Vicente Serejo
A visão pessoal é, por óbvio, e inevitavelmente, uma impressão nascida do olhar individual. Portanto, é pessoalmente contestável e com a mesma legitimidade de quem a lançou. Mas, há de existir, na formulação, um conjunto de plausibilidades. Não se pode erguer uma tese apenas por ousadia, ainda que ousar seja um traço do jornalismo, mas desde que a projeção repouse sobre fatos e experiências reais. O plausível não inventa, sob pena de ruir por falta de sustentação lógica.
Quando esta coluna apontou que a governadora Fátima Bezerra chega, um ano antes, com a sua candidatura pronta para a luta, não afirmou que seria vitoriosa, nem confundiu com o desejo petista. Claro que o PT deseja e fará tudo para conquistar a reeleição, mas este é um desfecho que as urnas dirão, se for a consequência natural de uma candidatura que hoje lidera as pesquisas e tem o privilégio de herdar a luminosidade popular de Lula e sua aura que volta a luzir intensamente.
Não precisa ser lulista para constatar. Preso, Lula foi personagem central daquele que foi o maior escândalo de corrupção na contemporaneidade brasileira. Libertado, como vítima de uma grande injustiça, o negativo transmudou-se para o positivo. Não é nenhum herói, mas é um novo mártir. É preciso não perder de vista: tem a cara do brasileiro comum e anônimo e é aquele que lidera um contingente que pode ser invisível, mas irá às urnas com uma grande força de decisão.
E essa realidade não ocupa, indevidamente, o terreno que por caso tenha as marcas de Jair Bolsonaro ou conquistado pelo bolsonarismo na saga em nome da moralidade. Lula ocupa o espaço que é dele. Apesar de todas as contradições, ganhou da mesma Justiça que o condenou, a dádiva mágica do reencontro. O Brasil – tomemos consciência – vive entre duas fortes manifestações do populismo, mas não se pode confundir a autenticidade de Lula com o artificialismo de Bolsonaro.
A presença de Lula e sua possível candidatura a presidente da república é o fato novo que vai ter uma forte função catalizadora, principalmente no voto rural nordestino. Força que beneficia Fátima Bezerra, única liderança petista a disputar a reeleição como governadora. E tudo isto ocorre num instante de fortes desassossegos na economia – a fome, o desemprego, o desamparo e o medo de não ter direito ao dia de amanhã batem à porta dos desvalidos. Quem vai convencê-los que não?
Significa que a reeleição de Fátima Bezerra será mais fácil do que a eleição? Jamais. Não há eleição majoritária fácil, principalmente quando disputa um poder. A tradição vai encontrar um nome e vai reunir forças em torno desse nome, mesmo hoje esquálida e anêmica em matéria de líderes. A política sabe usinar soluções mesmo nas horas aparamente mais difíceis. É da sua rica natureza a capacidade de reinventar-se. A luta será dura, ninguém se engane. E Fátima sabe disso.
JOGO – Tem razão, o presidente Jair Bolsonaro, quando afirma que no Rio Grande do Norte o PL não terá problemas. E não terá. Fica tudo na sala de jantar do deputado João Maia. E em família.
ALIÁS – O artifício de ser governo de um lado e oposição do outro, na campanha e depois, não é, aqui no Estado, uma invenção do PL. Os tucanos, na campanha de Fátima Bezerra, fizeram assim.
EXEMPLO – Depois de dois anos de pandemia esta TN mostrou, com o ‘TopNatal, as marcas mais lembradas’, que a criatividade e o arrojo vencem a crise. Um exemplo para a livre-iniciativa.
ESTILO – Com a riqueza do fundo partidário e o valioso acervo de tempo de tevê, o novo partido, União Brasil, corre o risco de ser uma linha auxiliar de Jair Bolsonaro se este disputar com Lula.
PESO – Refestelado no conforto na grana e no tempo, e preso a lideranças conservadoras, o União Brasil precisa transformar essa estrutura em algo novo e forte. Sob pena de sucumbir sem liderar.
VALOR – O ex-vereador Ney Lopes Júnior perde a vida prematuramente, aos 47 anos, depois de exercer a vida política sem qualquer mancha ao longo de sua jovem trajetória. Raro nesses tempos.
POSIÇÃO – Cassiano Arruda Câmara revelou, em cores fortes, o nojo que foi a presidência da Câmara arquivar o processo que apurou as agressões à jornalista Renata Fernandes Paiva.
GRITOS – Foram muitos os gritos de enfermeiras e funcionários quando um inofensivo Timbu apareceu no Walfredo Gurgel. Quando o que faz medo no Walfredo é o desprezo pela vida.
SOBE – Não há como negar ao deputado João Maia o mérito do lugar comum: a sua estrela sobe. Tem uma irmã senadora e preside no RN o partido do presidente Jair Bolsonaro. Bala para a luta renhida de 2022. Quem conhece política sabe que ele passa a ter hoje um capital nada desprezível.
MAS – A nova retórica de João Maia colide com a retórica da sua irmã, a senadora Zenaide Maia, e seu marido, Jaime Calado, secretário do governo Fátima Bezerra, uma petista de raiz. Os políticos são habilidosos, não há dúvida. Mas, a habilidade tem limite. Mesmo quando pode ser vantajosa.
DUPLO – Vem a questão: João Maia apoiará o ministro Rogério Marinho a senador. É legítimo. Não aquele que sairá na chapa da governadora Fátima Bezerra, de quem Jaime Calado, o cunhado, é secretário. Mas, como domina os dois lados, vencerá em 2022. Com Lula ou com Jair Bolsonaro.
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