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1979, ano do absurdo no Brasileirão

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Everaldo Lopes – Repórter e Pesquisador

O primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol, ainda denominado de Campeonato Nacional disputado em 1971, tinha  20 clubes e uma única Série, sem as divisões de hoje “A”, “B” e “C”. Os 20 contemplados eram Corinthians, Cruzeiro,  Inter, Coritiba, Palmeiras, Vasco, Santa Cruz, Fluminense, Portuguesa, Ceará, Grêmio, Atlético Mineiro, América/RJ, Santos, Botafogo, São Paulo, Bahia, Flamengo, América Mineiro e Sport Recife. O primeiro campeão foi o Atlético Mineiro, com 34 pontos, vice o São Paulo com 30, tendo como artilheiro Dario, o Dadá Beija Flor, camisa nove, do próprio Atlético, com 15 gols, e também o autor do gol da vitória frente o Tricolor do Morumbi.

Sem a experiência e a força de hoje, a CBF começou a ceder aos apelos de políticos com prestígio, logo no segundo ano do Brasileirão, e a prova é que o total de clubes simplesmente dobrou, passando de 20 para 40 em 1972,  incluindo aí o representante do RN, o ABC FC, campeão daquele ano. Se, em 71 havia apenas clubes considerados grandes (ou quase isso), em 72 entraram Sergipe, Moto, Paysandu, CRB, Figueirense,   ABC FC, CEUB (extinto), Olaria, Remo, Nacional/AM, Tiradentes/PI, Guarany/SP, e vai por aí. A politica partidária  entrou em ação, com os governadores estaduais cada um lutando para incluir um clube do seu estado.

O detalhe curioso é que a CBF  tinha medo do fracasso técnico dos clubes menores, e a prova é que não havia, rigorosamente,  os jogos de ida e volta, mas apenas duas a três partidas do “pequeno” no campo do adversário (este também de igual nível técnico). As arrecadações eram divididas, na base de 40% para  o perdedor, 60% para o ganhador, ou divisão de 50% em caso de empate. Assim é que, no ano da sua estréia o ABC fez apenas duas partidas fora do  estádio de Lagoa Nova. Enfrentou o Sergipe em Aracaju (e ganhou) e o Ceará no Plácido Castelo, perdendo  por 1×0.

A partir daí, a CBF a cada campeonato mais inchava o número de clubes, sendo encontrada a solução para reduzir os gastos com tantas viagens de avião, adotando o sistema de grupos. A “madrasta” conseguiu a proeza de manter os mesmos 40 clubes em 74, alterando apenas os representantes, que variavam conforme seus méritos técnicos. De 1974 para 75, a CBF apenas acrescentou mais dois clubes, apesar dos muitos pedidos de padrinhos governadores estaduais. O pior, entretanto, estava para vir: foi em 1979, quando a CBF teve na presidência o almirante de pijama, Heleno Nunes, membro da Arena (Aliança Renovadora Nacional), não tendo como fugir dos pedidos feitos por governadores daquela aliança. Havia políticos da Arena e do MDB.

O resultado foi desastroso: um recorde mundial, um campeonato nacional em uma só divisão com 94 participantes, distribuídos em oito grupos. A pulverização foi tamanha que a decisão aconteceu com quatro grupos de quatro clubes, até chegar na grande final reunindo Vasco e Internacional. O Inter ganhou as duas: 1×0 e 2×1. Tão forte era o time colorado, que chegou a passar 23 jogos sem derrota.

Para que o leitor tire suas conclusões, do grupo de “elite” faziam parte equipes sem maior expressão, como  Guará/DF, lanterna absoluto, Chapecoense/, Rio Negro/AM, Tiradentes/PI, Colatina/ES,  Operário/MT, Piaui, Fast/PA, Rio Branco/ES, Itumbiara, XV de Piracicaba/SP,Americano/Campos, ASA/Arapiraca, Goitacaz/RJ, Itabaiana, Leônico/BA Maranhão, Comercial/MT, entre outros. Do RN, participaram América, ABC e Potiguar/M. Estranhamente, o Sport Recife ficou em 91ºlugar,  quase o lanterna entre 94 equipes…

Numa competição tão pulverizada, as goleadas seriam inevitáveis. Eis algumas: Cruzeiro 6×0 Ceará, Flamengo 7×0 Santa Cruz, Flamengo 6×0 Botafogo/RJ, São Paulo 6×0 Sergipe, Colorado 6×0 América/SP, Flamengo 6×1 Palmeiras, Corinthians 5×0 Vitória/BA, Corinthians 5×0 Grêmio/RS, Flamengo 8×0 Fortaleza, Inter 5×0 Fortaleza, Vitória 8×1 América/RN, Atlético/PR 5×0 ABC, Vasco 9×0 Tuna, Guarani/SP 8×1 Ceará,  Guarani/SP 8×0 River/PI, Vasco 6×0 Operário/MT, Inter 5×0 Cruzeiro, Santos 5×0 Cruzeiro.

Vendo que seria ridículo e difícil um campeonato com quase 100 clubes, a CBF encontrou a solução criando as taças de prata e de ouro e, posteriormente, os grupos ”A” e “B” e, posteriormente, a “C”. Entre uma decisão de mudar, e outra, aconteceram  a Repescagem e os módulos de várias cores, até chegar ao Brasileirão por pontos corridos, pondo fim à bagunça.

Entre 1971 e 2008, quando foram disputados 36 campeonatos porque em 2000 a CBF promoveu a Copa João Havelange por conta de uma briga jurídica com o Gama, não cedendo aos caprichos do clube Nesse 37 anos, de João Havelange a Ricardo Teixeira, a CBF teve na presidência Giulite Coutinho, Otávio Pinto Guimarães, Heleno Nunes, Nabi Abi Chedid (interinamente) e Ricardo Teixeira, este  chegando já aos 15 anos no cargo.

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