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A Igreja Potiguar

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João Medeiros Filho
Padre 
Em “História do Rio Grande do Norte”, Câmara Cascudo e Tavares de Lyra registraram os primórdios do catolicismo em terra potiguar, inclusive dados sobre as paróquias (oragos e datas de criação). Monsenhor Paulo Herôncio de Melo despertou nos fiéis o interesse pelos martírios de Cunhaú e Uruaçu. Dom Eliseu Mendes contribuiu com seus escritos para a história da diocese mossoroense. Sua visão desenvolvimentista subjacente no projeto da “Missão Rural” merece estudos acurados. Também são importantes os apontamentos de Monsenhor Francisco Sales sobre o Colégio Diocesano Santa Luzia e a paróquia da catedral de Mossoró. Em 1985, Monsenhor Severino Bezerra lançou “Levitas do Senhor”, biografias de sacerdotes que aqui nasceram ou exerceram seu ministério, nos séculos XVIII-XX. A Coleção Mossoroense (vol. CCCXCIV) extraiu dados dessa obra e publicou a relação dos presbíteros que atuaram no bispado de Santa Luzia. Padre Normando Pignataro escreveu sobre 98 paróquias norte-rio-grandenses. A direção do Colégio Diocesano Seridoense, coordenada por Padre Francisco de Assis Costa, está preparando as memórias do referido educandário, no ensejo de seus oitenta anos de fundação. Aconselha-nos o profeta Isaías “Lembrem-se de coisas passadas e fatos antigos” (Is 46, 9). 
Se alguém perguntar pelos nossos renomados oradores sacros, faltam-nos fontes de pesquisa, além dos livros de tombo paroquiais. Se o questionamento versar sobre os abnegados educadores eclesiásticos, verificam-se lacunas significativas na documentação. Monsenhor Amâncio Ramalho é pouco lembrado. O eminente sacerdote dirigiu oito colégios em cinco estados brasileiros (RN, PB, PE, BA e PI). Foi o primeiro titular do Departamento de Educação, órgão que antecedeu a Secretaria Estadual de Educação. É profícuo o itinerário de nossas escolas católicas. Admiráveis são as realizações educacionais de Dom Delgado no Seridó. Importa assinalar o papel da Igreja na educação no RN. Luís Eduardo Suassuna, membro do Conselho Estadual de Educação – ao tramitarem os processos naquele colegiado – preocupa-se em colher dados sobre os patronos das instituições de ensino. Dentre eles, destacam-se vultos religiosos.
Muitas figuras eruditas e estudiosas de nosso clero são desconhecidas. É o caso de Padre Sebastião Constantino de Medeiros, sacerdote caicoense, administrador do bispado de Olinda, durante a prisão de Dom Vital Maria de Oliveira, vítima da “Questão Religiosa”. Após exercer tais funções, tornou-se jesuíta. Enviado a Roma, foi o primeiro brasileiro a lecionar na Pontifícia Universidade Gregoriana. Graças aos esforços do acadêmico Jurandir Navarro, dispõe-se de parte substancial da produção científica e literária de Cônego Monte. Monsenhor Huberto Bruening (pároco em Mossoró) estudou profundamente a apicultura brasileira.  
O Movimento de Natal foi objeto da tese doutoral de Alceu Ferrari, intitulada Igreja e Desenvolvimento.  E Cônego Eugène Collard, em “L´ Église au carrefour des chemins”, narra para os belgas e holandeses essa rica experiência pastoral. O trabalho das escolas radiofônicas não deve ficar esquecido. Pioneiro e anterior ao de Paulo Freire, contribuiu para a alfabetização e educação integral de inúmeros norte-rio-grandenses. Quanto aos meios de comunicação (rádios e periódicos), as dioceses potiguares desempenharam papel relevante. O jornal A Ordem (Natal) foi destaque nas décadas passadas, respeitado por intelectuais e hoje fonte de pesquisas. Ali, brilharam líderes católicos que orgulham a nossa terra. As primeiras instituições de assistência à saúde e aos idosos de nosso estado foram iniciativa da Igreja, inspiradas nas obras vicentinas. Muitos de nossos irmãos se beneficiaram das casas de caridade, orfanatos, asilos etc., manifestação do amor cristão junto aos doentes e desvalidos. A Igreja tem deixado sua marca de serviço e presença junto ao Povo de Deus.
A Academia Norte-rio-grandense de Letras (sem esquecer o brilho de Cascudo, Henrique Castriciano e outros), por intermédio de Padre Monte, teve também a influência de Dom José Pereira Alves, terceiro bispo natalense, membro da Academia Pernambucana de Letras. “Ele foi um de nossos maiores oradores sacros, arrebatando palmas nas naves da antiga Catedral da Apresentação”, como relata Padre José Freitas Campos, em “O Mestre da Palavra”. A Igreja do RN necessita cuidar de sua história. Algumas de suas belas páginas são representadas pelo ministério de Monsenhor Lucas Batista Neto, cujo natalício celebraremos no próximo dia 23. A dedicação e o zelo de tantos transcendem as fraquezas e limitações da Igreja. “Muitas vezes e de modos diversos, Deus falou outrora a nossos pais” (Hb 1, 1). 
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