Yuno Silva
repórter
Natal está recebendo nove ativações financiadas pelo Ministério da Cultura durante a Copa do Mundo. Música, teatro, dança, artes visuais e cultura popular formam o grosso de um caldo que apresenta a diversidade brasileira; projetos que juntos somam R$ 1 milhão em investimentos provenientes do edital Concurso Cultura 2014. Nessa conta não estão inclusos o flash mob “Grande Dança Brasil” e os R$ 150 mil do Baile Enfeitado, proposta da República das Artes que irá levar o Boi Calemba Pintadinho (de São Gonçalo do Amarante) para o Rio Grande do Sul. Mas se por um lado sobram motivos para saborear um cardápio variado e gratuito de atrações, por outro vale avaliar o alcance e a capacidade das iniciativas em promover uma real interação com os visitantes que circulam na cidade no período.
Razões para tentar justificar a baixa audiência em eventos também não faltam: chuva, greve de ônibus, divulgação esparsa, falta de informação e locais não tão interessantes para acolher espetáculos sem grande apelo de grupos de fora do RN estão na lista. Dois casos ilustram bem a situação, quando na platéia de um deles apenas duas pessoas apareceram para conferir a apresentação – no outro, não mais de meia dúzia. E nem adianta dar nome aos bois, já foi, já aconteceu.
“Faltou mais envolvimento das instituições culturais da Prefeitura e do Governo na divulgação dessas ações”, acredita Gilson Matias, chefe da Representação Regional Nordeste do MinC. Ele compara a performance das ativações em Natal com as de Recife e Fortaleza, onde visitantes e o público local marcaram presença equilibrada.
“Roteiro no centro não rolou”
A produtora Inês Latorraca, da Banda DuGiba, que vem apresentando música instrumental no pátio da Fundação Capitania das Artes, afirma que as chuvas e a greve dos ônibus influenciaram na baixa audiência das apresentações. “Nas melhores noite recebemos em torno de cento e poucas pessoas, mas, se muito, vi uns três turistas”, arrisca. Ela contou que distribuiu material de divulgação em hotéis, pousadas e centros de artesanato. “Na hora do ‘vâmo ver’ a cidade virou um caos (greve de ônibus e chuva), e não estou vendo turistas circulando na cidade. Havia uma promessa de se promover um roteiro cultural no Centro Histórico que não rolou”, lamenta. Para a produtora a ação do MinC está muito desvinculada da Copa do Mundo (restrições impostas pela Fifa) e diz que percebe desconexão entre as diversas atividades.
A pesquisadora Ivani Machado, do Centro de Projeto e Pesquisa Coco do Calemba, de São Gonçalo do Amarante, uma das coordenadoras do projeto “Eu danço e canto coco”, destaca que “o projeto irá servir para ocuparmos espaços em Natal, mostrar nossa arte para um público maior”, comemora, “mas ainda não posso avaliar a quantidade de público”, completa. O grupo que faz releituras de cocos de roda só realizou apenas uma apresentação.
#saibamais#Já o gaúcho Ilson Fonseca, ator responsável por fazer a ligação entre as encenações e a parte musical do Fandango Tradicional Gaúcho em cartaz até hoje no Teatro de Cultura Popular, garante que, apesar da presença tímida do público, o alcance do projeto corresponde às expectativas. “O teatro (TCP) atende nossa proposta intimista de apresentar danças tradicionais do RS com delicadeza. É uma demonstração e não uma mega produção, e preferimos apresentar para pessoas interessadas em prestar atenção no que está sendo mostrado no palco sem preocupação com quantidade”, frisa. “Ontem (quinta), durante o jogo aqui em Natal (entre Japão e Grécia) recebemos de 50 a 60 pessoas, então não podemos determinar o sucesso – ou não – de um espetáculo pelos ausentes”.
Bate-papo – Gilson Matias
Chefe da Representação Regional Nordeste do MinC
Alguns eventos aqui em Natal contabilizaram pouco público. O período de chuvas e a greve de ônibus podem explicar esse desfalque?
No geral percebemos que a greve de ônibus dificultou, mas não atrapalhou de maneira a comprometer os eventos. Tirando as chuvas, temos que considerar outros fatores como local de realização e o próprio perfil das atrações.
É fato que os turistas não estão chegando aos eventos. Esse resultado serve para corrigir iniciativas semelhantes no futuro?
Sem dúvida, toda a prática precisa ser repensada para melhorar em outra oportunidade. Comparando Natal com Fortaleza e Recife, as três sub-sedes da Copa do Mundo com cobertura da RRMinC/NE*, as gestões públicas daquelas cidades criaram canais de divulgação e abriram caminho nos veículos de comunicação – o que faz toda a diferença. * a Bahia tem Representação própria do MinC.
E quanto ao atraso no repasse da antecipação de 30% dos recursos previstos no edital, isso também poderia comprometer?
Esse foi um problema ocasionado pela greve dos servidores federais, o que dificultou e tornou mais lento o trâmite dos processos. Mas as coisas estão caminhando, essa antecipação deve sair depois da Copa mas antes da parcela final, que será paga – o mais rápido possível – após a prestação de contas dos projetos.