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600 mil recorrem à informalidade

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Luiz Henrique Gomes
Repórter

Por de trás da Casa de Saúde São Lucas, no bairro de Petrópolis, em Natal, o vendedor ambulante Samuelson da Costa, 44 anos, tornou-se presença certa nas tardes de segunda à sexta. Costuma chegar às 13h com o seu carro, modelo Parati de cor preta, carregado de bolos, tortas, salgados, sucos e comidas regionais, e só sai quando vende tudo. Têm dias que isso não demora a acontecer, segundo relata: os clientes conquistados pelo simpático vendedor fazem fila no início da tarde para levar os seus produtos para casa. “Graças a Jesus, as coisas estão dando certo”, afirma sorridente, ao falar das vendas.

Samuelson da Costa vende salgados, bolos e comidinhas na rua por trás da Casa de Saúde São Lucas, em Petrópolis


Samuelson da Costa vende salgados, bolos e comidinhas na rua por trás da Casa de Saúde São Lucas, em Petrópolis

#SAIBAMAIS#O autônomo é um entre os mais de 600 mil trabalhadores informais do Rio Grande do Norte, que se dedicam a ocupações sem garantias de previdência e outros direitos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A parcela significa quase a metade dos 1,3 milhão de pessoas que têm alguma ocupação de renda no estado. Desde 2015, início da crise econômica, esse número está em crescimento.

Cobrador de ônibus durante nove anos e oito meses, Samuelson mudou de trabalho há um ano e dois meses, depois de passar um período desempregado. “Deixei de ser cobrador e comecei a entregar currículos em outras áreas, mas foi na época da crise econômica e não consegui nada”, relembra. Com uma larga experiência no transporte coletivo, queria procurar outra área para se sustentar. “Aí minha esposa lançou o desafio: por que não vender produtos?”.

Aceitou o desafio e começou  a venda  com salgados, bolos e refrigerantes. O local escolhido para improvisar o seu ponto de vendas foi a rua atrás da Casa São Lucas, lugar de trabalho da esposa. Assim a divulgação do trabalho ficaria mais fácil. Foi ganhando clientes aos poucos – a maior parte funcionários do hospital – e hoje é conhecido por todos. “A divulgação foi boca a boca”, diz. “Hoje, o pessoal todo já conhece, e eu já tenho clientes até de outros locais de trabalho aqui perto”.

Samuelson se tornou tão conhecido, junto com a esposa Naide, que começaram a expandir a lista de produtos e serviços oferecidos. Em 14 meses, passou de três para mais de oito. Hoje, o homem, além de vender no ponto montado, faz encomendas de tapiocas recheadas, cuscuz, tortas doces e salgadas, munguzá, arroz doce, mais de três sabores de bolo, refrigerantes, salgados e sucos variados.

Com exceção do refrigerante e do salgado, o restante é preparado por Naide. Todos os dias, antes de ir para o trabalho, a técnica em enfermagem prepara os produtos em casa. A tarde, a mulher passa a atuar no Centro Cirúrgico do São Lucas e Samuelson vende. Quando acaba de vender, o autônomo aproveita para lavar a louça de casa e evitar trabalho de limpeza no outro dia, e, se for o caso, vai ao supermercado para comprar os produtos que vai necessitar. Às 19h, volta para buscar ao São Lucas para buscar a esposa.

O casal tem se dado bem com a rotina. Naide, segundo conta o marido, é “uma boleira de mão cheia” e “sempre soube cozinhar”, mas nunca havia trabalhado com vendas. As únicas encomendas eram para os familiares. “Aprendeu tudo sozinha e hoje faz sucesso”, elogia. Para dar o descanso à esposa, escolheu trabalhar de segunda à sexta. Os fins de semana e feriado não estavam valendo a pena. “No fim de semana estava vendendo pouco”, explica. “E eu também prefiro não trabalhar por conta da minha esposa, que é a responsável pelos produtos. Ela merece um descanso”.

Fazendo um balanço, Samuelson não se arrepende de ter topado o desafio da esposa. Juntos, conseguem a renda da casa, composta somente pelos dois – o casal não tem filhos. “Isso aqui está dando certo primeiramente por conta de Deus e, depois, dos amigos”, relata. “Hoje, eu consigo pagar as despesas do mês direito e estou melhor do que quando estava dentro da área de transporte coletivo”. Se pensa em largar? “Só se aparecer uma proposta muito boa, mas eu penso no hoje. E, hoje, eu estou satisfeito”.

Do bugre à parati
Quando decidiu se tornar vendedor autônomo, um obstáculo se postou diante de Samuelson: como transportar os produtos e onde montá-los? Nem ele, nem a esposa tinham veículo para isso. A solução foi um bugre inutilizado do irmão, dado para ajudá-los.

Nos primeiros meses, era na traseira do bugre cor de vinho, já velho, que as vasilhas e bandejas de produtos eram colocadas para a venda. Aos poucos, o vendedor juntou dinheiro e comprou uma parati, em estado mais novo. É na mala do carro que os produtos são colocados em exposição. “Daqui a uns quatro anos eu quito, mas ficou melhor porque é um carro que cabe mais coisa”, relata.

O carro é utilizado também para o lazer do casal. Ele facilitou a vida de Samuelson para comprar os ingredientes e melhorar o deslocamento. Outro fator positivo foi a segurança. “O bugre é um carro aberto, os produtos ficavam todos lá, mas nunca aconteceu nada não, ainda bem”, relembra, aos sorrisos.
Por trás dos números
A série “Por trás dos números – Emprego” traz, nesta última semana do mês de setembro, reportagens sobre a vida das pessoas que estão em diversas situações de ocupação. Nesta quarta-feira, abordamos os trabalhadores que atuam na informalidade.

Rio Grande do Norte
627 mil trabalhadores estão em situação de trabalho informal no Rio Grande do Norte

1.330.000 pessoas tem alguma ocupação no estado

Fonte: IBGE

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