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A coragem

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Vicente Serejo
Dizia doutor Omar Lopes Cardoso, meu sogro, farmacêutico da turma de vinte e oito da faculdade de farmácia do Recife, fundador da velha Farmácia Natal, capitão do Exército e histórico revolucionário de trinta: a coragem é serena. Ainda o conheci portando uma pistola 45, direito garantido a oficial superior, com coragem atestada por Adauto Câmara em suas memórias. Dizia não acreditar em tipos barulhento e ruidosos. Não erguia a voz, nem ameaçava a ninguém. 
Lembrei nossas conversas, sempre no almoço dos domingos, diante da atitude do médico e almirante Antônio Barra Torres, diretor da Agência de Vigilância Sanitária, quando li a nota dirigida ao presidente Jair Bolsonaro. Atestou a coragem de um e a perda de limite do outro. O presidente não tinha o direito de insinuar interesses suspeitos do diretor da Anvisa sem mostrar provas. Insinuou certo de que do outro lado estava um homem medroso diante de autoridades.
Bem ao contrário. Torres parece um homem firme e sereno, feito daquela serenidade que esta coluna elogiara na sexta-feira, ao escrevê-la e remetê-la à redação do jornal, quando sua nota só seria lançada no sábado. O jornalismo não adivinha. Segue os vestígios e as marcas dos fatos e estes já vinham, em pequenos episódios, revelando a personalidade do homem que do outro lado dos seus óculos só quebrava o silêncio para defender a grande instituição sob a sua direção. 
Ora, foi com a mesma serenidade que professou sua ética na medicina, lembrou seus 32 anos de serviços médicos prestados à Marinha, sua condição de Almirante da reserva. Portanto, de oficial do generalato. O erro do presidente Jair Bolsonaro é o mesmo: pensar que aqueles que pensam o contrário de suas convicções são suspeitos e fracos na defesa da honra diante de alguém com as prerrogativas do maior cargo, mas com uma tal menor consciência do grave dever ético.  
Barra Torres foi além do couro grosso do paraquedista-presidente. Retirou as estrelas que por acaso pudessem servir de escudo e jogou na mesa o desafio: que o presidente determinasse a imediata instauração de investigação para apurar os interesses que insinuou não saber as razões, quando foi uma decisão colegiada, pública, nos padrões inclusive dos Estados Unidos e alguns países da Europa. E exortou sua excelência a não prevaricar em nome do Deus que proclama.  
A reação do médico e almirante Antônio Barra Torres, nomeado pelo próprio Bolsonaro, não nasce do seu mandato irrevogável de quatro anos, garantia da independência científica da Anvisa. Nasce de quem não teme o risco de desagradar poderosos. Representou o segundo grande gesto-referência, depois do comandante do Exército quando impôs vacinação para o acesso aos quartéis. É bom aprender: não se afronta a dignidade de ninguém. Às vezes, é muito perigoso…
RUIM – O desmentido do prefeito Álvaro Dias, negando a chance de aliança com o MDB, mostra que o ex-governador Garibaldi Filho precisa fazer política sem o azeite pegajoso da paternidade.   
COMO? – O ministro Fábio Faria é bom de voto, mas é fraca sua sociologia política ao imaginar que o comunismo pode voltar ao Brasil pelas mãos do PT, se Lula for eleito Presidente este ano. 
TINTURA – O PT deve ser considerado à esquerda no atual espectro partidário brasileiro, mas não é um partido comunista. Não tem essa tradição e esse interesse. Adota o bom de cada lado.  
VÍCIO – A História demonstra que temos muito mais uma tendência para ditaduras de direita do que de esquerda. A crise da direita é não ter um líder, hoje cercada de chefes por todos os lados. 
ALIÁS – O maior reforço ao aleijão de substituir líderes por chefes é um fundão partidário de cinco bilhões na mão dos caciques. E, bem pior: com licença, na prática, para gastar livremente. 
– O vice Antenor Roberto só será candidato se for, de novo, a vice-governador, o mesmo que já declarou o senador Jean-Paul Prates. Significa que o PT não precisa de espaço para as alianças? 
RAIZ – Além do mais, já tem dois nomes para a Câmara Federal, se é que fará dois deputados: Natália Bonavides e Fernando Mineiro. Aos aliados, bastaria a honra da companhia e já é muito? 
PIOR – As pesquisas mostram que Jair Bolsonaro pode inviabilizar a terceira via. A menos que o marketing vista Sérgio Moro do justiceiro de verdade contra o falso justiceiro que é Bolsonaro. 

ENIGMA – Ninguém entendeu bem a declaração do senador Jean-Paul Prates quando desafiou o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves a ir para o ringue disputar a aliança com o PDT a vaga de senador na chapa 2022. A não ser que o PT nacional não decida nada sobre a chapa do PT local.
BARREIRA – Ao mesmo tempo, as recentes declarações do vice-governador Antenor Roberto e do senador Jean-Paul revelam que se forma um efeito-barreira em torno da governadora Fátima Bezerra para que não dispute a reeleição cercada de Alves: Garibaldi, Walter e Carlos Eduardo. 

RISCO – Para os petistas de raiz, as candidaturas de Walter Alves a vice, substituindo Antenor; e de Carlos Eduardo, no lugar de Jean-Paul, descaracterizariam o discurso do PT. No marketing, significa botar pólvora nas mãos do adversário do PT que, até hoje, ainda não se sabe quem será.  
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