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A caminho do Reino do Sol

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O dramaturgo, escritor e poeta Ariano Suassuna (1927-2014) é o inspirador e o homenageado no espetáculo “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”, que será apresentado em Natal sábado e domingo,  no Teatro Riachuelo. O musical é um trabalho da companhia carioca A Barca dos Corações Partidos, reunindo os talentos de Luiz Carlos Vasconcelos na direção, Bráulio Tavares como dramaturgo, e Chico César na direção da trilha sonora. A Associação dos Críticos Paulistas de Arte (APCA) a elegeu como o melhor espetáculo de 2017. O musical traz na essência uma série de características da obra de Ariano.

Peça une comédia, drama e fábula ao melhor estilo da obra do mestre paraibano

Peça une comédia, drama e fábula ao melhor estilo da obra do mestre paraibano

“Suassuna” não é a adaptação de uma ou mais obras específicas de Ariano, mas tem o universo popular criado por ele como referência maior. A peça une comédia, drama e fábula ao melhor estilo da obra do mestre paraibano, sempre tendo o elemento nordestino como fio condutor. “A peça vai nos dois extremos de Ariano. O riso deslavado e a dor profunda. Mostra a comédia, onde o ‘Auto da Compadecida’ é o maior expoente, e a dor humana, vista na ‘Pedra do Reino’, por exemplo”, declarou o diretor Luiz Carlos Vasconcelos.

“O Ariano falava de ter sido um palhaço frustrado, mas eu achava ele um palhaço genial. Quem tem aquela cara não precisa de maquiagem. Palhaço precisa ser sincero, e Ariano era”, afirmou o diretor. O mote para a criação do espetáculo surgiu em conversas da produtora Andrea Alves com Ariano, que se confessava um palhaço frustrado e que elegeu o palhaço de “O Auto da Compadecida” como um dos seus personagens prediletos. A homenagem na ocasião em que ele completaria 90 anos (2017) era mais do que justa.

Histórias cruzadas
As muitas referências às obras de Ariano são cruzadas através da própria trama do “Auto do Reino do Sol”. Duas histórias se encontram no sertão da Paraíba: um amor proibido e uma trupe circense. Iracema Moraes, sobrinha do major Antônio Moraes, vilão de “A Pedra do Reino”, se apaixona por Lucas Fortunato, de uma família inimiga da sua.

Duas histórias se encontram no sertão da Paraíba: um amor proibido e uma trupe circense. Como um Romeu e Julieta no sertão, Iracema Moraes, sobrinha do major Antônio Moraes, se apaixona por Lucas Fortunato, de uma família inimiga da sua

Duas histórias se encontram no sertão da Paraíba: um amor proibido e
uma trupe circense. Como um Romeu e Julieta no sertão, Iracema Moraes,
sobrinha do major
Antônio Moraes, se apaixona por Lucas Fortunato, de uma família inimiga
da sua

O casal resolve fugir e encontra, no caminho, uma trupe de circo que quer chegar à Vila de Taperoá – onde fará “uma homenagem ao poeta Ariano Suassuna” -, composta pelos artistas mambembes Cabantõe, Chico de Rosa, Escaramuça, Mosquito, Poeta León, Tenha Medo e Tinha Graça. Os dois namorados e o grupo circense se cruzam e a trama ganha a cara de uma tragicomédia.  Tudo isso em meio a uma seca de rachar.

As referências vão se desenrolando ao longo da peça de uma maneira não óbvia. O espetáculo faz referência a uma série de outros personagens icônicos, como a dupla João Grilo e Chicó, de “Auto da Compadecida”, maior sucesso de Ariano, além de citações a formação do dramaturgo, em elementos de Shakespeare e Miguel de Cervantes. “É uma homenagem ao Ariano palhaço. O público é guiado por uma espécie de Palhaço Mestre de Cerimônias, como era habitual em seu teatro”, disse o diretor.

Letra e música
Os textos poéticos e as letras das músicas usam as formas tradicionais de poesia popular que foram cultivadas por Ariano, como a sextilha, a décima, o martelo e o galope. Chico César, Beto Lemos e Alfredo Del Penho, mostravam as melodias e algumas letras surgiam de improviso, outras cabiam exatamente em alguns trechos do texto. A maioria das letras ficou a cargo de Bráulio Tavares, mas também tem canções de outros integrantes da companhia, como Adrén Alves e Renato Luciano.

Premiado trabalho da companhia carioca A Barca dos Corações Partidos, Suassuna - O Auto do Reino do Sol revisita o universo de Ariano Suassuna

Premiado trabalho da companhia carioca A Barca dos Corações Partidos,
Suassuna – O Auto do Reino do Sol revisita o universo de Ariano Suassuna

“Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que ‘Suassuna – O Auto do Reino do Sol’ se trata de um espetáculo de teatro. Tem uma ênfase na música porque o elenco permite. São artistas que tocam instrumentos e cantam. Meu papel foi aproveitar isso”, ressaltou Luiz Carlos, dizendo que só nas primeiras semanas de ensaios surgiram 20 fragmentos musicais. “A montagem foi bem coletiva. O Bráulio propôs uma sinopse e a partir disso fomos pensando textos, falas e fomos incorporando com outros elementos que surgiam em pesquisas, até mesmo referências da formação de Ariano”, completou.

O texto e as canções do musical foram produzidos ao longo do processo de ensaios, iniciados no ano passado, quando o elenco fez uma série de oficinas circenses e também excursionou pelo Nordeste brasileiro – o  chamado “Circuito Ariano Suassuna”. Guiados por Dantas Suassuna, filho do homenageado, a trupe esteve em Casa Forte (Recife), conheceu a famosa Pedra do Ingá e visitou a fazenda de Taperoá (Paraíba). Entre muitas palestras e oficinas, o grupo se preparou para o intenso processo criativo, em que se reuniram por oito horas diárias e apenas uma folga semanal nos últimos quatro meses.

“Suassuna” figurou em muitas listas de melhores espetáculos do ano em 2017, e confirmou seu reconhecimento por parte de público e crítica. O prêmio da Associação dos Críticos Paulistas de Arte foi um dos auges. “Recebemos com alegria esse reconhecimento em tão pouco tempo. Confirma a qualidade do trabalho. A aceitação do público também tem sido maravilhosa. A comoção da plateia é visível. Gostaria de estar viajando mais com a equipe para fazer anotações. Porque o processo continua. Não temos parado de ensaiar”, declarou o diretor.

Ariano Vilar Suassuna foi criador do Movimento Armorial e autor de obras em que a cultura nordestina clássica era demonstrada de várias formas. No começo da carreira, ficou dividido entre a advocacia e o teatro. Em 1955, “Auto da Compadecida” o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.

Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema. Entre 1958 e 79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” (1971), clássico que também teve várias adaptações.

Serviço:
Suassuna – O Auto do Reino do Sol. Sábado (21h) e domingo (19h), no Teatro Riachuelo. Entrada: R$50 (balcão/frisas), R$100 (plateia B), R$120 (camarotes/plateia A). Tel.: 4008-3700.

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