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50 anos do Governo da Esperança: A campanha da Esperança

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Há 50 anos a população do Rio Grande do Norte acompanhava a posse de Aluízio Alves no governo. A campanha eleitoral que o levou ao cargo criou signos que identificaram o personagem por toda a vida. Os lenços verdes, galhos de árvores e a camisa verde de Aluízio Alves significam a esperança; o polegar levantado significa a vitória, diferenciando-se do seu opositor que é o “V” da vitória. Uma inovação que ocasionou muita mobilidade popular foi a transformação dos comícios, vigílias, caminhadas e passeatas em festa com orquestras e batucadas acompanhando as “ala-moças” que cantavam as marchas e os hinos da campanha. Parte dessas músicas de campanha e alguns discursos previamente preparados fazem parte do LP “Gentinha”. As ala-moças fizeram sucesso. Atraiam tantos os homens como as mulheres por onde passavam.

Campanha popular marcou trajetória que levou à conquista do poder político na década de 1960...A análise das letras dessas músicas, dos cartazes e dos discursos previamente elaborados mostram Aluízio Alves como herói consagrado, predestinado a cumprir sua odisséia, convocado “pela mais poderosa força de convocação: a voz do povo”. Para cumprir a missão de redimir esse mesmo povo da miséria e de “abrir para todos a Porta da Esperança”. Essa é a mensagem do discurso de início da campanha e que faz parte do LP da “Gentinha”.“Vim para lutar. Vim para ficar. Vim para vencer. Nada me impedir de vir: nenhum obstáculo, nenhum receio, nenhuma acomodação.”

#maisinformacoes#Aluizio chegava ao governo do Rio Grande do Norte em uma época de mudanças políticas em todo o país. Para a presidência da República, Jânio Quadros havia derrotado o marechal Henrique Lott, até então considerado o mais forte candidato ao governo. A candidatura de Aluizio havia sido lançada pelo Partido Social Democrático – PSD e pelo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, contra o nome do advogado Djalma Marinho, candidato da UDN – partido ao qual Aluizio pertencia e que não lhe apoiou devido as desavenças com o então deputado Dinarte Mariz. Mais de uma vez, Aluízio relembrou as origens desse episódio.

“Ao contrário de 1958, quando fizera a candidatura de Dixhuit para senador, em vez da de José Augusto, para evitar a exigência da candidatura de Vingt para governador em 1960, perguntou- me se eu o apoiaria. Disse-lhe que tinha com ele boas relações, mas achava difícil a UDN, que cedera a senadoria ao PR – pequeno partido quase limitado a Mossoró – concordasse em entregar-lhe o governo. Não me deu resposta. Veio a Natal e, dias depois, surpreendeu-me com a intervenção, mediante seu voto de desempate, votos de 33 dos 63 diretórios municipais da UDN que, supunha, me apoiariam. Esqueceu que eu tinha também a metade dos delegados natos e a maioria do Diretório de Natal, após a campanha de 1958. Com receio da reação das bases do partido, fez candidato Djalma Marinho, a quem admirava, mas não considerava um temperamento executivo. Vingt foi candidato a vice-governador. Não tive outro caminho. Com a convenção praticamente unânime que teria, após a intervenção dos diretórios, aceitei ser candidato por uma dissidência. Grupos de estudantes, liderados por Quinho Alves, criaram a ‘Cruzada da Esperança’, que adotei como legenda da campanha. E comecei as articulações com as demais forças políticas, pretendendo somá-las em torno de uma candidatura de oposição.”

Os udenistas, aliados ao Partido Republicano – PR e ao Partido Social Trabalhista – PST, apontaram como candidato oficial o deputado federal Djalma Marinho. Tendo como candidato a vicegovernador o monsenhor Walfredo Gurgel, Aluízio Alves obteve 121.076 votos, contra 98.195 de Djalma Marinho. Em janeiro de 1961, renunciou ao mandato de deputado, tomando posse como governador no dia 31 do mesmo mês.

Herança comprometida com as mudanças

Herdeiros políticos de Aluízio Alves, o deputado federal Henrique Alves, o ministro Garibaldi Alves e o  deputado estadual Agnelo Alves recordaram o período, segundo eles, “inovador e revolucionário” pelo qual passou o Rio Grande do Norte quando comandado pelo pai, tio e irmão.

O líder do PMDB na Câmara Federal, Henrique Alves,  disse que considera o pai o político mais importante da história do Rio Grande do Norte. “E o seu governo prova isso. Pela ousadia, pela criatividade, e, principalmente, pela sua capacidade de se comunicar e de se envolver com as camadas mais pobres e mais carentes do nosso Estado”. O sobrinho Garibaldi afirmou que tem no maior líder do PMDB potiguar o “eterno exemplo de homem público”. Para o irmão Agnelo, chefe de Gabinete durante o governo iniciado em 1961, “ficará para sempre na memória o apoio popular permanente e o contato de Aluízio com o povo durante os cinco anos de gestão”.

O deputado Henrique Alves destacou que é sempre emocionante lembrar a visão intensa da cena política potiguar, desde criança, vivenciando uma casa sempre muito cheia de políticos, de amigos, de populares. “Aluízio não fazia diferença de classes e de posturas. As pessoas o procuravam e sempre tinham dele uma palavra”. Para o filho, o corpo a corpo característico do pai com a população mais carente traz uma recordação ímpar, sobretudo durante o período de atuação pública. “A lembrança maior era o contato com todos e a relação tão saborosa e carinhosa com os mais pobres e mais humildades do Estado”.

Considerado um dos maiores líderes políticos da história do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves foi inspiração permanente na atuação do sobrinho Garibaldi Alves, duas vezes governador do Estado. “Eu encontrei nele uma grande inspiração para fazer no meu governo o programa de águas, que chegou a todo o Estado. Como não lembrar da administração revolucionária, um governo que deu uma nova infraestrutura ao Estado, em termos do seu desenvolvimento?”, assinalou o ministro. Garibaldi rememora a adolescência quando junto aos primos acompanhavam de perto a atuação dos tios políticos.

O deputado Agnelo Alves exalta ainda o período de turbulência, com radicalismos e entre partidos e candidatos divergentes. Para ele, a tranquilidade e segurança de Aluízio Alves quando das tomadas de decisões eram precisas. “aluízio sempre transmitiu muita segurança nas suas atitudes e isso era essencial naquela época”.

“Um divisor de águas”

Qualificação constante de recursos humanos, estímulo a ideias eficazes e busca incessante por novas fontes de investimento. Três características comuns às gestões públicas do século 21 em plena década de 60 do século passado. Para o deputado estadual José Dias (PMDB), cunhado do ex-governador, essas preocupações do então governador Aluízio Alves demonstram o pioneirismo do mandato iniciado em 1961.

“Foi um divisor de águas para o Rio Grande do Norte. Principalmente porque se vinha de um governo anterior que nada devia, em sua improvisação e incapacidade, às práticas existentes no século 19”, reforça. O hoje deputado iniciou a participação no governo Aluízio Alves como assessor da Fundação de Habitação Popular, que teve como primeiro presidente Agnelo Alves.

José Dias acompanhou a construção da Cidade da Esperança, primeira experiência de habitação popular no estado e um modelo para todo o Brasil. Ele, que assumiu a presidência da fundação habitacional do estado em 1964, recorda que Aluízio Alves teve de convencer Celso Furtado, mais interessado em investimentos em indústrias, a aplicar recursos na área habitacional, para viabilizar o sonho de muitas famílias carentes.

“Na verdade, havia todo um grupo jovem que foi estimulado e atraído por Aluízio Alves a participar do governo e a assumir a responsabilidade de executar as ações”, destaca. José Dias enfatiza ainda a importância dada pelo então governador à qualificação dos profissionais do estado e também na busca por cursos junto a órgãos como a Cepal, Sudene e a Fundação Getúlio Vargas .

“Foi uma administração revolucionária que não frustrou as expectativas criadas após uma campanha histórica”, resume.

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