Woden Madruga
[email protected]
O futebol não encanta somente pelas fortes emoções que nos oferece a partir da criatividade de seus craques, mas também pelo espaço que a literatura lhe dedica, aqui por conta de nossos poetas, cronistas, escritores. Temos grandes craques nessas artes e ofícios. Lá no gramado e cá em cima onde labutam esses mestres da prosa e da poesia. De Nelson Rodrigues a Joaquim Ferreira dos Santos, passando por Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria, João Cabral de Melo Neto, dos que vou me lembrando agora nesse intervalo de Suécia e Suíça (zero a zero).
Ontem fiquei encantado com a crônica de Joaquim Ferreira dos Santos publicada em O Globo, com o título de “Passa a bola, Philippe Coutinho! ”. Vai de João Cabral de Melo Neto a Guimarães Rosa, passando por Gerson, Didi, Pelé, Garrincha, Ademir da Guia, Zito, Falcão e Carpegiani, com finos em João Gilberto e JK. Só craques, ou feras, como se diz por aí.
Joaquim Ferreira dos Santos joga no meu escrete dos maiores cronistas contemporâneos da imprensa brasileira, biógrafo de Antônio Maria, outro mestre do ramo, e que começou sendo locutor esportivo nas rádios de Recife. Tem vários livros publicados e o último, “Enquanto houver champanhe, há esperança”, lançado em 2016, uma biografia de Zózimo Barrozo do Amaral, que também conta passagens da história da imprensa carioca, a partir dos anos de 1960.
Já que o jornal O Globo, edição impressa, não chega mais por estas bandas de Natal sugiro aos que gostam de uma boa leitura procurar na internet a crônica de JFS. Vocês vão se deleitar. Antecipo um pouquinho desse prazer, transcrevendo alguns trechos do que escreveu o mestre Joaquim Ferreira dos Santos, começando pelo começo:
– Mostra tua força, Fhilippe Coutinho, e, ao teu jeito, como se fosse a coisa mais simples, continua o teu processo paciente de educar um país pela bola. Desculpa a marra dos teus parças e faz o de sempre. Bota esses caras na cara do gol. Um passe não dá foto na primeira página, mas os deuses do futebol estão de olho. Agradecem a elegância. Finalmente um jogador que veio a campo para servir. Finalmente um craque que tem o topete de dispensar likes.
– João Cabral de Melo Neto tem um poema que fala da educação pela pedra, a necessidade de se estranhar a aridez nordestina e tirar dela as lições da existência. É a mesma poesia que você tem mostrado ao mundo. Não é só o gol, é a dureza do meio de campo. É jogar junto, dispensar os salamaleques de estilo e perceber que nessa eficiência está a arte. A bola educa.
– Seja seco e essencial como o mestre das letras. Corte palavras, enxugue o texto, zero de firula e circunlóquios. Se Joao Cabral recomendava não perfumar a flor, continue apostando na urgência de redesenhar o país com a brincadeira dos pés. Nada de pentear a bola, posto que ela é careca.
– Um país se constrói com livros e homens, dizia o antigo ditado. Mas o exibicionismo narcísico dos homens anda tal que é preciso de homens mais específicos, aqueles que pensam o jogo como um todo e gritam a palavra de ordem: “Soltem a bola, bando de fominha”.
– O futebol explica tudo. Foi assim com Gerson, que distante 40 metros botava a bola na entrada da grande área, mais exatamente no peito, na medalhinha de Nossa Senhora do Jairzinho – e fomos abençoados campeões em 1970. O Didi tinha ensinado o caminho da vitória em 1958. Fez apenas um gol e foi o melhor da Copa. Também ficava no meio do campo, longe das câmeras e dali dedicava-se a municiar Pelé, Garrincha e Vavá.
– Foi o momento histórico em que graças ao futebol o Brasil deixou de ser um vira-latas entre as nações e encheu-se de autoestima para, no mesmo ano, João criar a bossa-nova, JK arrancar com Brasília e João Guimarães relançar “Grande Sertão: Veredas”. Inventava-se um país”.
Sem pagar
Julho já passando do seu terceiro dia útil (?) e o governo do Estado ainda não anunciou quando começará o pagamento dos salários de junho. Sempre no atraso. E para agravar ainda mais o quadro, fala-se que há categorias que não teriam recebido maio. Sem falar no não pagamento do 13º do ano passado.
Hoje, os servidores estaduais farão nova concentração na entrada do Centro Administrativo protestando contra o atraso de seus salários, começando às 7 horas.
Depois de amanhã, 6, a lua aparece em quarto minguante, os salários minguando. Menos os da Casa Civil.
Chuva
Duas neblinas registradas ontem no Rio Grande do Norte, segundo o boletim da Emparn: uma no município de Água Nova, na “tromba do elefante”, e a outra em Natal. Ambas de 2,5 milímetros.
No Ceará, chuvinha de 6,6 milimetr4os em Jaguaribe, quase divisa com a Chapada do Apodi e na Paraíba, meia dúzia de chuvinhas. A melhorzinha em Juarez Távora, no Brejo, 10 milímetros.
Religiosidade
O professor Benedito Vasconcelos Mendes, imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, deixa Mossoró, onde mora, fundou o Museu do Sertão e realiza suas pesquisas sobre o semiárido nordestino, para fazer uma palestra amanhã em Fortaleza. Atende convite do Grupo de Estudos do Cangaço no Ceará (GECC). Falará sobre o tema “Religiosidade Sertaneja”.
Política
Deu na coluna BR-18, do Estadão:
– Na dúvida, o PSB pode fechar aliança com o PDT de Ciro Gomes, e não com o PT, segundo Lauro Jardim, de O Globo. Isso no momento em que há conversas, ainda que preliminares, para petistas apoiarem o PSB de Márcio França em São Paulo, conforme analisa Raimundo Costa, do Valor. É a tal “queda de braço” pelo apoio do PSB, que, segundo Fernando Limongi, teria roubado o papel antes reservado ao MDB.
Machado de Assis
Com o título “Aos pés de Machado”, Ancelmo Gois, em sua coluna de “O Globo”, publicou esta nota:
– Depois do “NY Times”, no começo de junho, ontem foi a vez da revista “The New Yorker” se render ao grande escritor brasileiro, com “Ele é um dos maiores escritores do Brasil. Por que Machado de Assis não é mais amplamente lido? ”
– O artigo é assinado por Benjamin Moser, o escritor americano que projetou lá fora a obra da nossa Clarice Lispector.
