Vicente Serejo
Ainda tenho a esperança, Senhor Redator, de ver contada em cores fortes, a verdadeira história das ideias emprenhadas e não paridas em torno da Avenida Roberto Freire. Um surto que vem de longe, quando ainda era estrada deserta e depois estreita e calçada, com uma boate bem no estilo estrangeirado e charmoso daquele tempo que se escrevia boite: o Hippie Drive-in. Faz tempo, Natal era uma vila calma e boa, sem caldeirão do diabo e barreira do inferno.
No governo passado, irrompeu uma erupção vulcânica que ficaria conhecida, entre os engenheiros do DER, de ‘Projeto Dubai’. Um sofisticado e caro complexo de saliências e reentrâncias, um sistema de vias que subiam e depois desciam, entrando e saindo da terra, que acabou apelidada assim, tão desvairada foi a sua concepção. E o delírio, como se não bastasse, foi até anunciado quando o governo já atrasava salários e devorava o Fundo Previdenciário.
O dinheiro que parecia farto deixou de ser, veio um novo e mais minguado projeto e a solução acabou até agora nas gavetas do governo. Não digo que não viverá a sua ressurreição qualquer dia desses. Nem sou contra aos delírios e devaneios. Até gosto. Não sei bem se é bom fazê-la agora, à base de dinheiro público, com a persistência de três salários em atraso. E sem ter a perspectiva de um prazo real diante de uma instituição previdenciária inteiramente falida.
Como se fosse pouco, a cidade vive um impasse que teima em impedir o entendimento entre o governo e a prefeitura. Com os dólares do Banco Mundial o governo anterior apropriou-se das praças André de Albuquerque, Sete de Setembro e João Maria, as duas primeiras históricas e a do Santo da Cidade. Cercaram de tapumes as duas primeiras negam devolver à Prefeitura para amanhã, se vier a reformar, lustrar o ego estadual e embotar o ego municipal.
Essa tem sido nossa vida, Senhor Redator. De mediocridades e privilégios oficiais, sem que se tenha, e talvez por isso mesmo, a menor perspectiva de um novo líder que faça da ira santa sua espada. Mesmice que se alastra como sarampo pelas instituições, mesmo as mais bem preparadas e estruturadas, como é o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Virou uma rica, grande e organizada repartição, mas tão acomodada que não produz líderes.
VÍDEOS – Convenhamos: não são os vídeos projetados em plenário o que empobrece o nível dos debates na Assembleia. É o espesso silêncio de um Legislativo sem oposição competente.
ALIÁS – É bom advertir aos incautos que por competência não se entenda os arreganhos das coragens grosseiras, mas o destemor de retratar os abismos que se abrem aos pés da sociedade.
COMO – A falta de transparência que esconde, ao invés de revelar, as dívidas já acumuladas nas gavetas do Executivo enquanto há boas sobras orçamentárias no Legislativo e no Judiciário.
GUERRA – Preciosa e indispensável a pesquisa de Rostand Medeiros ‘Lugares de Memória’ documentando com dados e as imagens os lugares por onde a II Guerra passou aqui por Natal.
LIVRO – Além de um belo projeto gráfico, acomodando com bom gosto textos e imagens, o livro de Rostand é edição Caravela e é essencial para essa história que Natal começa a contar.
RETRATO – Natal perde cerca de mil leitos hoteleiros e mais de duas centenas de vôos para João Pessoa. Acusar os fatos de ‘exagero’ da imprensa é enfiar a cabeça no chão feito avestruz.
SUGESTÃO – O governo pode revelar as perdas da Previdência Social do Estado nas últimas décadas, antes da reforma. O presidente do Ipern, Nereu Lingares, saber contá-la em detalhes.
MARCAS – A jornalista e professora Josimey Costa autografa novo livro – “Entre Vislumbres e Letras” quinta-feira, depois de amanhã, no terraço ajardinado do restaurante ‘Mormaço’ que fica na Rua Tobias Monteiro, 2014, Lagoa Nova. Começa às 19h e vai até por volta das 21h.
POESIA – Dia 30, sábado próximo, no sebo Suburubu – na Av. Deodoro, 307 – o ensaísta e colunista desta TN, Alexandre Alves, reúne todas as tribos a partir das 10h no lançamento do seu novo livro – “Poesia Marginal da Esquina Atlântica”, uma visão da geração alternativa.