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2020: um ano sem festejos juninos

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Luiz Henrique Gomes
Repórter
Ao meio-dia deste sábado (6) a tradicional festa mossoroense Pingo da Mei Dia aconteceu. Mas não como nos anos anteriores, com milhares de pessoas nas ruas de Mossoró durante 10 horas de programação oficial. O Pingo da Mei Dia deste ano aconteceu através de uma transmissão digital ao vivo – as chamadas lives, que se tornaram a principal subsistência dos músicos em todo Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. A festa alterou o formato para respeitar as medidas sanitárias em vigor em todo Rio Grande do Norte, mas não deixou de acontecer. E não foi a única. 
Zé Pindoba, como é conhecido no meio junino, organiza o Arraiá do Brilho Matuto. Com as proibições de festas, no início de maio, criou o programa online Pinga com Pindoba e transmite toda quarta-feira
#SAIBAMAIS#Neste ano, o São João, proibido pela maioria das prefeituras potiguares desde março, precisou se reinventar para sobreviver à atual pandemia do novo coronavírus.
A iniciativa de realizar a live do Pingo da Mei Dia foi dos artistas Renata Falcão e André Luvi, ambos de Mossoró e atrações de edições anteriores do Pingo. O objetivo foi manter a festa viva no calendário da cidade – e, consequentemente, fortalecer a sua tradição -, mas também ser uma alternativa financeira para os artistas que estão parados durante a pandemia. A edição deste sábado contou com seis atrações oficiais, todas de Mossoró, e mais a participação de outros artistas durante 10h de live, o tempo de duração padrão da festa. Mais de 50 profissionais envolvidos no evento foram beneficiados com as doações, que podiam ser feitas durante a live através de um QR Code colocado no canto da tela.
O músico André Luvi conversou com a reportagem na última sexta-feira, 5, antes do evento ser realizado, sobre a iniciativa. “A ideia surgiu no início de maio a partir do sucesso das lives. Eu comecei a conversar com algumas pessoas e soube que a Renata Falcão também pensava a mesma coisa. Começamos a organizar a partir daí, dentro de um grupo que temos chamado “ideias na quarentena” porque todos nós, artistas, fomos muito afetados e precisamos nos reinventar. Procuramos a prefeitura de Mossoró, que cedeu a marca, e conseguimos organizar a festa”, contou.
Sem apoio financeiro da prefeitura, Luvi e Falcão procuraram empresas para patrocinar o evento. Os dois já realizaram transmissões ao vivo durante a pandemia e tinham os contatos necessários para conseguir toda a estrutura. Luvi não soube dizer precisamente o número de empresas que apoiaram o Pingo Online, mas disse que passa de uma dezena.
Adaptações da cultura junina à atual pandemia não se restringem aos músicos. Em Natal, os diversos organizadores de quadrilhas juninas também fazem as transmissões ao vivo. A maioria das transmissões, entretanto, tem um caráter diferente dos shows musicais – o que reflete a desigualdade de recursos entre as duas manifestações culturais. “Minha ideia é somente não deixar a tradição das quadrilhas juninas morrer. É sempre falar sobre a história, manter a conexão entre os participantes”, explicou Severino Fernando Marinho, o Fernandinho Zé Pindoba.
Zé Pindoba, como é conhecido no meio junino, organiza o Arraiá do Brilho Matuto e no início de maio criou um programa chamado Pinga com Pindoba. Todas as quarta-feiras, Fernando liga a câmera do celular e transmite o programa. Ex e atuais participantes dos arraiás participam da conversa para relembrar as quadrilhas juninas.  “Não sobrevivo de quadrilha junina, mas tenho uma paixão muito grande por elas. Ela me levou para fora do caminho do crime, que eu quase escolhi quando tinha 17 anos, ano em que comecei a participar das quadrilhas. Tenho uma gratidão muito grande por causa disso e as lives é uma forma de manter essa conexão”, afirmou o organizador de 42 anos, que trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma escola pública do bairro Lagoa Azul, na zona Norte de Natal, onde mora.
Em 1994, os pais de Severino Fernando faleceram em um intervalo de três meses. Severino tinha 17 anos e passou a morar com os “padrinhos de fogueira” – uma forma de batizado no meio junino -, que eram os organizadores do Arraiá Balança Saia, que ele participava. Desde então, ficou de fora dos festejos juninos apenas uma vez, em 2009, por causa de um trabalho a noite em um hotel. “Sai do hotel no ano seguinte para voltar às quadrilhas juninas”, contou à reportagem. No dia 24 de março deste ano, quando a prefeitura de Natal anunciou o cancelamento do São João, onde acontece o campeonato de quadrilhas juninas, Severino se sentiu “nocauteado”. “Foi um verdadeiro baque porque estávamos num trabalho muito belo, assim como o restante das quadrilhas.”
Para o músico André Luvi, o nocaute atingiu fortemente todos que trabalham com a cultura. “Trabalhamos com aglomerações. Ou seja, fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltarem”, disse. As lives são uma alternativa para os artistas – financeiramente ou como meio de manifestação cultural -, mas todos se sentem ansiosos para voltar aos palcos. “Vamos ver se organizamos, com rifas, pelo menos, para no ano que vem fazer uma festa linda”, concluiu Severino Fernando, ou melhor, Zé Pindoba.
O que dizem os decretos sobre os festejos juninos?

Estado
O decreto estadual publicado na quarta-feira, 4, proíbe quaisquer atos que configurem festejos juninos no Rio Grande do Norte, incluindo fogueiras e fogos de artifício. O objetivo é diminuir ocorrências de queimaduras e de síndromes respiratórias nos serviços de saúde públicos e privados.
Município de Natal
Uma lei que proíbe as fogueiras durante o período junino foi aprovada na terça-feira, 2, pela Câmara Municipal de Natal. O objetivo é semelhante à proibição estadual: evitar ocorrências de queimaduras e de síndromes respiratórias nos serviços de saúde. As síndromes respiratórias podem ser causadas por diversos vírus, incluindo o novo coronavírus. As fogueiras trazem os riscos de piorar essa incidência.
Município de Mossoró
A programação oficial do São João de Mossoró foi cancelada no dia 23 de março, data em que a prefeitura publicou no Jornal Oficial do Município (JOM) o decreto de calamidade devido à pandemia do novo coronavírus.
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