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“A globalização é inevitável”

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CAIO BLINDER - Debateu economia mundial e globalização em Natal

Depois da Segunda Guerra Mundial, os últimos cinco anos foram o período em que a economia mundial mais cresceu. No entanto, a América Latina, sem excluir o Brasil, não acompanhou esses "passos". O jornalista Caio Blinder, do programa Manhatma Conexion, costuma dizer que o Brasil ainda não deu o "salto do crescimento da economia". E o que impede a economia brasileira de avançar?

"A educação", responde de imediato Blinder que esteve em Natal para ministrar uma palestra sobre varejo mundial. Para o jornalista, não é possível observar a educação brasileira apenas na ótica dos números apresentados pelo governo, mas é preciso qualificação, o que ele define como "up grade".

No contexto da economia mundial, Caio Blinder comunga da idéia de que Brasil, Rússia, Índia e China somarão, nesse século, o mesmo tamanho da economia do grupo G7, as sete maiores potências mundiais. Mas nesse aspecto ele faz uma ponderação: "ninguém tem dúvida da China e da Índia. Mas já Brasil e Rússia muita gente tem dúvida".

O convidado de hoje do 3 por 4 é com um jornalista econômico de fala simples, um judeu que acredita no fim do conflito no Oriente Médio, um brasileiro residente nos Estados Unidos que se mostra otimista com a sua nação.

Na sua visão, qual o momento da economia mundial hoje?
Acho até que eu sou otimista. Se você pegar os últimos referenciais, indicadores, o mundo cresceu muito. Se você pegar o último qüinqüênio foi o período que a economia mundial mais cresceu depois da Segunda Guerra Mundial. Mesmo apesar de ataque terrorista, fraqueza do dólar, protecionismo, mesmo assim, as forças que impelem são mais fortes do que as forças que reduzem. O próprio relatório mais recente do Banco Mundial mostra que os índices de pobreza estão caindo; não na América Latina. As duas potências da economia, China e Índia, são as duas locomotivas dos países emergentes.

Que forças são essas que impelem o crescimento econômico mundial?
Tecnologia é inovação. Os custos são mais baratos. Fazer negócio é informação. Houve entrada na economia mundial de vários setores que estavam marginalizados, principalmente no extremo da Ásia. Isso é muito importante. Apesar de forças políticas contra a globalização, o mundo está globalizado. Essas forças são muito poderosas.

Para um país como o Brasil a globalização é benéfica ou maléfica?
Vou dar uma resposta mineira: ela é inevitável. Será maléfica dependendo de como você vai se posicionar diante dela. Depende de como você vai ter inteligência e força política para tirar o melhor proveito dela. Cada país colocará seus interesses, acordos comerciais mais benéficos. É você tentar derrubar o protecionismo de outros países e manter o seu. Mas para você jogar bem você tem que estar dentro do campo. Você não pode ficar à margem do campo, será banco. Já que o nosso presidente (Lula) gosta tanto de metáfora de futebol, aqui está a primeira.

E o Brasil está sabendo se portar nesse perigoso e inevitável jogo?
Não estou satisfeito. A política externa brasileira veio melhorar só agora nos últimos meses. Ela (a política externa) estava numa posição muito atrasada, como uma certa discussão de como fazer negócio com o Evo Morales que era o companheiro do Lula. Isso foi uma porcaria porque o Evo Morales jogou o jogo dele. Aí depois o Brasil se voltou para a África. A África é uma questão de humanidade. Tem que ajudar, mas não dá para pensar em acordos comerciais importantes. O Brasil negligenciou muito os Estados Unidos. E está tentando rever isso. Especialmente nos dois últimos encontros de Bush e Lula acho que estão tentando se aproximar. É uma questão política. O Brasil tem que tirar vantagem na questão do biocombustível.

O Brasil era tido como a grande potência da América Latina, mas parece que essa liderança caiu com a chegada de Evo Morales e Hugo Chávez. Isso mostra a fragilidade da liderança que o Brasil imaginava ter diante do mercado latino americano?
Foi um erro de diplomacia. O Brasil fez isso errado e o outro lado jogou de forma inteligente. Agora Bush precisa de um contrapeso a Chávez. Obviamente, que o Bush quer os préstimos de Lula. Não é questão do Brasil ser serviçal, mas o próprio Governo americano resolveu dar mais importância ao Brasil como uma necessidade de neutralizar Hugo Chávez. Com isso o Brasil readquire seu papel natural de liderança continental.

Mas esse episódio com a Bolívia e Equador não demonstrou uma fragilidade da liderança econômica do Brasil?
Eu acho que quando erra tem que mudar. O Governo tem que assumir o erro para o Brasil continuar a ser o que sempre foi. Está correta uma posição mais madura. O Brasil tem uma economia grande. Não cresce como os demais países. Inclusive tem o conceito muito de moda que é BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), que são os países que vão dar o show na economia mundial nesse século. Ninguém tem dúvidas sobre a Índia e a China. Mas sobre a Rússia e o Brasil as pessoas duvidam. Mas eles têm condição de ocupar. Essas quatro economias serão o tamanho das mesmas economias mais ricas do mundo: o G7, Estados Unidos, Japão, Inglaterra. A China cresce de maneira espetacular, é a quarta economia mundial.

A que você atribui o fenômeno da China que se tornou a potência dos emergentes?
Se você fala em papel natural, a China é uma força, é um exemplo. Ela resolveu seu desenvolvimento econômico, deixou de lado um processo errado, embora ainda não tenha aberto seu sistema político. Isso é como uma panela de pressão, não sei até quando ela vai agüentar. Mas o fato é que abriu a economia. E é um país que traz muitas vantagens para quem faz negócio com ela. Tem uma mão de obra barata. A China passa a dar o tom, porque além dos produtos exportados, é natural que ela passe também a consumir. A China é uma potência, mas ficam as interrogações políticas. Quanto tempo ela vai continuar sendo comunista com essa economia aberta?

E nessa abordagem do sistema político e do econômico, eles caminham paralelos ou um pode destoar do outro?
Olhe, a China está conseguindo essa proeza até agora. No Brasil é diferente, nós temos uma democracia sólida. A economia deveria crescer mais, mas esse é um problema que os economistas brasileiros têm para decidir. Eu não me sinto aparelhado para comentar. Mas não vejo o dilema que a China tem aqui no Brasil. A China tem a vibração econômica com todas as suas desigualdades e ao mesmo tempo é um país fechado, governado por um país comunista. Mas chegará a hora em que a população vai dizer não quero isso, quero aquilo.

O entrava o Brasil para dar esse “salto qualitativo da economia”?
A longo prazo me parece que o problema está na educação. A educação tem índices ruins.

A educação a vilã desse entrave?
Diria que é um problema sério. Se você comparar com países como a China ou a Coréia do Sul o Brasil está muito atrasado.

Então teríamos que preparar uma política de educação?
Sim. E até há. Estão começando a tomar algumas medidas. Estão aumentando a base formal do primeiro grau. Mas isso numericamente porque a expansão não é acompanhada de um “up grade”. E ainda tem os problemas do Brasil da economia mesmo.

Qual a visão que você como correspondente que mora nos Estados Unidos tem do Brasil?
Como estou fora eu nunca fico tão desolado como vocês. Não estou submetido a violência urbana, criminalidade. Não sinto a mesma indignação de vocês. Não tenho o desânimo que vocês têm. Talvez por isso eu seja otimista. Não passo por estágio que vocês passam onde o Brasil afunda no pessimismo depois vai para o otimismo. Mas acho que o Brasil está muito complicado.

Os brasileiros têm uma imagem dos Estados Unidos um tanto estereotipada: um país que promove guerras desnecessárias e Governo prepotente. Você como brasileiro que lá reside também tem essa mesma imagem?
Se você pegar esse Governo (Bush) eu me sinto enganado. Não achei que seria uma coisa tão desastrosa como foi. Uma política externa errada. Ele não soube aproveitar a simpatia mundial, escolheu a guerra errada, é um Governo prepotente, incompetente. Mas o país é mais complicado. É um país que tem como fazer uma correção de curso. Esse Governo não vai deixar saudade.  .

A aproximação Brasil e Estados Unidos não seria perigosa para a economia brasileira?
Ninguém é bobo, tem que fazer uma política de longo prazo com um Governo americano mais aberto e menos intolerante, menos unilateralista. Esses acordos de agora são muito simbólicos o Brasil não vai conseguir exportar etanol agora para os Estados Unidos, porque os americanos ainda têm sobretaxa muito alta. As conversas começam  agora, mas só serão concluídas com o novo Governo americano.

Detalhes

Sonho concretizado: minhas filhas

Plano: voltar para o Brasil. Mais tarde vou querer voltar para o Brasil.

Alegria: alegria imediata minha filha vai se formar na faculdade.

Em que você acredita: acredito nas pessoas. Não sou uma pessoa religiosa, sou agnóstica, mas acredito nas pessoas. Mesmo com todas as desilusões, ainda acredito nelas.

Família: minha família é multicultural. Minha mulher é filipina, tenho uma filha que nasceu nos Estados Unidos. Vivo em várias culturas. Minha filha decidiu ser judia. Quando chega o censo americano eu começo a preencher no quesito "outros", porque somos de várias religiões, várias cores, várias línguas.

Carreira

O paulista Caio Blinder costuma dizer que vive numa ponte aérea. Aliás, uma longa ponte aérea entre o Brasil e os Estados Unidos.

A primeira vez que Caio foi morar nos Estados Unidos foi no início da década de 80. Aportou por lá para fazer mestrado. Foi nesse período que conheceu a esposa filipina. Depois os dois voltaram para o Brasil. Convidado pela Folha de São Paulo, Caio Blinder voltou para as terras norte-americanas.

Ele agora está no que considera a "terceira temporada" americana. "Dessa vez estou lá há 18 anos", comentou. Ele trabalha como participante e produtor do programa Manhatma Conexion, é correspondente da Jovem Pan, crítico de livro do Estadão e ainda comentarista da BBC Brasil na Internet.

O gosto pelo Jornalismo é perceptível em Caio Blinder. Ele chegou a fazer doutorado em "Relação Internacional" nos Estados Unidos, mas não concluiu. "Graças a Deus que não concluí porque teria sido um erro profissional. Sou jornalista, não teria paciência para ter uma vida acadêmica", comenta.

Além de tudo isso, Caio Blinder ainda costuma fazer palestras abordando a economia mundial.

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