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A beleza existe onde menos se espera

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“A paisagem se tornou acidentada, abrupta; o trem parou numa estaçãozinha entre duas montanhas. Ao fundo da garganta, à beira da corrente, só se via uma casa de guarda mergulhada na água que corria por baixo das janelas. E, se é possível que determinada terra produza uma criatura em que se possa desfrutar o seu particular encanto, mais ainda que a camponesa que eu tanto desejara que aparecesse quando vagueava sozinho para os lados de Méséglise, nos bosques de Roussainville, essa devia ser aquela moça alta que vi sair da casa e dirigir-se à estação, pelo caminho estreito que o sol nascente iluminava, oblíquo, levando um jarro de leite. No vale, que as alturas vizinhas escondiam ao resto mundo, a moça não devia ver outras pessoas senão as que vinham nos trens, que paravam por um instante. Andou ao largo dos vagões, oferecendo café com leite a alguns viajantes acordados. Colorido pelos reflexos da manhã, seu rosto era mais róseo que o céu. Diante dela, senti esse desejo  de viver que renasce em nós cada vez que tomamos consciência, de novo, da beleza e da felicidade. Sempre esquecemos que elas são individuais e, substituindo-as em  nosso espírito por um tipo convencional formado de uma espécie  de média dos diversos rostos que nos agradaram, entre os prazeres que conhecemos, temos apenas imagens  abstratas, vagarosas e insossas, pois lhes falta precisamente  esse caráter de novidade, diverso do que já conhecemos, esse caráter que é próprio da beleza e da felicidade. E lançamos sobre a vida um julgamento  pessimista que consideramos justo, pois acreditamos ter levado   em conta a beleza e a felicidade, quando as omitimos, substituindo-as por sínteses onde não há sequer um átomo delas.”

Este texto que acabo de compartilhar com vocês é um trecho de À Sombra das Moças em Flor, da obra Em Busca do Tempo Perdido, do escritor francês Marcel Proust. Decidi iniciar a coluna hoje assim, porque quero bloquear o horror da realidade que estamos vivendo com esta evocação à beleza e à arte. Se o meu país resolveu mergulhar na barbárie, não sou eu que vou mergulhar junto com ele. Busco meu refúgio na solidão de minha casa e nas folhas de meus livros. Mesmo sabendo que aqui bem do lado estão acontecendo coisas das quais não concordo em nada.

Se você é do tipo que se compraz com a violência alheia, não tente falar comigo. Viva sua vida, siga em frente. Eu vou continuar aqui com meus castelos de areia. Meus moinhos de vento.

Eu sonho com um país mais justo, com a solidariedade entre as pessoas, com a obediência às leis. Eu sonho com país com menos pobreza, com menos injustiça. Sonho com a paz, com a alegria de viver. Eu sou um ingênuo, um sonhador? Sim, mas não sou ignorante, pelo menos.

Eu não sei que caminhos devemos tomar para conquistar este país de meus sonhos. Mas sei que este caminho existe. Ele pode ser alcançado todos os dias, a todo momento. De uma coisa eu tenho certeza: não é com o ódio que vamos encontrar estes caminhos.

As pessoas que sonham com uma revolução através das armas não sabem que no final só restam as cabeças cortadas. Revolução se faz com pensamento e prática política. Revolução se faz dentro da democracia, com o voto consciente e aprovação de projetos que garantam o bem comum. Essa é a verdadeira revolução.

Museus
Recebi este e-mail do leitor Amauri S. Souza. “Li na sua coluna uma matéria sobre museus, onde destaca um museu de Pernambuco que segundo as suas informações se encontra em décimo sétimo lugar no mundo entre todos os museus pesquisados. Um dado me chamou a atenção, é que esse museu pernambucano supera o Museu do Louvre de Paris, pois o mesmo se encontra em décimo nono lugar, dois pontos abaixo do museu de Pernambuco. Uma pergunta que não deixa calar. Essa informação é verídica mesmo ou é uma pegadinha. Já estive três vezes no Louvre e posse lhe informar que segundo informações que colhi no local, o mesmo tem mais de quatrocentas mil obras de arte no seu interior, dos mais famosos pintores e escultores do mundo em todos os tempos. Para visitar todo o museu e passando 30 segundos em frente a cada obra de arte, você gastaria talvez  uns 15 dias. Então estou realmente bastante interessado em saber mais detalhes sobre essas informações”.

Resposta
Caro Amauri Souza. Peguei esta notícia de um site sobre turismo na internet. Talvez eles tenham exagerado ao comparar estes museus brasileiros ao Louvre. Eu não conheço o museu francês, mas amigos que foram lá me informam que realmente ele é gigantesco. Pessoas que visitaram o Inhotim, em Minas Gerais também ficaram impressionadas com o tamanho. Outras que visitaram o museu de Brennand também voltaram encantadas com a beleza do local. Acho que nem deviam fazer um ranking desses locais, já que todos são maravilhosos. Eu só conheço o MASP e Museu de Arte Moderno do Rio de Janeiro. Ambos perfeitos.

Papa “Jamais poderá haver verdadeira paz enquanto existir um único ser humano que é violado na sua identidade pessoal”. Esta frase do papa Francisco resume tudo que queria dizer hoje. Porque está tão difícil conversar com as pessoas e emitir uma opinião própria sem receber de volta um chorume desgraçado de extrema-direita, nazistóide, fascistóide, burróide. Cansaço.

Imprensa Natal estava ontem nas páginas dos principais do mundo, nos principais portais de notícias e não era por uma coisa boa. A crise nos presídios brasileiros nos deu essa notoriedade negativa. Enquanto escreve essas linhas, uma nova rebelião ameaça explodir um presídio que fica aqui pertinho. Enquanto alguns comemoram as mortes, a sociedade assiste a tudo estarrecida. Não podemos  concordar com isso.


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