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À luz das lamparinas

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Vicente Serejo
Aviso logo, antes que os intelectuais, principalmente os empedernidos, acusem de ser petulância um cronista mundano se meter a citar Baudelaire como se fosse seu leitor. Não é pela grandeza e ousadia do célebre autor de ‘As Flores do Mal’ que sequer alcanço, mas pelas réstias bruxuleantes, como diria um bom parnasiano, que ainda hoje flamejam nas paredes da casa da infância, quando a luz elétrica vinha com a lua cheia como no verso de Jorge Fernandes. 
Até hoje as lamparinas ainda iluminam as noites do homem feito se nele, como dizem, mora o mesmo menino que morou numa cidade sem energia. Havia um motor de luz, como se dizia, que iluminava as casas de algumas poucas ruas, e só. E, assim mesmo, entre seis e dez da noite, se tanto. Depois, piscava três vezes avisando que a escuridão estava para chegar. Quando as lâmpadas apagavam, minha mãe acendia uma a uma, as lamparinas, iluminando nosso mundo. 
Sempre achei que eram fantasmas do bem aquelas nossas silhuetas que se moviam projetadas nas paredes e até hoje nunca precisei ter medo de almas. E, se de tudo ficou essa memória afetiva, ficaria também a sensação de que lamparina é uma palavra com luz própria, iluminada pela chama dos pavios umedecidos no querosene que meu pai comprava naquelas latas, com a marca Jacaré, a fera que devorava a escuridão antes da energia de Paulo Afonso.
 
Destituído da fidalguia intelectual que nos outros é absolutamente natural, e só por uma mania besta, fui juntando num canto de estante as traduções de Baudelaire no Brasil. Desde as mais antigas, desaparecidas dos olhos do mundo, até as mais recentes. E se não fosse muito ousado a um cronista afirmar, diria que nada foi tão longe quanto a tradução de Ivan Junqueira, um poeta muito grande que chegou a presidir por duas vezes a Academia Brasileira de Letras. 
Mas, foi só agora, coisa de alguns poucos meses, menos de um ano, que notei um detalhe que passou sem ser percebido nas outras traduções. E o detalhe não caiu nos olhos lendo ‘As Flores do Mal’ dos seus tradutores mais celebradas. Nem na tradução da publicação individual do poema, um livro pequeno e alaranjado, justo dessa cor por ser da editora ‘Laranja Original’, lançado em 2017, com a nova tradução de Alexandre Barbosa de Souza do poema ‘A Viagem’.
Começo deste ano chega aos olhos a nova e ousada tradução de Margarida Patriota – ‘ao pé da fonte’ – e então notei que as ‘chamas’ de todas as traduções ali não mais iluminavam a abertura do poema ‘A Viagem’. Voltei a Margarida, mas perguntando a mim mesmo: teria sido impressão? Não. Não foi. Estava lá, fechando a primeira estrofe: “Ah, como o mundo é grande à luz das lamparinas! / Aos olhos da lembrança, como é pequenino!”. Era só. E até amanhã. 
VISÃO – Quando a Folha de S. Paulo circulou, naquela manhã do dia 7 de setembro, antes do destrambelho do presidente Bolsonaro, avisou que ele corria o risco de ser ‘o grande perdedor’.
FOI – Jornalistas não adivinham, projetam. No caso, a Folha não chegou a imaginar o epílogo melancólico que acabou marcando o episódio. Como um triste fim de um cantor de Ópera Bufa.
ALIÁS – Bolsonaro foi o falso sabido que acabou revelando o tolo amador. Agradou a multidão que um dia vai abandoná-lo. A classe média não tem líder, ideologia nem compromisso político.    
PIOR – Além de tudo, o episódio ainda nos deixou a herança de acionar a Polinter para procurar ‘Zé Trovão’, o fujão e medroso que acabou sendo encontrado num hotel do México. Arre égua!
AINDA – De todo turbilhão, mais uma vez, e diante de uma economia sem gestão que a cada dia empobrece mais o brasileiro e rouba o futuro, fica a constatação: extremos nada produzem. 
RETRATOS – De uma raposa política que acompanha as duas CPIs da Assembleia: “Estamos entre dragonas raivosas e raposinhas ávidas por holofotes. E não chegaremos a lugar nenhum”.  
NOME – Começa a despontar, muito discretamente, o nome do poeta e tradutor Horácio Paiva para a vaga do jurista José Augusto Delgado, de quem foi aluno e grande admirador. É esperar. 
SAUDADE – De Nino, olhando o Beco, suas paralelas fechando no oitão do velho Sobradinho: “O mundo é grande e é pequeno. Às vezes, cabe numa saudade anônima perdida na infância”.  

FOLHAS – A fonte desta coluna estava certa ao fazer a previsão de que a governadora Fátima Bezerra chegaria ao início da sua campanha de reeleição com as quatro folhas de pessoal pagas aos servidores públicos, o desafio que representa, em números financeiros, um bilhão de reais. 
CONTA – O fato demonstra que era questão de gestão financeira. O governo anterior devorou o fundo da previdência em nome da dívida salarial, abuso que contou com apoio da Assembleia e encerrou o quarto ano da administração defendo quatro folhas sem previsão de pagamento. 
OMISSÃO – A oposição calou e não instalou CPI para apurar o crime de responsabilidade pelo rombo – quatro folhas e fundo partidário – da ordem de dois bilhões. A Assembleia autorizou o governo a gastar um patrimônio do servidor público e não fiscalizou. Nem o Tribunal de Contas.
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