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43 mil pessoas querem adotar

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As crianças com maior dificuldade de serem adotadas são as negras, pardas, que sofrem de deficiências mentais ou de doenças como a AIDS. Os dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) mostram que, nesses casos, menos da metade dos 43 mil brasileiros cadastrados como pretendentes aceitam adotá-los.
Madson, 11, prefere futsal e artes marciais
Madson, 11, prefere futsal e artes marciais

#SAIBAMAIS#Em relação a raça, 20.252 pessoas (46,8%) declararam não aceitar crianças negras, e 20.912 (47,8%) não aceitam indígenas. São 1.514 crianças e adolescentes do primeiro grupo disponíveis para a adoção no Brasil, e apenas 24 no segundo.  A menor taxa de rejeição são em relação as crianças brancas: somente 3.410 pessoas declararam não aceitar esse perfil.

Os índices de pretendentes que aceitam crianças com doenças ou deficiências são ainda menores. Somente 1.452 afirmaram ter disposição para adotar crianças com deficiência mental, 2 mil para adotar crianças com HIV e 2.679 para crianças com deficiência física. Nacionalmente, 4.584 crianças fazem parte de algum desses grupos.

Não há estatísticas do perfil pretendido pelos cadastrados do Rio Grande do Norte, mas, segundo o juiz José Dantas, da Vara da Infância, a raça mais pretendida para a adoção também são de crianças brancas e a rejeição contra deficientes ou doentes também existe. “É algo que nós estamos tentando mudar com as campanhas de conscientização. É um processo. Hoje, é mais aceitável do que antes, mas ainda é uma situação muito delicada”, declarou.

O CNA também possibilita que pessoas de outros países se cadastrem para a adoção no Brasil, e, em relação aos estrangeiros, os relatórios estatísticos mostram outra situação no que diz respeito a raça. De 262 pretendentes internacionais, 248 (94,66%) aceitam a adoção de crianças negras e 244 (93,85%) de indígenas. Mas, em relação as deficiências e doenças, as taxas ainda são baixas: apenas 16 (6,15%) aceitam crianças com HIV, 30 (11,54%) deficiência física e outras 14 (5,38%) a deficiência mental.

A desembargadora Maria Zeneide Bezerra, que é responsável pelas adoções internacionais, afirma que os estrangeiros possuem mais abertura para outros perfis. “Eles se apaixonam pelas crianças quando as veem. E esse preconceito sobre a cor ou a idade é menor”, afirmou. Recentemente, ela conta, uma das crianças incluídas no projeto Eu, Existo, negra e com a idade acima de seis anos, foi adotada por um casal de italianos. “E eles estão muito apaixonados. Isso é lindo de se ver”.

Apesar do cenário, Zeneide sente que há uma disposição das pessoas para ser mais aberto para os perfis das crianças. “A gente vê que há uma disposição de mudança, dessa transformação e vontade a partir do momento que a gente faz as palestras. Aquelas pessoas que pensavam em um perfil para a adoção, mudam um pouco a mentalidade. É muito gratificante ver isso”.

A chegada até os pretendentes internacionais acontece somente em último caso. Primeiro, a Justiça procura se há interessados no perfil das crianças no município, estado e país. “Acontece de dentro para fora. Conforme vai aparecendo interesse nesse caminho, a criança pode ou não ser adotada. Leva-se uma série de questões, não é só ser adequado ao perfil do pretendente. É preciso que ela se adapte”, explicou o juiz Dantas.

Eles querem uma família, amor e carinho

O olhar vivo e o riso de Isabelle, 11, evidencia a vontade de viver e a esperança no futuro comum às crianças da sua idade. Ela é uma das acolhidas na Casa de Acolhimento II, sob a jurisdição da Vara da Infância e da Juventude, e está disponível para a adoção. Desde bem pequena, mora na Casa e, quando pensa na vida em família, declara as suas maiores vontades: ir ao shopping, brincar e receber amor de uma mãe.

A história de Isabelle tem semelhanças com a de outras 40 crianças com idade acima de seis anos e que, portanto, têm mais dificuldade de encontrar famílias interessadas. Outro fator comum é o sonho declarado por eles de encontrar uma família e, principalmente, ter o carinho materno. Segundo o juiz José Dantas, muitos deles chegam nas Casas porque são abandonados pelos pais quando recém-nascidos ou são destituídos da família por meio da Justiça por fatores como negligência, risco à vida e violência doméstica.

Sob a responsabilidade de cuidadoras, as crianças e adolescentes passam a receber atendimento psicoterapêutico nas Casas e são inseridas na escola. “Na Casa, elas fazem tudo que fazem na escola”, diz o juiz, mas com a ressalva da preparação para a vida após os 18, caso não sejam adotados. “É algo que ainda precisa melhorar e alguns projetos olham isso, mas, sim, é preciso ir além”.

Diante das semelhanças das histórias, as particularidades se sobressaem.  Isabelle, por exemplo, gosta de natação por um simples fator: “tem piscina!”. Madson, da mesma idade e que convive na mesma Casa, prefere futsal e artes marciais. Na verdade, diz o menino, “eu gosto de tudo”. Com vídeos gravados pelo projeto Eu, Existo, a esperança dos dois de compartilharem esses prazeres com a família cresce.

Durante a convivência no local, um fator comum é o vínculo forte entre cuidadoras e as crianças. Muitas, quando não são adotadas por pretendentes, acabam sendo acolhidas depois dos 18 anos por esses profissionais, que, às vezes, estão há anos ao lado. “Nós temos exemplos de profissionais que adotaram mais de cinco adolescentes, para permanecerem juntos”, continua Dantas.

Apesar de ainda não ter se concretizado, Samara, de 16 anos, pode ter esse destino e ficar com uma das profissionais responsáveis pelo local onde ela mora, a Casa de Acolhimento III – destinado para os mais velhos. A história da adolescente ganhou um contorno a mais há um ano e dez meses, quando Safira, sua primeira filha, nasceu. Samara só pode ser adotada somente junto com a menina. “Ela é tudo para mim”, declara a adolescente. “Eu imagino uma família que só dê carinho e amor para mim e para a minha filha, e que sempre esteja com a gente em todas as horas”.

Adotar – Passo a Passo

1. Procurar a vara de Infância e Juventude do Município;
2. Entrar com uma petição para dar início ao processo de inscrição;
3. Realizar o curso de preparação psicossocial e jurídica para a adoção. Após o curso, o candidato é submetido à avaliação com entrevistas e visita domiciliar feitas pela equipe técnica;
4. Durante a entrevista técnica, o pretendente descreve o perfil da criança que deseja adotar;
5. A partir do laudo da equipe técnica e de um parecer emitido pelo Ministério Público, o juiz dá a sentença. Se o pedido for acolhido, o nome é inserido na lista de pretendentes;
6. Na fila para a adoção, é preciso aguardar para encontrar uma criança com o perfil compatível ao desejado. Nesse processo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte continua com projetos para ampliar esse perfil procurado. Quando encontrada a criança, a Vara da Infância vai avisá-lo e se houver interesse, ambos serão apresentados. A criança será entrevistada após o encontro para dizer se quer ou não continuar com o processo;
7. Se aceitar, inicia-se o estágio de convivência. É possível visitar a criança na instituição de acolhimento, levar para passear e outras atividades de lazer, para causar aproximação. Se o relacionamento correr bem, a criança é liberada e o pretendente ajuíza a ação para a adoção. O juiz determina a adoção, junto com o novo registro de nascimento.

Brasil
Pretendentes
43.743 pessoas estão cadastradas no CNA
20.252 declararam não aceitar crianças negras
20.912 declararam não aceitar crianças indígenas
1.452 têm disposição para adotar crianças com deficiências mentais
2.000 têm disposição para adotar crianças portadoras de HIV
2.679 têm disposição para adotar crianças com deficiência física
4.114 aceitam adotar crianças de até seis anos
282 aceitam adotar crianças de até 12 anos

Crianças
8.860 crianças estão cadastradas no Brasil
6.086 crianças têm mais de seis anos de idade
3.882 jovens têm mais de 12 anos de idade
4.584 têm algum tipo de deficiência ou são portadoras de HIV

Rio Grande do Norte
Quantidade de pretendentes: 505
Quantidade de crianças: 69
Fonte: CNA

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