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A caminho dos EUA, similar do Catalina pousa em Natal

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Alex Costa – Repórter

Depois de quase três mil quilômetros percorridos desde Joanesburgo, na África do Sul, chegou a Natal no último dia 1º de janeiro um hidroavião  Canadian Vickers Catalina. Datado de 1944, o PBY-5A, é idêntico às aeronaves que sobrevoaram os céus de Natal na década de 40, principalmente durante os anos da II Guerra Mundial. O Catalina que está agora na cidade foi adquirido por um colecionador americano de San Diego, na Califórnia, por  U$ 650 mil. Em três semanas, o hidroavião chegará ao seu destino final, nos Estados Unidos, tripulado por dois pilotos americanos, um engenheiro mecânico e um repórter documentarista.
Pery Lamartine pilotou aeronaves semelhantes ao Canadian Vickers Catalina na década de 40
De acordo com o engenheiro mecânico californiano Matt Voight, desde 1998 que o Catalina não levantava vôo e após um longo período de testes e manutenção constante em Joanesburgo, a aeronave decolou no dia 25 de dezembro, fazendo escala na Namíbia, Angola, Camarões e na Libéria, de onde saiu atravessando o Oceano Atlântico até a capital potiguar. Quando questionado sobre a sensação de cruzar o Atlântico, Matt brinca:  “o sentimento de cruzar o Atlântico é impressionante, mas  ver terra firme no horizonte é muito melhor”.

O piloto do Canadian Vickers Catalina, Mike Castillo, explicou a razão que levou a aeronave a fazer escala no Brasil, na cidade do Natal. “As mesmas razões que levaram a capital do Rio Grande do Norte a servir de base militar para os EUA: ser o ponto estratégico mais próximo do continente africano”, disse. Outro motivo que trouxe o avião à América do Sul foram os ventos frios e congelantes do inverno europeu. “Durante o voo, as asas poderiam congelar e o avião vir a pique”, completou.

Num hangar do aeroporto internacional Augusto Severo, o hidroavião passava por vistorias ao longo de toda a manhã de ontem. Na manhã de hoje, por volta das 8h, o Catalina decolará com destino a São Luíz, no Maranhão, seguindo para a Guiana Francesa, Aruba, Panamá, Costa Rica, México até a Califórnia, no oeste dos EUA.

Além do preço da aeronave,  o transporte, manutenções, combustível e a preparação de quatro meses na África do Sul custará ao colecionador americano mais U$300 mil. O colecionador possui em sua coleção 16 aeronaves históricas, a maior parte delas datadas da década de 40, das quais nove estão em restauração para permanecerem aptas para o vôo. O Canadian Vickers Catalina, modelo PBY-5A, se une aos exemplares A1-Skyraider, Dragon Fly, L-39, Beach 18, T-6, Howard, DJ-15, T-34, T-28, Waco JYM e L-19.

Especialista em recuperação de aviões antigos, o engenheiro mecânico Matt Voight já havia passado em outras datas por terras brasileiras. A última foi em 2009 durante a produção do filme “Os Mercenários”, contracenado por grandes nomes do cinema americano como Sylvester Stallone, Arnold Schwazzenegger e Jean-Claude Van Damme. “Estive aqui para trabalhar com uma aeronave Albatroz, aquela que vocês vêm no filme. O Carlos Edo é o dono do avião que foi cedido para participar das cenas”.

Em Natal, a Fundação Rampa cuida da preservação da história da aviação. O diretor de pesquisa da entidade, Frederico Nicolau destacou a importância de ver de perto uma aeronave com quase 70 anos e em condições de voo. ‘’No Brasil, existem modelos como esse em museu, contudo, este Catalina se diferencia por estar muito bem preservado e funcionando. Para nós, seria muito importante se um dia tivéssemos uma aeronave nessas condições exposta aqui’’, disse.

Pery Lamartine, piloto histórico

Aviões como o PBY-5A, os “Catalinas”, fizeram parte da vida e das experiências aereas na formação de Pery Lamartine, piloto de avião na década de 40/50. Nascido no dia 2 de maio de 1926, aos 86 anos Pery Lamartine relembra os tempos de piloto e se emociona ao vislumbrar a máquina revolucionária com a qual manteve contato ao longo de uma década de sua vida.

“Larguei cedo a aviação. Foram 10 anos atuando como piloto civil, para uma empresa chamada Aero Geral. Fazíamos vôos contratados de Natal até Santos nesses aviões”, disse. Segundo ele, após o término da II Guerra Mundial, em 1945, cinco hidroaviões americanos modelo  PBY-5A, foram comprados por esta empresa para a realização de vôos particulares. Cada aeronave tinha capacidade para até dez pessoas e eram  tal e qual o Canadian Vickers Catalina.

“A única diferença é o país de origem: eles são idênticos”, afirmou Pery. Observando o hidroavião em todos os seus detalhes, o aviador não contém a emoção e relembra histórias do seu passado com o bimotor. Lamartine recordou à reportagem da TRIBUNA DO NORTE uma viagem que fez de Natal até Recife como co-piloto.

“Teve uma hora que o piloto me disse: ‘conduza o avião que vou tirar um cochilo’. Eu não aguentei aquele som entendiante dos motores e adormeci com ele. Acordamos com o sinal do rádio alertando que havíamos voado 10 minutos a mais e passado do ponto de pouso”, contou, risonho.

Pery abandonou a aviação ainda na década de 50, ao ser avaliado com uma arritmia cardíaca e se tornou proprietário de agências de viagem. Há mais de 60 anos que o Pery Lamartine não pilota um avião.

O cinegrafista e fotógrafo Calani Marques, de 30 anos, parte hoje da capital potiguar para realizar o trabalho de filmagem e catalogamento da expedição África do Sul até Estados Unidos. O profissional assume o posto agora, na segunda metade da viagem que deve se encerrar em três semanas.

“Uma produtora sul africana me contratou para fazer esse trabalho. Deverá se tornar num documentário, um registro histórico sobre essa viagem e sobre o avião em si”, revelou.

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