João Medeiros Filho
Padre
Até chegar ao leitor, o livro passa pelo seguinte itinerário: autor, editor, gráfica, distribuidor e livraria. Algumas empresas detêm quase todo esse circuito. O mercado brasileiro de editoras e livrarias encerrou 2018, sob muitas nuvens densas e escuras. Setores importantes dessa cadeia entraram em processo de recuperação judicial, fechando dezenas de lojas ou filiais. Indubitavelmente, o momento de recessão econômica, pela qual passa o país, impactou consideravelmente as casas desse ramo, já antes fragilizadas. O fechamento de postos de venda e distribuição traz repercussões sérias sobre a vida literária e cultural. Sem dúvida, isso se deve a diferentes fatores. Sabe-se que o brasileiro não é muito chegado à leitura. Estudiosos afirmam que os europeus, por conta do frio, ficam mais enclausurados. Sol, praia, clima e natureza deixam-nos menos concentrados. Para vários, o livro é considerado supérfluo. Quando o dinheiro torna-se escasso, o gasto com livros, jornais e revistas é dos primeiros a ser cortado. Outrora, quando se encontrava um amigo, perguntava-se: o que está lendo? Hoje, o questionamento é diferente: viu o blog de fulano, o “youtube”?
Fala-se que a falta de alfabetização é também uma das causas dessa realidade. Segundo estatísticas, mesmo que o número de pessoas letradas tenha aumentado, o advento da mídia eletrônica vem contribuindo para aumentar o analfabetismo funcional. Antigamente, para seus trabalhos escolares o aluno consultava enciclopédias. Coleções clássicas povoavam as bibliotecas familiares. Em alguns lares podia-se encontrar: Tesouro da Juventude, Barsa, Britânica, Delta Larousse etc. Hoje, com a internet e o Google, ficou mais fácil encontrar informações sobre qualquer assunto. O uso do “copiar” e “colar” torna-se costume, deixando o cérebro preguiçoso. No passado, os estudantes aprendiam nos livros, hoje dividem a atenção entre o celular e o computador, que estimula o hábito da leitura superficial e explica, em parte, a dificuldade em redigir bem. Ler exige atenção e disciplina. Hoje poucos conseguem se concentrar. Configura-se uma civilização dispersiva, de muitas informações e pouca profundidade.
O avanço tecnológico fez com que o livro tradicional encontrasse concorrência em outras plataformas. É possível baixar um arquivo em segundos e armazenar inúmeras obras, sem a necessidade de espaço físico. O acesso ao livro eletrônico (“e-books”) é relativamente mais barato, podendo às vezes ser gratuito. Embora muitos resistam, os novos suportes tentam transformar o livro impresso em peça de museu. A sociedade vem acompanhando o fim de jornais, atropelados pela tecnologia digital. O Rio Grande do Norte assistiu nesta última década ao encerramento, em Natal e Mossoró, do Diário de Natal (O Poti), Jornal de Hoje, Novo Jornal, Correio da Tarde, Gazeta do Oeste e O Mossoroense.
Os editores e livreiros investem pouco em publicidade. Tais empresas precisam divulgar largamente seus produtos numa sociedade consumista de espetáculos, cada vez mais sofisticados. O livro permanece quase desconhecido e invisível para o grande público. Isso dificulta a formação de leitores e a consequente ampliação do mercado. Para complicar o quadro, algumas editoras voltam-se para atender a demandas governamentais, em função de bibliotecas públicas e escolares. Com as crises dos governos – não cabe aqui discutir a qualidade dessas edições – as vendas diminuíram. Impostos e taxas sacrificam as editoras e livrarias. Some-se a isso a má qualidade do ensino no Brasil, classificado em penúltimo lugar entre os quarenta países pesquisados, em 2018, pela “Economist Intelligence Unit”, noticiada no portal da Associação Brasileira de Educação.