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A corrente das Quintas profundas

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Yuno Silva
Repórter

Limite municipal entre Natal e Macaíba durante séculos, o bairro das Quintas foi oficializado em 30 de setembro de 1947 pelo então prefeito Sílvio Pedroza (1918-1998), neto de Fabrício Gomes Pedroza, comerciante da região do século 19. Por mais de duas décadas, já no século 20, lá para os caminhos do Km 6, havia uma corrente no local que servia como parada obrigatória aos veículos que seriam inspecionados pela fiscalização estadual – lugar popularmente conhecido como “Quintas profundas”.

Palhaço Michellim, aos 55 anos, desde os 3 anos no picadeiro
Palhaço Michellim, aos 55 anos, desde os 3 anos no picadeiro

As várias camadas urbanas das Quintas podem ser visualizadas a partir do alto da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira do bairro. Com pouco esforço é possível imaginar como a região se configurava no passado e como se configura no presente: as lavouras que se esparramavam em direção às margens do Rio Potengi, a linha do trem na fronteira com o Alecrim, a labuta no Rio das Lavadeiras (como ficou conhecido o Rio das Quintas, cujo leito hoje está cercado pela comunidade Novo Horizonte (antiga Favela do Japão).

As Quintas foi endereço do primeiro matadouro público, que funcionou onde hoje é a sede da Urbana; e das sessões do extinto cinema São José. É lá que está o Hospital Giselda Trigueiro, referência regional no tratamento de doenças infecciosas.

Nas Quintas tem espaço para igrejas, grupos de escoteiros, terreiros como o ‘Xangô de Zacarias’, os centros de oração, o mercado público e as feiras do Carrasco e das Quintas, a casa-castelo de seu Zé dos Montes. Ao circular pelo bairro, de ruas largas e becos estreitos, também é possível ouvir histórias de pessoas já falecidas como o Nego Ximba, único homem que lavava roupas no Rio das Lavadeiras; do professor de música seu Severino Cordeiro, que hoje dá nome à banda da escola Ferreira Itajubá; da atriz e poetisa Palmira Wanderley (1894-1978); e de seu Marcílio Canário, fundador do Arraial da Barauê, primeira quadrilha estilizada de Natal. 

O bairro também é lar de Dona Minervina, lúcida aos 95 anos e criadora do Centro Espírita Manoel Nicodemus, o mais antigo das Quintas; do palhaço Michelim, 55, desde os 3 anos no picadeiro; e de Berg que mantém acesa a chama do grupo dos boêmios.

O diretor de teatro Lenilton Teixeira, do grupo Estandarte, morador das Quintas entre 1969 e 1990, ainda citou entre os filhos das Quintas o percussionista de renome internacional Mingo Araújo. “Tinha um cara chamado Baracho, uma espécie de Robin Hood para a comunidade, hoje enterrado no cemitério do Bom Pastor”. Entre as memórias afetivas de Teixeira as Quintas vive como “espaço de convivência, lugar de brincadeiras na rua. Nessa época as ruas não eram nem calçadas e, no máximo, a rixa era entre quem cortou a pipa de quem – que no final acabava tudo em brincadeira”.

Mestre sala e presidente de escola de samba, e secretário da atual gestão do Conselho Comunitário das Quintas, João Barbosa, 54, contou que o bairro já teve três escolas de samba no Carnaval da cidade, a Imperadores do Samba (a primeira de Natal), Unidos de São Lucas e Unidos de Paiatis (todas desativadas, atualmente); mais de 20 grupos de teatro (já desativados); e quase 30 arraiás juninos. É daqui grupos famosos como Arrocha o Nó e Rala o Pinto”, citou Barbosa, filho do já falecido carnavalesco João Lucas, que ajudou a inaugurar a Rua São Lucas em 1957.

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