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A bênção, Vinícius

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Muito à vontade sob o sol natalense de 1974, com uma latinha de Skol na mão, Vinícius de Moraes recebeu o jornalista Vicente Serejo para uma entrevista, na ainda pouco habitada Ponta Negra de 40 anos atrás. Vinícius era a estrela consagrada das letras e da música que o Brasil conhecia, mas chamou a atenção do repórter potiguar pela simpatia e afabilidade com as quais o recebeu. “Fui com aquela apreensão de fã, e vi um cara com zero de afetação. Foi mais uma longa conversa do que uma entrevista”, diz.
Samba de Natal: Toquinho, Vinícius de Moraes, Rejane Cardoso e Vicente Serejo entrevistam o poeta em 1974
Vinícius não queria ficar em hotel. Estava hospedado numa residência em Ponta Negra. A entrevista foi marcada para as 11 horas da manhã – o ‘poetinha’ junto com Toquinho e Maria Creuza, com os quais ele dividiria o palco. Vinícius chegou primeiro, já com a tal lata de cerveja à mão, “para tirar o gosto de pasta de dente da boca”, brinca Serejo. Mas o desjejum etílico não parou por aí. “Ao longo da entrevista, o Vinícius entornou uma garrafa de Vat 69, o uísque escocês de moda, que ele mesmo trouxe no carro com que veio a Natal. Observei que ele bebia muito devagar, mas sem parar”, conta.

A conversa se desenrolou com a leveza característica do poeta e compositor, segundo Vicente Serejo. “O poetinha disse que eu sabia mais da vida dele do que ele próprio”, relembra. A entrevista na varanda contou até com a participação ocasional de duas beldades que vinham passando – a caminho do mar? – e chamaram a atenção de Vinícius. “Duas moças bem vistosas pararam para conversar com ele. Uma delas tinha um mico sagüi nos ombros, ao qual ele dirigiu muitos elogios!”, diverte-se Serejo. As moças também ofereceram uma dose de Murim Mirim, uma cachaça popular na época. “Vinícius adorou a caninha. Tinha um cheiro muito bom, segundo ele”, completa. E foi essa a impressão que as garotas de Ponta Negra deixaram no poetinha.

Na ocasião, Vinícius e Toquinho também falaram a Serejo sobre uma melodia que compuseram sob a inspiração dos ares natalenses. Mas a música, que seria “Samba de Natal”, acabou por se tornar “Carta ao Tom 74” depois que foi posta a letra. Ponta Negra foi substituída por Rio de Janeiro. “Apesar de Natal ter perdido a chance de figurar numa letra de Vinícius, ele contou toda essa história em um show, que depois virou disco ao vivo”, ressalta.

#saibamais#Assim que Toquinho e Maria Creuza chegaram, Serejo confessa que se tornou mais um espectador do papo entre os bambas, do que um repórter. Mas foram as impressões sobre Vinícius que mais perduraram. “Ele me recebeu com a mesma atenção que daria a um jornalista famoso, e eu era praticamente um foca na época. Fiquei impressionado também com a educação dele, via-se que ainda mantinha a verve do diplomata que havia sido”, diz. O jornalista ressalta o clima  respeitoso, sem o ‘oba oba’ que se faz em torno das celebridades atuais. “A aura de escritor e homem letrado dele impunha muito respeito”, afirma. Mais tarde, o show lotou o Teatro Alberto Maranhão. Durante a apresentação, o poetinha manteve a garrafa de Vat 69 sempre ao lado. 

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