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A despedida do maestro e da estrela

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Maria Betânia Monteiro – repórter

Sentados no mesmo sofá, após um breve ensaio, o maestro Waldemar Ernesto Hetzel (86) e a cantora Glorinha Oliveira (84) falaram sobre o retorno aos palcos, neste que pretende ser o último show dos jovens senhores: “O Maestro e a Estrela”, marcado para hoje, às 20h, no Teatro Alberto Maranhão. “Com o show estou me despedindo da beleza do trabalho e da felicidade de fazer música”, disse o maestro e a estrela completou: “Não queria continuar, mas, modéstia a parte, os meus fãs pediram o meu retorno ao palco”.

Waldemar Ernesto Hetzel e Glorinha Oliveira se despedem do palco em grande estilo, num encontro que promete transceder a músicaDepois de algumas perguntas, ficaram ambos muito à vontade para falar sobre suas carreiras. Intrigados com as surpresas trazidas pela idade avançada, ambos concordaram que a música e as suas vidadas foram uma coisa só, sendo assim, não seria possível chegar ao fim dela sem que antes subissem ao palco pela última vez e de preferência juntos.

“Fizemos por muitos anos uma parceria. Temos afinidade musical”, disse a cantora. “Conheço tanto a Glorinha, que um dia ela veio gravar rouca e eu acertei que ela havia passado o dia cantando em casa”, completou o maestro.

Desde o último encontro musical, que aconteceu em 1998, ambos foram se distanciando da música pelo mesmo motivo: medo da imperfeição. Glorinha disse que vez ou outra chora, quando ouve e compara as gravações feitas no passado. Waldemar explica que a idade é uma coisa séria. “A gente precisa parar, senão nos tornamos ridículos”.

Mas o que eles talvez não consigam ver, e isso é apenas excesso de modéstia, é que talento e carisma são inesgotáveis. Durante os ensaios para o show de hoje, eles brincaram com a música, sugerindo ritmos, escalas notas, deixando evidente uma bagagem afetiva e musical, que os jovens, apesar do talento, não conseguem ter a disposição. 

Waldemar e Glorinha foram artistas aclamados na época de ouro da música nacional brasileira. Nascida em Natal, Glorinha fez parte da fundação, em 1940, da primeira rádio potiguar, a Rádio Educadora de Natal, que em seguida passou a ser chamada de Rádio Poti. Na década de 1950 viajou por quase todo o país, prestigiando a inauguração de diversos veículos de comunicação, entre eles a Rádios Associados e os aniversários das TVs Tupi do Rio e de São Paulo. O maior destaque na carreira de Glorinha foi a sua participação no programa da Rádio Poti, “A Estrela Canta”.

Neste mesmo período, o pianista gaúcho, radicado em Natal, Waldemar Ernesto consagrou-se maestro da Orquestra da Rádio Poti, estabelecendo ainda um acordo com o clube América, onde tocava nos finais de semana com o famosos “Sexteto”. Waldemar também foi músico do Aeroclube de Natal. Em seguida partiu para os circuitos do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, trabalhando nos bailes, boates e teatros mais famosos da época. Em 1967 recebeu o convite para inaugurar a nova sede do Clube América de Natal.

A história daqueles que ensinaram a amar

Completamente animado e pedindo para que Glorinha confirmasse tudo o que estava contando, Waldemar sugeriu que esta repórter começasse o texto relatando uma estória: “Todos os domingos, a minha filha diz que é dos pais. Então ela me pega em casa para almoçarmos juntos. Há pouco tempo estávamos no restaurante e um casal sentou-se numa mesa em frente à nossa. O homem ficou olhando para mim. Ele pôs os talheres no prato e disse bem alto, para que todos ouvissem: Waldemar, você me ensinou a amar. Não levantei, não falei nada. Fiquei pateta. Eu queria convidar este casal para o show, para que finalmente pudesse dizer obrigado”.

Ao ouvir o amigo relatar o fato, Glorinha tomou a fala e disse: “este homem era muito querido”. E como se fosse possível duvidar do talento de Waldemar, ele pediu novamente o apoio da cantora para que confirmasse outra estória, a de ter tocado com grandes nomes da música nacional e internacional. “Quando eu tocava no Clube Paris, em São Paulo, recebi cantores da França, Itália, Espanha, Cuba, Argentina. Toquei com Dorival Caymmi, Jackson do Pandeiro, não foi Glorinha?” perguntou o maestro e a amiga completou: “Tocou com muitos nomes. Com Nelson Gonçalves, Maria Creuza, Flora Purim…”. “Flora Purim? Essa nem eu me lembrava”, disse Waldemar em meio a risadas. E mais uma vez, ambos concordaram: “isso é coisa da idade”. No ritmo dos anos que se passaram, o maestro Waldemar e a cantora Glorinha Oliveira vão tocar na noite de hoje, músicas de sua escolha, como “Se eu fosse você” (Tom Jobim/ Vinícius de Morais); “Boa noite” (J.M. de Abreu/ Francisco Mattoso); As Rosas não falam (Cartola), dentre outras.

O espetáculo será abrilhantado pela presença dos músicos Eduardo Tauffic, Joca Costa, Manoca Barreto, Darlan Marley, Juliano Jow-Jow e Carlos Zens. Durante o show também serão apresentadas as heranças musicais deixadas por Waldemar e Glorinha, já que no palco do TAM estarão Bruna Hetzel e  Yure Hetzel, netos de Waldemar; e Aécio Queiroz e Katharina Gurgel, filho e neta de Glorinha.

Seguindo a sugestão de Waldemar Ernesto, esta matéria acaba com as suas palavras: “é bom ser músico” e também com as de Glorinha: “é bom cantar”.

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