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À mesa, sempre

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Vicente Serejo
O processo civilizatório, ensina Câmara Cascudo, se fez em torno da fome e a luta contra fome ao redor da mesa na caverna com seu chão de pedra. De quando o homem tomava água na concha das mãos, coletava frutos e caçava com o instinto de sobrevivência que o fez moquear a carne no calor da chama, até assar, cozinhar e refogar com ervas de cheiro e de gosto. Não fosse o desejo da carne, na mesa e na cama, teria morrido de tristeza sem sentir o prazer da vida. 
Até hoje, os franceses, para quem a mesa é celebração – dos cafés aos palácios – não sabem, ao certo, quem disse a frase famosa sobre o champagne, para ser fiel até na grafia da palavra gaulesa. Stéphane Hénaut e Jeni Mitchell, marido e mulher, ele alemão e chef de cuisine consagrado; ela professora de história militar no Kings College, de Londres, escreveram juntos ‘A Deliciosa História da França’, e não negaram a dúvida. Mais por charme do que respeito. 
Para eles, há duas versões: na mais antiga, foi coisa de Napoleão Bonaparte, de quem não se pode duvidar das ousadias e excentricidades. Um conquistador que devastou os maiores exércitos do seu tempo para construir um império e coroar-se com as próprias mãos, a ele e a Josephine, sua mulher, diante do Papa, sob a nave gótica de Notre Dame. A mais recente ficou na conta de Winston Churchill que liderou os ingleses para derrotar Adolf Hitler, o invencível. 
A dúvida sobre a frase consagradora do champagne seria esta: “Na vitória, você merece champagne, na derrota você precisa dele”.  Talvez os franceses estejam certos quando tomam para si a autoria da frase. Napoleão seria capaz de dizê-la. Afinal, e se não é excessivo da parte do cronista, ninguém foi mais perfeito do que eles ao criarem a expressão ‘joie de vivre’ para significar, na doce plenitude do prazer, o que o resto do mudo conhece como a alegria de viver. 
As civilizações criam seus caldos de cultura, mas é preciso cultivá-los sem o pedantismo próprio dos que desconhecem a beleza dos trópicos tão bem defendida por Gilberto Freyre quando inventou a Tropicologia. E pelo nosso embaixador Nestor dos Santos Lima ao escrever seu ensaio ‘Esqueça a primavera, irmão’. Temos uma saudade envergonhada da civilização do frio, como se superior, e fechamos os olhos à civilização sob o sol forte do sertão e do mar. 
Isso tudo é pra dizer que temos hoje cachaças, bem destiladas em excelentes alambiques e estudos, para ficar no campo de expressão das bebidas fortes e do bom hábito de tê-las à mesa. O que não supera a velha nobreza do champagne. Como teria dito Napoleão – ou foi Churchill? – às vezes você merece uma bela taça de champagne nas suas grandes vitórias. Ou pode precisar, depois de sofrer uma derrota. Os dois, Napoleão e Churchill, sabiam da vida. 
EXTINTOR – Pode haver corrida de deputados estaduais e federais para o viveiro dos tucanos se não for mantida, no Senado, a permissão para as alianças nas chapas proporcionais em 2022.
ALIÁS – Se depender de alguns – menos PT e Solidariedade – iriam todos para o PSDB com o pacto dos tucanos liberá-los depois das eleições. Na política o instinto de sobrevivência é a lei.  

FRIA – O tempo vai mostrando que a CPI da Arena é palanque de amadores. A investigação está judicializada e com indícios muito mais graves do que nos dizem os deputados falastrões.  
QUENTE – Caminhos quentes – se não cair no espetáculo – poderão ser os trilhados pela CPI da Pandemia. Embora os contratos, até agora, não se mostrem eivados das velhas deformações.
RECADO – Este ano o tema da Bienal são dois versos célebres do poeta Thiago de Melo, do seu poema ‘Madrugada Camponesa’: “Faz escuro mas eu canto / porque a manhã vai chegar”.
CANTO – O poema foi peça de teatro e tema do 14º Congresso do PCdoB, em 2017. Canto de luta gravado por Nara Leão no Lp ‘Manhã de Liberdade’, com música de Monsueto Menezes.  
POESIA – Tião Maia, da Academia Macauense de Letras, lançou em Macau, como parte do aniversário da cidade, seu livro de poemas ‘A Solidez do Âmbar’. Foi na praça da Conceição.
AVISO – Nas livrarias, ‘Código de Machado de Assis’, de Miguel Matos, 596 páginas e 116 QR Codes que remetem às imagens citadas no livro. Edição Migalhas. Valor: R$ 184,60 reais. 
AVISO – Cláudio Galvão, o historiador da nossa vida cultural e literária contemporânea, já chegou ao ano de 1954 na pesquisa sobre a vida e a obra do poeta Antônio Pinto de Medeiros. Na cena do baile do Aero Clube, ele dançando com Zila Mamede que lançara ‘Rosa de Pedra’. 
ESTILO – Autor de um estilo considerado implacável como crítico literário, Antônio Pinto, na sua coluna ‘Santo Ofício’, rasgava o véu das mediocridades lítero-recreativas provincianas. E chegou até a um grave conflito e rompimento com a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.  
QUANDO – Claudio Galvão ainda não tem data para terminar a pesquisa, mas é possível que entregue ao leitor até final do próximo ano. Os dois livros do poeta – ‘Um poeta à toa’ e ‘Rio do Vento’, foram relançados numa edição Sol Negro com um belo ensaio de Tarcísio Gurgel.
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