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A liberdade no Barro Vermelho

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Ramon Ribeiro
Repórter

Central na cidade, o Barro Vermelho guarda em suas pequenas ruas o colorido das histórias de muitos que por ali passaram ou que lá ainda moram. Inserida entre o Baldo, Alecrim e Tirol, a localidade é uma das poucas que ainda mantém suas características preservadas. Para o escritor e procurador federal Lívio Oliveira – que em março deste ano tomou posse na ANRL, ocupando a cadeira número 15, cujo patrono é Pedro Velho – esse aspecto é uma das melhores marcas do bairro, ao lado de sua atmosfera bucólica.

Inserido entre o Baldo, Alecrim e Tirol, o bairro é um dos poucos a manter algumas características preservadas, como as residências e pequenas áreas verdes. O bairro é a paixão do escritor Lívio Oliveira, que ali cresceu entre brincadeiras de rua e o colégio Nossa Senhora das Neves

O bairro é a paixão do escritor Lívio Oliveira,
que ali cresceu entre brincadeiras de rua e o colégio Nossa Senhora das
Neves

Nascido no Alecrim, Lívio logo cedo foi viver no Barro Vermelho. Sua principal morada foi na rua Segundo Wanderley. “Segundo é o nome de um poeta importante de Natal, está no quadro de patronos da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (ANRL). Vivi nesta rua até os 27 anos, quando casei e fui morar em Lagoa Nova, onde estou até hoje”, conta o escritor, que hoje mesmo morando em outro bairro, todos os dias dá expediente no saudoso Barro Vermelho, onde trabalha na Procuradoria Federal.

Foi no Barro Vermelho que Lívio vivenciou experiências importantes. Teve uma infância solta na rua, trepando nas árvores dos quintais dos vizinhos, jogando futebol. Na juventude conheceu o rock com os amigos, pegou gosto pela leitura e escreveu seus primeiros versos. Nesta entrevista o autor de livros como “Resma”, “Teorema da Feira”, “Dança em Seda Nua” e “Bibliotecas Vivas do Rio Grande do Norte”, lembra com carinho de um bairro que parece não ter se perdido no tempo.

Escritor Lívio Oliveira

Escritor Lívio Oliveira

Arborizado
O Barro Vermelho sempre foi um bairro muito bucólico, cheio árvores frutíferas. Lembro de pular o muro dos vizinhos para pegar siriguela, caju, graviola, beber água-de-coco. Foi uma época fantástica. Na minha casa tinha uma mangueira enorme e que dava muitos frutos. Lembro que gostava de subir até o olho da árvore, a ponto de conseguir ver o topo da Igreja de São Pedro, no Alecrim. Cai uma vez dessa mangueira. Era uma altura de cinco metros. Escapei de cai em cima de um ciscador com os dentes pra cima. Mamãe ficou assustada. Fiquei desfalecido no chão. Mas sobrevivi a essa e outras quedas.

Figuras folclóricas
Era um bairro de convivência tranquila, as crianças brincavam sem medo, a não ser de alguns malucos que apareciam, como o Buclina. No bairro também transitavam figuras folclóricas, como o “Dez Centavos”, que pedia sempre dez centavos para os moradores, até chegar a inflação e ter que aumentar o valor do pedido.

Infância de brincadeiras na rua
Vivia sempre entra as ruas Segundo Wanderley e Meira e Sá, onde viviam meus primos, passando pela Cel João Gomes, uma via especial, com muita movimentação. Uma parte do bairro pertenceu a minha família, meus bisavós que vieram do Seridó. Na infância gostávamos de brincar de garrafão, futebol, “31 alerta” (esconde esconde), “polícia e ladrão”. Sempre com um pouquinho de sadomasoquismo porque alguém acabava apanhando de alguma forma. Mas tudo era muito bom e tranquilo. É um bairro interessantíssimo, onde nos limites, lá no colégio das Neves, eu estudei, depois de sair da Escola Sebastião Fernandes.

Bodegas e Padarias
Nós temos um grupo na internet. É mais ligado a rua Segundo Wanderley, mas a gente sempre acaba lembrando de histórias de todo o bairro. Algumas interessantíssima, como a do Joaquim Metade, um homem que tinha uma bodega que vendia e comprava revistas. Lembro que lá tinha uma coleção de revistas minhas, alguém de casa levou. Depois tentei readquirir e não consegui. Havia uma padaria, a Padaria Santa Cruz, onde eu ia comprar o pão. E a dona sempre nos premiava com alguns pães a mais. Belquiz vendia balas, confeitos e chocolates, que deixavam os meninos refestelados.

Características preservadas
Talvez o barro vermelho seja um dos bairro que menos tenha se  modificado em Natal. Por isso mesmo guarda sabores incríveis. Você passeia pela área e se lembra de muita coisa porque muita coisa ainda está viva lá. Antes tinha bastante áreas verdes. Era comum no bairro sítios, onde a gente brincava escondido no meio do mato. Os prédios e casas vieram tomar o lugar desses sítios. Hoje tem mais prédios novos, mas ainda é um bairro horizontalizado, que guarda as características do passado. É um bairro onde podemos encontrar a Natal dos anos 1970 e 80 viva.

Bairro de personalidades
Lá é o bairro de Pedrinho Mendes, Luis Carlos Guimarães, Woden Madruga, foi onde viveu Gilberto Avelino. Conheci grandes figuras por lá. Via circular por lá o jogador Marinho Chagas, em seu carro conversível. Lembro do São João da rua Cel João Gomes, que era famoso. Nós fechávamos a rua e realizávamos uma festa enorme. Depois o São João passou a ser realizado na Jaguarari.

Escrita relacionada ao bairro
Tudo que eu faço na minha escrita tem a ver com o Barro Vermelho. Alguns poemas que fiz tem a ver com a realidade do bairro. Minhas memórias afetivas são muito fortes lá. Tenho muitos amigos. Nos anos 1970 teve um movimento forte do hard rock. Foi nessa época que conheci Supertramp, Pink Floyd, Rick Wakeman, Queen e muitas bandas que o pessoal escutava lá.

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