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A dor fortalece

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Diógenes da Cunha Lima
Escritor, advogado e presidente da ANL
Dor é alarme do corpo, aviso à alma. Uma grande dor está envolvendo o planeta. O vírus chinês trouxe o medo coletivo de um mal difuso que não se sabe de onde poderá vir, nem quando poderá atacar. É o encontro com o desconhecido. Vivemos perdas de seres humanos, de algum amigo, de emprego e renda, de hábitos consolidados, de alegrias miúdas, perdemos parte do que somos.
Por outro lado, constatamos solidariedades insuspeitadas, adensamento de reflexão, crescimento da fé e esperança.
O clínico Artur Quintiliano, que acabou o seu doutorado com êxito, apresentou tese inovadora sobre dor. Havia trazido para mim uma frase difundida em centro espírita: “A dor é o berço rústico da fé”. Provei a verdade da afirmação.
Por considerar uma certa facilidade, o escritor Irapuan Sobral acrescenta: “A fé é saber que a vida que se escreve será assinada por Deus”. A dor é solitária, individual, única, subjetiva, personalíssima. Sobre esta falo de cátedra.
Quando a Bíblia se refere a um tempo dilatado diz quarenta dias e quarenta noites. Assim foi Moisés no Sinai, Jesus no deserto, o tempo do dilúvio. Tive dores em função da coluna vertebral quarenta dias e quarenta noites por duas vezes. Não era uma dor assimilável, civilizada, mas uma dor selvagem, avassaladora.
A superação que experimento é fruto da competência médica unida à força das preces da família, dos amigos. O importante é não desanimar, não desejar sair de dentro de si mesmo, desviver. Seguir a linha de Gilberto Gil: “Se eu quiser falar com Deus, tenho que aceitar a dor”.
A Associação Internacional para o Estudo da Dor a conceitua como uma experiência sensitiva e emocional, desagradável, particular e intransferível, que produz lesão tecidual. Poderia acrescentar que a dor ensina. O povo sabe que ela é má conselheira, mas também adota a sabedoria da austríaca Marie von Ebner: “A dor é o grande Mestre dos homens. Sob seu sopro, as almas se desenvolvem”.
É mais fácil dizer do que conviver com a dor, por isso a ironia shakespeareana: “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, menos quem a sente”. Santo Agostinho orienta o homem a deixar se conduzir: “Ter fé é assinar uma folha em branco, deixar que Deus nela escreva o que quiser”. Sinto que a dor é indispensável. Os dolorosos, na maioria das vezes, vão aos hospitais, um lugar “que por infelicidade se procura, e por felicidade se encontra”, na expressão do político e intelectual paraibano Alcides Carneiro.
Em verdade, não há dúvida de que essa dor universal trará uma humanidade mais forte. Consciente da sua fragilidade, afastará muitas das dores emocionais. A dor ensina a ser resiliente, a minimizar problemas cotidianos, a ser conduzido pelo Bem e para o bem.  
Ainda que a dor não ensine a gemer, faz coisa mais importante: fortalece o caráter.
Artigo publicado com assinatura não traduz a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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