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A cidade como ponto de partida para a Cia Magiluth

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Ramon Ribeiro
Repórter

A maratona de espetáculos do Festival “O Mundo Inteiro É Um Palco” entra em sua reta final com muitas atrações imperdíveis, que provocam o olhar e suscitam reflexões sobre o momento atual do Brasil. Maior, mais abrangente e espalhado pela cidade, o evento é um retrato da cena teatral do Rio Grande do Norte hoje, articulada e forte, capaz de realizar um projeto grande, com recursos limitadíssimos.
Em ‘Aquilo que o meu olhar guardou para você’, Cia Magiluth expõe sentimentos do homem contemporâneo com um olhar local
A programação segue desta sexta-feira (30) até o domingo (02) com vários destaques, como a estreia do espetáculo solo “Sancho Pança – O fiel escudeiro”, do grupo potiguar Tropa Trupe, no sábado, às 17h, na Pinacoteca (Cidade Alta). Internado em um manicômio por jurar ser o fiel escudeiro de Dom Quixote, o palhaço Piruá (Rodrigo Bruggmann) se coloca na pele e alma de Sancho Pança a procura de um reencontro com o valente cavaleiro de La Mancha. Com direção de Walter Velázquez e musica de Gabriel Souto, a peça mostra que os heróis de hoje estão atrasados com as causas que defendem. Outra estreia é a do espetáculo “Violetas”, da Cia Violetas de Teatro (RN), com dramaturgia e interpretação de Mayra Montenegro, no domingo, às 19h, no espaço Aboca de Teatros (Ribeira).

O público também vai poder conferir reapresentações de peças potiguares, apresentações de dança e de peças de grupos de fora do estado. O encerramento será no Barracão Clowns (Nova Descoberta), com o espetáculo “Aquilo que o meu olhar guardou para você”, do Grupo Magiluth, de Pernambuco.

Conferindo à plateia uma função ativa e propositiva, o espetáculo ora narra ora mostra histórias que tratam do homem contemporâneo e sua vida nas cidades. Estão lá as contradições de sentimentos, as formas como vive medindo o quanto se envolve com as coisas, o quanto se protege das pessoas, além muitos outros aspectos. A obra também tem a peculiaridade de trazer para o texto informações sobre a cidade onde será apresentada.

“Aquilo que o meu olhar guardou para você” é a peça com a qual o Magiluth mais circulou. Em Natal será a terceira vez que o grupo a apresenta. A ocasião será especial porque marcará o lançamento do livro com o texto do espetáculo. Publicado pela Fortunella Casa Editrice, “Aquilo que o meu olhar guardou para você” é o sétimo título da editora norte-riograndense e o segundo na área de dramaturgia – o primeiro foi “Guerra, Formigas e Palhaços”, do potiguar César Ferrario. Antes de Natal a obra havia sido lançada em maio deste ano, no Recife, também com apresentação do espetáculo.

“Parte da premissa de estar na cidade, do que a cidade nos dá de pulsação. Trabalhamos a cidade da apresentação por meio do que o local nos provoca de lembranças. O que mais salta na história é o humano, a relação entre as pessoas. É um espetáculo que se mantém muito vivo. Muda de acordo com o momento”, explica o dramaturgo e ator do grupo Giordano Castro sobre a peça, apresentada pela primeira vez em 2012. “Normalmente a gente chega na cidade e faz uma pesquisa. Essa será nossa terceira vez com o espetáculo em Natal. Para essa nova apresentação vamos fazer algumas mudanças”.
Publicado pelo selo local Fortunela, “Aquilo que meu Olhar Guardou para Você” é uma fábula sobre o comportamento do homem contemporâneo e as contradições de seus sentimentos
“Algumas coisas de Natal são gritantes para nós, como a Ribeira. É um bairro que já foi muito pulsante, onde houve hotéis importantes, conta com um porto. E agora o bairro está deixado de lado. É um aspecto da cidade que cai bem no nosso espetáculo, que dentre outras coisas, fala de memória”, reflete o pernambucano. Apesar do texto parece aberto, ele afirma não ter sido difícil organizá-lo para publicar em livro. “É mais difícil adaptá-lo a cada cidade. O texto é como um queijo, cheio de buracos para ser preenchido”.

Giordano também atenta para o contexto em que o espetáculo será apresentado, dentro de um festival feito de modo coletivo, por grupos de teatros, no momento esquisito pelo qual o país passa. “É um festival feito na guerrilha, não só pelo Clowns, mas por toda a cena teatral. É preciso levar a ideia de resistência em consideração. Estamos indo sem cachê para manter esse movimento vivo. O festival Faz com que a cena respire, reveja linguagens e estéticas”, diz o artista. “A maioria dos grupos do país é contra o golpe. Porque o que aconteceu no Brasil foi sim um golpe e precisa ser combatido”.

Ainda em outubro o Magiluth retorna a Natal para duas apresentações do mais recente espetáculo do grupo, “O Ano Em Que sonhamos Perigosamente”, de 2015.

Bate-papo com Pedro Wagner, ator de Magiluth viveu um estuprador na série Justiça
O ator pernambucano Pedro Wagner, do Grupo Magiluth, deu vida ao estuprador Oswaldo, na elogiada série Justiça, da Globo. Na trama, ele violentou Débora, interpretada por Luisa Arraes. A cena do estupro foi bastante comentada e marcou a atriz, tanto que ela não quis ver a cena gravada. Pedro estará em Natal para participar do espetáculo “Aquilo que o meu olhar guardou para você” e celebrar o lançamento do livro com o texto da peça. O ator conversou com o Viver:

Justiça foi seu primeiro trabalho na televisão? Como foi participar da série?
Foi minha primeira vez na televisão. Recebi o convite no começo do ano, quando estava em São Paulo, em cartaz com a peça “A Tragédia Latino-Americana”, de Felipe Hirsch. Fui ao Rio conversar com o diretor da série, ele me pediu para fazer um vídeo. Daí sai para provar figurinos. Foi tudo muito rápido. É um texto bacana.
Pedro Wagner
Uma coisa legal de Justiça foi a Globo sair um pouco do eixo Rio-SP para gravar…
O texto tratava de qualquer cidade. Foi opção da direção escolher Recife. A cidade não foi usada como caricatura. A ideia foi captar a atmosfera de Recife, seus rostos e falas. Ficou bacana.

A produção da série aproveitou artistas locais?
No elenco tinha gente de todo o Nordeste. Tinha gente do teatro também. Foram 40 dias de gravação. Na parte da equipe técnica, por trás das câmeras, a produção também soube aproveitar essa tendência para o audiovisual de Recife.

Como é a relação do cinema com o teatro em Pernambuco?
O diálogo poderia ser mais profundo. Mas está melhorando. Já foi muito distante. O Hilton Lacerda pretende falar dessa relação cinema e teatro numa série que ele vai fazer.

Está envolvido em outros projetos?
Vou fazer um especial de fim de ano para Globo. Tem outros filmes e projetos que não posso contar porque ainda vão acontecer. No teatro vou viajar para a Europa com a peça do Felipe Hirsch, e iniciar uma nova montagem com o Magiluth, baseada em texto de Shakespeare.

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