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A humanização dos animais

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Pe. Júlio César Souza Cavalcante
Pároco N. S. da Candelária, Natal

Nos últimos anos, tem crescido de maneira significativa a consciência sobre a necessidade de se tratar com respeito os animais. O aumento do número de ONGs e associações protetoras de animais, as campanhas contra maus tratos nas redes sociais e até mesmo as posturas da população podem ser vistas notoriamente como um reflexo deste crescimento. Consciência essa que condiz com o respeito à natureza e a todas as criaturas que cada ser humano deve ter. Porém, ao mesmo tempo em que cresce essa consciência, nasce um outro fator que precisa ser analisado: os animais estão cada vez mais perto das famílias e conquistam assim seu espaço de membro. A convivência já é tão próxima que até a alimentação deles não se restringe mais apenas às rações ou aos biscoitinhos feitos para animais. Roupas e adereços estão compondo o “seu guarda-roupa”. Eles estão ganhando a atenção que sempre se teve como prioritária para humanos.

Em um famoso site de notícias, a repórter Juliana Vines escreveu um artigo intitulado “Especialistas alertam sobre tratamento humanizado aos animais de estimação”. No parágrafo inicial, ela afirma: “Os cães estão mais humanos. Demasiadamente humanos. Com roupas e nomes de gente, vão à creche de perua escolar, passeiam no shopping, fazem sessões de spa. De melhores amigos foram promovidos a filhos”.

O forte apego dos donos ao seu animal de estimação, caracterizado pela humanização do animal, é um fenômeno causado por carências que são peculiares do homem moderno. O ser humano, ao decidir tomar preferência pelo convívio com animais ao invés de com outros seres humanos, busca, na verdade, uma garantia de lealdade e autenticidade no relacionamento, que considera aspectos difíceis de conseguir de forma satisfatória nas relações entre pessoas no mundo de hoje.

Esta crescente humanização produzida pelos donos dos animais, traz consigo duas consequências a serem analisadas: diminui a relação entre humanos, e se torna prejudicial para os próprios animais. Sendo transformados em extensão das pessoas e de suas neuroses, eles começam a reagir com depressão e alergias.

Diante disso, qual deve ser o posicionamento do cristão católico? A resposta encontraremos no Catecismo da Igreja Católica, mais precisamente nos números 2415 a 2418, dentro do contexto de reflexão sobre o sétimo mandamento da lei de Deus, onde é afirmado claramente que os animais “estão naturalmente destinados ao bem comum da humanidade passada, presente e futura”.

Partindo desta afirmação, somos convidados a seguir o exemplo de Santos – especialmente São Francisco de Assis e São Felipe de Neri – que não apenas tratavam os animais com delicadeza e carinho, mas também não faziam e até mesmo não permitiam que outros o fizessem sofrer pela maldade humana.

A conclusão é, portanto, esta: devemos ver os animais como criaturas de Deus que devem ser amadas e respeitadas, mas não podemos perder a consciência de que mesmo amando-os, não podemos orientar para eles o afeto devido exclusivamente às pessoas como imagem e semelhança de Deus. É preciso resgatar a relação de fraternidade e solidariedade entre as pessoas e dar a cada ser humano o amor que nasce do Coração do Pai.

Assim, recoloca-se em ordem natural o desejo expresso pelo Criador de que o ser humano fosse responsável pela natureza inteira e dela cuidasse com carinho. Redescobre-se que se amam as pessoas e os animais, cada um dentro do seu contexto e sem um tomar o lugar que é próprio do outro.

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