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48 horas de chuvas e problemas na Grande Natal

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CLIMA - Caminhão leva móveis de famílias ameaçadas pelas águas que transbordaram em São Conrado

O problema já antigo e parece estar longe de ser resolvido. Basta chover um pouco mais forte para que a Lagoa de São Conrado, que fica na Avenida Seis, transborda e a água inunda a casa de quem mora naquelas proximidades. Na manhã de ontem, o clima era de desespero no local. Pessoas com água na altura da cintura tentando salvar o pouco que restou dos móveis. Uma moradora da rua Professor Pedro Alexandrino, que não quis ser identificada, já estava providenciando a mudança de endereço. “Não faz nem três dias que ela chegou aqui, mas vai embora porque não é possível viver com medo de morrer afogado a cada chuva”, disse Nelson Morais, que mora no local há pelo menos 30 anos e só não se mudou porque não tem para onde ir.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou contato com a moradora, mas ela estava tão desesperada, que não tinha nenhuma condição de conversar. “Ela está transtornada, não é fácil perder tudo que passou uma vida toda para conseguir”, disse uma amiga da moradora.

Por volta das 9h da manhã de ontem, uma viatura da STTU interditou o trânsito do local pois não havia nenhuma condição de passar carros, que desviaram pela avenida Amintas Barros. A água era tanta que os bueiros da Caern deram vazão. Na avenida Lima e Silva, a água chegou a uma altura de 1,60 metro. Segundo os moradores, essa já é a terceira enchente desde abril. “Perdi todos os meus móveis, comprei outros e agora perdi de novo. Até quando essa situação vai continuar? Ninguém faz nada e nós continuamos com os prejuízos. Será que vão esperar morrer alguém para resolver o problema dessa lagoa”, desabafou Nelson.

A Lagoa da Cidade da Esperança também transbordou e diversas casa foram invadidas pelas casas. A TN tentou conversar com os moradores das casas inundadas, mas era tanta água que eles não conseguiram deixar o local.

Na avenida Rio Grande do Norte, uma das mais movimentadas do bairro, o trânsito foi totalmente interrompido, nem mesmo os caminhões conseguiram passar. A mesma situação foi registrada na rua dos Palmares.

O secretaria municipal de Obras e Viação, Damião Pita, reconheceu que um dos bairros mais prejudicados foi a Cidade da Esperança. “Essa é uma Lagoa antiga e, às vezes temos alguns problemas, mas na tarde de ontem mesmo fui ao local e a bomba estava funcionando, inclusive o nível da água já estava baixando. Se não voltar a chover acredito que até amanhã (sábado), tudo volte ao normal”, disse o secretário.

Capim Macio e Ponta Negra, os mais atingidos

Na Zona Sul, a situação mais complicada era em Capim Macio e Ponta Negra. A maioria dos moradores ainda nem se recuperou da última chuva e já está tendo mais prejuízos. “Fui dormir tranqüilo porque a bomba da lagoa de captação estava funcionando normalmente, mas de madrugada parou. A sorte é que acordei às 4h da manhã e consegui suspender alguns móveis, mas a casa foi completamente invadida pela água. O espaço onde fica a piscina se transformou em uma lagoa, assim como todo o resto da casa”, reclamou Antônio Carlos Meireles, cuja casa fica na esquina das ruas Escritor José Mauro Vasconcelos com a João Florêncio de Queiroz.

Segundo os moradores a bomba foi retirada do local, na quinta-feira (07). Alguns moradores, com medo das chuvas decidiram sair de casa na própria quinta, os que ficaram se arrependeram.

Segundo o secretário municipal de Obras e Viação, Damião Pita, a bomba foi desligada porque o nível da água aumentou bastante e para não comprometer as instalações ela foi retirada.

Em Ponta Negra, diversas ruas também ficaram alagadas. Os comerciantes da avenida Praia de Jenipabu não tiveram condições de abrir as lojas. Os funcionários de uma agência de viagem, localizada na avenida, ficaram desesperados ao chegar ao local de trabalho.

“Quando cheguei aqui tinha água em toda a loja. Perdemos computadores e móveis. Sem contar nos clientes que não têm como chegar aqui. Para nós que trabalhamos com o turismo isso é um péssimo cartão postal”, reclamaram os agentes de viagem Rosângela Farias e Fernando Câmara.

Os moradores da rua Presbítero Francisco de Alencar ficaram ilhados. “A lagoa do bairro transbordou e a água veio toda para essa rua, como tenho um carro grande ainda consigo sair de casa, mas quem não tem, está preso na própria casa porque não tem como sair”, disse a dona de casa Edileusa Rocha.

Situação complicada é a do casal Jarbas Patrício e Ieda Patrícia. A filha do casal, de três meses não tem onde dormir porque a água invadiu o quarto do bebê e todos os outros cômodos. Nem os cachorros escaparam, para não serem arrastados pela água, Jarbas colocou os animais em cima de um banco.

“ O problema de Ponta Negra é a bomba da lagoa que não funciona. Já perdi as contas de quantas correias eu comprei com o meu dinheiro para evitar que ela parasse. Passei a madrugada toda jogando água no equipamento para evitar o super aquecimento”, disse Jarbas.

 Em Nova Parnamirim, a Avenida Abel Cabral inundou. As duas lagoas que ficam na avenida transbordaram deixando muitos moradores ilhados. Os bueiros do local não conseguiam mais captar o alto fluxo de água e as ruas começaram a ficar alagadas.

Lagoas transbordam na Zona Norte

A tensão que tomava conta da população da Zona Norte na última quinta-feira tornou-se desespero na manhã de ontem, quando as principais lagoas de captação da região transbordaram durante a madrugada. Famílias retiravam os pertences que restaram da enchente. No loteamento José Sarney, o nível d’água chegou próximo ao teto das casas localizadas na rua Votuporanga. As 13 famílias desabrigadas com a chuva de ontem são da região. Duas famílias foram levadas para o ginásio de esportes de Soledade II e as outras estão em residências dos parentes.

As lagoas de captação dos loteamentos Santarém, José Sarney e Jardim Primavera não suportaram o volume de  água da chuva e transbordaram. As ruas do bairro Nossa Senhora da Apresentação mais pareciam canteiros de obras abandonados. A zona Norte é a região de Natal que mais sofre conseqüências das fortes chuvas dos últimos dois dias.

Em alguns lugares, como no loteamento José Sarney, famílias haviam abandonado as casas na manhã de ontem. Os moradores transportavem os móveis em caminhões até um lugar seguro. Devido às fortes chuvas, as aulas na Escola Estadual 15 de Outubro foram suspensas nos turnos da manhá e tarde. A escola que acolheu desabrigados da enchente de julho, estava vazia ontem pela manhã.

Para os moradores dos bairros mais afetados, os estragos de ontem poderiam ser reduzidos se as obras de drenagem das lagoas estivessem concluídas. Os moradores lamentam passar por essa situação a cada chuva. “Eu sabia que isso aconteceria de novo. Eu não agüento mais passar por isso e ter que sair de casa com meus móveis. Meus filhos estão sofrendo com isso”, lamentou a dona de casa Patrícia Nascimento Souza.

As chuvas continuavam caindo por volta de meio dia de ontem. Os moradores de Nossa Senhora da Apresentação estavam apreensivos com o nível da água que não baixava. A previsão de mais chuvas para hoje obrigou muitas dessas pessoas a deixarem suas residências, deixando para trás os imóveis tomados pela água.

Casas e ruas foram alagadas no José Sarney

Nossa Senhora da Apresentação foi um dos bairros mais prejudicados pela enchente. Os moradores da rua Votuporanga já não estavam em suas casas na manhã de ontem. Em algumas residências, a lâmina d’água era superior a dois metros de altura.  O Corpo de Bombeiros registrou seis chamadas para os moradores do Loteamento José Sarney somente na manhã de ontem. A dona de casa Sônia Maria sequer havia se recuperado dos estragos de outras enchentes e, mais uma vez, precisou retirar toda a mobília e roupas da residência.

“Não dá para pegar mais nada. Estava com água na altura do pescoço”, lamentou. O filho, Alex Roberto Moura, de 17 anos, ainda se arriscava na enchente arrastando os móveis de sua casa. Sem ter onde dormir, Sônia informou que não iria para os abrigos. “Não vou para as escolas pois meu filho tem problemas de saúde.

A enchente de ontem no loteamento José Sarney não surpreendeu os moradores da rua Votuporanga. Eles já imaginavam, na quinta-feira que, com a continuidade das chuvas a lagoa poderia transbordar novamente. “Isso só podia acontecer. As obras de drenagem ainda ficarão prontas. Hoje, com todo esse sufoco que passamos não fomos atendidos pelo Corpo de Bombeiros”, relatou Sônia. A enchente da lagoa no José Sarney fez os moradores saírem de suas casas. Joana D’ark saíu do bairro das Quintas, na zona Oeste, para procurar a sogra que mora na rua Votuporanga.

Vítimas faltam trabalho para salvar os móveis

Os moradores do loteamento Jardim Primavera, em Nossa Senhora da Apresentação também sofreram devido à proximidade de uma lagoa de captação. O reservatório estava com o nível de água regular na quinta-feira, mas a intensidade das precipitações fez subir rapidamente o nível.

A moradora da rua Alexandre Pinto, número 108, estava na porta de casa, sem acreditar na situação que se encontrava sua residência. “Perdi meu dia de trabalho e perdi minhas coisas também. Meus móveis estão todos perdidos. É a terceira enchente apenas esse ano. Não consigo me recuperar”, lamentou a diarista Francisca Assis Gomes, de 39 anos.

As enchentes de ontem surpreenderam os moradores do loteamento Pajuçara. A rua Pinheiros estava alagada. Os moradores da rua Tenente Souza, em Novo Horizonte retiravam a água acumulada dentro dos cômodos. Maria Aparecida de Andrade (56) informou que somente este ano, é a terceira que a cena se repete. “Vivo com problemas de hipertensão por enfrentar essas enchentes. Não dormi essa noite”.

“Avisem as autoridades que com o dinheiro utilizado em reformas de estádios de futebol poderiam drenar umas 20 ruas da zona Norte. Precisamos de mais atenção”, pediu Francisco Neves de Menezes, de 70 anos. Ruas sem pavimentação davam uma dimensão ainda maior ao problema.

Lagoa enche e expulsa famílias das residências

A lagoa de captação do Loteamento Santarém transbordou ainda na madrugada de ontem, por volta de 1h. Quem reside no entorno da lagoa viveu a angústia de ter as residências inundadas pela terceira vez este ano. Os moradores da rua Taraucá foram os mais prejudicados com a inundação.

Por volta de 9h, a dona de casa Maria Francisca Mateus, de 55 anos estava em cima de um caminhão com o que conseguiu salvar. A força da água derrubou o muro de sua casa e deixou submerso metade do carro do marido. A solução foi, mais uma vez, buscar abrigo na escola José Adelino.

Situação semelhante passava a dona de casa Patrícia Nascimento Souza, de 26 anos. Os brinquedos da filha Patrícia, que caminhava com água à altura dos joelhos para salvar os brinquedos da filha.

Imprudência de órgãos públicos foi a principal reclamação da população do loteamento Santarém. “A bomba de drenagem estava desligada até ontem à noite. Foi ligada ontem, quando já estava cheia. Falta vigia para tomar conta e ficar responsável por esse serviço”, reclamou  Maria Francisca que chorava ao sair do loteamento.

Por volta de 9h da manhã, José Florêncio Rodrigues, da gerência de operações da Companhia de Serviços Urbanos (Urbana) chegou ao loteamento para oferecer caminhões às famílias desabrigadas que necessitassem transportar seus pertences. A informação é de que oito caminhões estavam à disposição da população de Natal.

Os moradores foram pouco receptivos à oferta da Urbana. Mas a maioria acabava aceitando porque não havia outra maneira de retirar os pertences das áreas alagadas. O pedido da população local era que a enchente fosse evitada pelos órgãos públicos através de obras estruturantes.

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