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A catedral de Notre Dame

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João Medeiros Filho
Padre

A França é denominada pelos católicos “Filha primogênita da Igreja”. Lyon é a sé primacial, criada no século II. Santo Irineu,um dos pilares da Patrística, discípulo de São Policarpo de Esmirna,foi seu primeiro bispo. Paris, enquanto diocese, data do século III. Segundo alguns autores, a região foi catequisada por Saint Denis, martirizado por volta do ano 250. Outros historiadoresafirmam ter sido São Vitorinoo primeiro prelado. Entretanto, o site oficial da arquidiocese coloca-o, como o sexto bispo, em 346 de nossa era. A sede do bispado, hoje arcebispado é a catedral de Notre Dame (Nossa Senhora).O início de sua construção data de 1136.A circunscrição eclesiástica é pequena em extensão, possuindo uma superfície de 105 Km2 com uma população aproximada de 2,3 milhões de habitantes, dos quaiscerca de 60% são católicos.

Em 1964, participamos em Notre Dame da missa de ordenação sacerdotal de padre Jacques Hubert, nosso colega de estudos, na Universidade de Louvain (Bélgica), presidida por Dom Pierre Veuillot (arcebispo coadjutor).

É ingente a importância histórica, arquitetônica, cultural e religiosa dorenomadotemplo.Não daria para descrevê-la num simples artigo.Emociona-nos saber que lá, ao som do canto gregoriano, converteu-se ao cristianismo Paul Claudel. Na noite de Natal de 1886, ouvindo o coral, acompanhado pelos acordes do órgão, chorou copiosamente e pediu a Deus que o iluminasse.O poeta fora à catedral a fimde encontrar aliinspiração artística para as suas obras literárias.Parou do lado direito da catedral, junto à segunda coluna, onde se pôs a observar as pessoas orando. Subitamente sentiu um impulso de fé, acreditando em Deus transcendente,misericordioso, afável e paternal. Veio ao encontro de Claudel oPai que conhecera, quando criança, e do qualse afastara na sua mocidade. Isto nos explicara, há mais de sessenta anos, nosso mestre Hélio Galvão, que recitava os versos claudelianos: “Onde encontrar paz, senão em Ti, Senhor? Quem enxugará as minhas lágrimas, senão Tu, Senhora Mãe do Amor e do Perdão”?

Em Notre Dame nasceram vários movimentos apostólicos marcantes para a história da Igreja. Quem esquecerá os padres operários, que aceitavam ser trabalhadores das minas, estivadores dos portos, garis anônimos? Em Notre Dame suplicavam a força e o silêncio de Maria, antes de começar sua missão. Esse modelo de vida e espiritualidade abraçounosso saudoso amigo Michel Quoist, que nos levouao CardealMaurice Feltin para receber a sua bênção. Quem não se recordará da Notre Dame, berço dos célebres sermões quaresmais,tocando os fiéis?No seu púlpito brilhou o CardealEmmanuel Suhard com suasabedoria e eloquência. É do templo sombrio e frio, embalado pelo toque dos sinos seculares,chamando os devotos de Maria Santíssima para a oração, que sentiremos saudades. Sinos que inspiraram Vitor Hugo no Corcunda de Notre Dame. “Paris, são divinos os sons dos seus sinos,os sons de Notre Dame”.

Há quem chegue a pensar em incêndio criminoso, como um bispobrasileiro, ressaltando que já foram incendiadas mais de dez igrejas nos últimos meses, na França.O incêndio é metáfora. Lembra o fogosobrenatural, destruindo a violência e a injustiça, o ódio eegoísmo, o esquecimento e desrespeito a Deus, que deseja se tornarpresente nos templos e nos tempos, porémesquecidodos homens. A Virgem Maria – em plena semana santa – viveu a repetição de seusofrimento, junto à cruz, ao ver a tristeza de seus filhos parisienses, contemplando sua casa em chamas! É lapidar a frase de Dom Eugênio Sales, quando administrador apostólico de Natal, referindo-se às obras da catedral de Nossa Senhora da Apresentação, assim afirmou: “É preciso construir primeiro a catedral dos homens [das consciências]”. Os franceses para não presenciarem outros desastres e acidentes deverão reconstruir igualmente a catedral do perdão e do amor, da fraternidade, da mansidão e humildade.O Papa Franciscodeu o exemplo, ao beijar os pés dos dirigentes do Sudão do Sul. Vale lembrar as palavras doCura d´Ars: “Deus habita no coração do homem, mas é necessário também um templo sagrado que seja a casa do encontro de todos os seus filhos”.Que todo ser humano seja realmente“o sacrário de Deus”! (1Cor 3, 16).

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