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A longa espera para transplantes

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Mariana Ceci
Repórter

Amarildo Nobre estava na máquina de hemodiálise há 2 horas e 32 minutos quando, no dia 21 de dezembro de 2008, uma enfermeira chegou e informou que deveria interromper imediatamente o tratamento: um novo rim o aguardava no Hospital Universitário Onofre Lopes para ser transplantado. A cirurgia de transplante colocaria fim às hemodiálises que, por 4 anos e 9 meses, fizeram parte de sua vida três vezes por semana, quatro horas por dia. “Foi como renascer ali mesmo”, relata o ex-vigilante, de 55 anos, que atualmente vive praticamente em função de auxiliar pacientes renais do interior e da capital a garantirem seu lugar na lista de transplantes.

Transplantado há 11 anos, Amarildo Nobre atualmente trabalha como voluntário ajudando pessoas que passam pelo mesmo problema dele, esperando por um rim


Transplantado há 11 anos, Amarildo Nobre atualmente trabalha como
voluntário ajudando pessoas que passam pelo mesmo problema dele,
esperando por um rim

#SAIBAMAIS#Passaram-se mais de cinco décadas desde que o Brasil realizou seus primeiros transplantes. Foi no início dos anos 1990 que os primeiros transplantes de córnea chegaram ao Rio Grande do Norte, e apenas no início dos anos 2000 as outras especialidades como coração e rins começaram a ser feitas no estado. Do começo dos debates sobre as implicações éticas e a própria eficácia dos transplantes, no fim da década de 1960, aos dias de hoje, muita coisa mudou. O país é referência mundial no tipo de procedimento, e um dos únicos países a disponibilizar a cirurgia de forma gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

No início, como a técnica era aplicada em poucos países, os cirurgiões precisaram, em algumas situações, treinar em cães para se preparar para a cirurgia. Hoje, novos medicamentos, mais eficientes para reduzir os riscos de rejeição dos órgãos, foram criados. Mitos sobre a impossibilidade de adaptação do corpo humano ao novo órgão também foram quebrados, apesar da técnica ainda apresentar riscos, como a rejeição.

Alguns desafios, no entanto, permanecem inalterados, sendo o principal deles o convencimento das famílias para optar pela doação de órgãos em caso de morte cerebral. Atualmente, no Rio Grande do Norte, três tipos de transplantes são realizados: córnea, rins e medula óssea.

No passado, o RN chegou a fazer, também, transplantes de fígado e coração, que deixaram de ser feitos por decisão dos próprios hospitais que realizavam os procedimentos – alguns alegavam dificuldade em manutenção das estruturas de pré e pós operatório, e a decisão foi tomada internamente.

Hoje, de acordo com a Central Reguladora de Transplantes do estado, são 519 pessoas cadastradas na fila, somando as três especialidades. A maior demanda é para o transplante renal, que tem 208 pessoas na espera. O transplante de córnea é o segundo, com 202 pessoas aguardando um órgão para cirurgia. Já a de medula óssea, que é controlado de forma centralizada pelo Banco Nacional de Doadores de Medula Óssea, tem 109 pessoas.

A situação do estado é melhor do que esteve há alguns anos em termos de fila de espera – em 2005, três anos após a criação da Central de Regulação de Transplantes no estado, 780 pessoas aguardavam na fila por um rim, e outras 500, pela córnea.

“Na época que fiz, entre 2004 e 2006, se falava muito pouco do transplante. Ninguém fazia nenhum comentário, e eu não tive praticamente incentivo para fazer os exames necessários para entrar na fila”, relata Amarildo.

Muitas pessoas, no entanto, resistem em entrar na fila de espera. De acordo com Amarildo, que circula entre os centros especializados em hemodiálise da capital, parte dos pacientes ainda temem os riscos de rejeição do órgão, possibilidade decorrente da operação. Além disso, temem se frustrar com a espera, que pode ser longa.“A frustração deles é principalmente quando eles sabem que alguém que recebeu o órgão e perdeu”, explica.
Números
208 pacientes renais esperam por um rim no estado

202 pessoas aguardam doadores de córnea no RN

109 é o número de pessoas que esperam por transplante de medula

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