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A cidade perde a alegria d’ sales

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Ramon Ribeiro

Repórter

Colaborou: Cinthia Lopes

Natal perdeu sua drag queen mais querida. Arruda Sales, que há pelo menos 30 anos dá vida à irreverente Danuza D’Sales, faleceu na manhã de sexta-feira (14) em sua casa enquanto dormia. Arruda tinha 64 anos e, segundo informações da família, morreu de um infarto. O velório foi realizado no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP), no Tirol. O sepultamento está previsto para acontecer na manhã deste sábado (15), em São José de Mipibu, cidade onde o artista nasceu.

Personalidade da vida cultural potiguar morre aos 64 anos, em decorrência de um infarto


Personalidade da vida cultural potiguar morre aos 64 anos, em decorrência de um infarto

“Ele vinha trabalhando com artesanato e se apresentando normalmente. Mas nos últimos dias pegou um gripe forte. A gente até estava esperando o resultado dos exames para saber se era dengue ou chikungunya”, contou a sobrinha de Arruda, Melissa Sales. “Era meu único tio por parte de mãe. Estava sempre na fazenda nos visitando. Era uma pessoa que não rendia esforços para ajudar quem precisava. E para os sobrinhos sempre foi uma forte inspiração. Gosto de pintura por causa dele”.

Nas redes sociais muitos amigos e admiradores publicaram manifestações de carinho ao artista. A página do Burro Elétrico, que tinha Danuza como madrinha de carnaval, destacou seu trabalho na rádio FM Tropical. “A drag que apresentava caracterizada, cheia de caras e bocas, e uma linguagem escrachada, sempre de bem com o riso. Danuza vai continuar coroando o bom humor no céu, com suas tiradas de duplo sentido”.

O lado carnavalesco foi lembrando pelo amigo Lula Belmont, do Bardallos Comida e Arte em depoimento ao VIVER. “Era uma pessoa super pra cima, gostava muito do carnaval. Arruda foi um dos primeiros a sair fantasiado na Bandagália. N’As Kengas também ele sempre participava quando estava em Natal. Ajudava na organização. Tinha um bom relacionamento com todo mundo da sociedade”, disse Belmont.

O cineasta e jornalista Henrique Arruda foi outro que manifestou seu carinho pelo artista. Em seu último curta-metragem, “Verde Limão”, ele contou com a participação de Arruda Sales no elenco.

“Danuza D’Salles foi a primeira Drag Queen convidada para o nosso curta-metragem, em um papel que sempre foi pensado para ela, e desde o primeiro contato disponibilizou todo o seu acervo pessoal de figurinos, adereços e perucas para o filme, era pontualíssima em cada ensaio, e na reta final ainda nos ajudou na campanha de financiamento coletivo, criando ecobags exclusivas de sua marca para contribuir com nossa arrecadação”, postou o jornalista na página do “Verde Limão” no Facebook. “Sempre nos fazendo rir, hoje nos faz sentir saudade. Obrigado Danuza, mas também ao homem por trás da Queen, Arruda Sales, pelos mais de 30 anos de arte e luta. Vocês dois ficarão para sempre nos nossos corações”.

Artista plástico e agitador da noite natalense
Arruda Sales conquistou os natalenses com seu jeito alegre e bem humorado em programas de rádio de grande audiência e em eventos que marcaram a noite da cidade. Pioneiro da cena transformista, ele comandou o Frenesi Café Teatro, na Ribeira, nos início dos anos 80. Mas suas primeiras manifestações artísticas foram com o desenho e a pintura.

Artista de pintura naif, Arruda comentou sobre seu trabalho na última entrevista concedida à TRIBUNA DO NORTE, em janeiro de 2018. “Nas minhas pinturas sempre mesclei profano e religioso, abordando lendas e outros temas, como bailarinas, que era uma coisa que eu gostava quando vivia em São José de Mipibu. Ficava fascinado com circo. Quando comecei a pintar reproduzi o mundo imaginário lúdico que vivi na infância”, disse Arruda, que além do carnaval, adorava São João.

A solicialite Denise Gaspar postou em sua rede social Instagram uma foto ao lado do artista e um catálogo da primeira exposição de Arruda, no hall do Edifício Chácara 402. “Fui patronesse de uma das primeiras exposições de Arruda Sales. Meu abraço de pesar para toda a família”, escreveu.

Lembranças
“S. J. de Mipibu era muito pacata, pequena. No São João a cidade ficava em festa. As famílias competiam para ver quem fazia a maior fogueira, decoravam as casas com bandeirinhas. Tinha que fazer até a cola com goma porque não vendia por lá. Eu adorava assistir as apresentações de pastoril. Tinha aquela rivalidade entre o grupo azul e o vermelho”, contou Arruda, sobre sua terra natal.

Sobre a personagem Danuza, o artista contou que primeira ela fez sucesso no rádio até ganhar a noite de Natal – e de outras cidades do Nordeste. “As pessoas primeiro conheceram minha voz. Mas eu ia montado para o Rádio. O programa fez muito sucesso. Depois comecei a me apresentar como Danuza, o que faço até hoje. Sou convidado para todos os tipos de evento”, disse a artista em 2018.

Arruda também falou sobre como era a aceitação dentro de casa ao seu trabalho. “Quando comecei como transformista já tinha gente fazendo em Natal. Alguns faziam escondido da família. Eu não. Sempre falei para os meus pais que eu era artista. Então depois falei que agora era drag queen”, disse a artista, que também comentou sobre a cena atual de drag queens da cidade. “Na cidade tem uma turma nova se apresentando. O pessoal me tem como a mais idosa. As drags de hoje são todas magrinhas, fazem novas performances, usam outras maquiagens. Eu nunca mudei minha maquiagem. Me arrumo em 20 minutos, até com pouco iluminação”.

Monólogo
Há pelo menos dois anos Arruda vinha trabalhando em um projeto de monólogo sobre Zila Mamede, com texto de Tarcísio Gurgel. Ele querida fazer algo não caricato, mudar um pouco o foco. O projeto estava em fase de pesquisa, a partir dos vídeos de Zila na TVU, os livros, entrevistas com  pessoas que conviveram com ela. “Até uma roupa semelhante ao que ela usava no vídeo da TVU eu comprei em Brechó”, contou à época.

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