sofrerão mudanças. É muito cedo para fazer algum prognóstico se a eleição será resolvida no primeiro turno ou se haverá um candidato que polarize com o líder e obtenha votos suficientes para levar a disputa ao segundo turno.

O que o senhor recomenda ao eleitor indeciso?
O eleitor é soberano na democracia. O que posso fazer é dar algumas sugestões. Como diz a sabedoria popular, ‘dizes com quem anda que direi quem és’. Esse é um bom ponto de partida. Analise quais são os partidos e as lideranças políticas que apoiam os diferentes candidatos. Procure conhecer a história e as propostas dos candidatos. O horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão fornece muitas informações importantes sobre os candidatos, suas propostas de programa de governo e suas proposta de atuação parlamentar, além dos seus aliados e apoiadores. Desconfie do candidato que promete fazer coisas e não demonstra como vai obter os recursos e qual será a fonte de recursos para a execução das promessas de campanha. Avalie se o candidato conhece de fato os problemas da população e propõe ações concretas para melhorar a vida da população. Veja se algum deles enriqueceu através da política e se está envolvido em denúncias de corrupção. Essas são apenas indicações para ajudar o eleitor a tomar a sua decisão em quem irá votar para prefeito e para vereador nessas eleições.

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