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A metamorfose do fuxico

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Ia escrever sobre o Dia D da Fazenda Carnaúba, um dos mais importantes eventos da pecuária nordestina (por que não do Brasil?), que aconteceu semana passada (de 26 a 28 de junho) em Taperoá, cariris paraibanos de Manoel Dantas Vilar Filho, o grande Manelito, por onde andei naqueles dias e me encontrei com gente vinda de todos os cantos. Computador, pronto. Foi quando caiu na bacia das almas uma carta de Alex Nascimento.  Escrita à mão, caligrafia ainda aprumada de engenheiro aposentado (inativo) e poeta pensador, cronista, observador atento às coisas do mundo com a mesma precisão do alvissareiro da torre da matriz. Decidi, então, publicá-la e deixar as maravilhas que vi em Taperoá para outro dia.  O escrito, então, agora é do bardo de Lagoa Seca:
“Tio Uódi,
O Homem é a parte mais podre da natureza. O melhor dos seres humanos é péssimo. Movido a combustíveis como arroz e feijão, dá habeas corpus a sentimentos que são ridicularizados até pelos minerais e vegetais. Um deles – o fuxico – nasceu no mesmo berço da competição e da ruindade. Cientistas ingênuos estudam os efeitos das redes sociais e não atentam para o óbvio de que a tecnologia apenas transformou o fuxico em instantâneo e universal. Não há quem procure uma boa rede em São Bento da Paraíba – porque estão todos sofrendo quando o celular encontra-se a mais de um metro da sua mão. A morte de um amigo só é importante porque vai ser postada e a amizade vai ser transformada em curta, comente e compartilhe. Trogloditas que transformaram as cavernas em cobertura na Flórida, e, o leite da criatura amada, é avaliado pelo número de moedas deixadas nas lojas onde também se compram calças rasgadas, noutros tempos propriedades dos miseráveis.
Quadrilhas disputam carniça e a degustam ao molho do caráter. Tudo é moda, tudo é calculado, todos são estúpidos – cada um a seus modos e posses. Quem pede esmola tem, entre uma e outra, um tempinho pra tocar na tela milagrosa e ver caras de prostitutos famosos disputando o amor odiento de prostitutas iguais. Certo é o relógio parado que marca “Ó tempos, ó costumes! ”, porque a hora é essa e nunca foi outra. O passado é apenas um futuro já usado. Ninguém precisa fingir vergonha de si nem de nada. A hipocrisia não é máscara, é a cara original cuja única mudança é envelhecer, com ou sem plásticas, cosméticos e fuzis. Os ventos e as chuvas só têm amor pelas cerejeiras e granitos; por desculpa ou acaso jogam lama pelas fendas que fazem nas sepulturas de quem em nada lhes importa. Ó erosão, ó costumes!
Ser pisoteado não dói, a anestesia é dizer que é amigo do rei que esmaga. Amigos, bandidos, ladrões, ó sociedade vulgar, eterna e infinita. Medo, mas que medo? Sem ele ou com ele somos covardes, trêmulos milenares diante da coragem de pensar, dizer ou fazer. Mais vale beijar os pés do rei que realizar a vontade de fazer um bem, qualquer bem, mesmo o de dar um tiro de misericórdia. Lágrimas, sorrisos, frios internos e calores, é tudo coisa do corpo. Ninguém é vivente por qualquer motivo que não seja a ambição. Ninguém quer ser bom – quer parecer bom. O mundo não nos foi dado nem por nós construído. Mas o prazer é destruí-lo. Pelo menos isso é feito em nome de uma ansiedade que se chama Nada.
Um  beijo, tio Uódi.
Estou feliz.
Alex”

Juvenal Lamartine
Lembrando que sexta-feira que vem, 9, há 145 anos nascia Juvenal Lamartine de Faria, magistrado, professor, deputado federal, senador, governador do Estado, jornalista e escritor, produtor rural. Seridoense de Serra Negra do Norte.  Um dos pioneiros na luta pelo voto feminino no país.  Fundou o Aero Clube do Rio Grade do Norte. Foi redator de “A República” e pertenceu a Academia Norte-rio-grandense de Letras, da qual foi presidente. Ajudou Aluízio Alves, em 1950, na fundação da Tribuna do Norte, onde escrevia artigos. Faleceu em 18 de abril de 1956 aos 81 anos de idade. 

Queijos
Começa amanhã, 19 horas, no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, o 15º Encontro Nordestino do Setor de Leite e Derivados. O Sebrae está no meio. Palestras, minicursos, oficinas. Dois destaques especiais:  Espaço Gastronômico (Cozinhando com queijos nordestinos) e o Concurso de Queijos do Nordeste.
O evento, que vai até o dia 7, recebe a visita de queijeiros franceses, italianos e japoneses. Viva o queijo artesanal nordestino, sabor matuto, terruá!

Literatura
Homenageando o Dia do Escritor (25 de julho) o jornal Estado de S. Paulo selecionou “25 autores fundamentais”, os que “não podem e não devem faltar em suas bibliotecas”. No time estão sete brasileiros: Lygia Fagundes Telles, Monteiro Lobato, Raduan Nassar, Clarice Lispector, Machado de Assis, Ariano Suassuna (o único nordestino) e Carlos Drummond de Andrade.
Senti falta de Graciliano Ramos.
Boa leitura
Dica de uma boa leitura: a crônica de Ruy Castro, na Folha de S. Paulo, de sexta-feira, 2, com o título de “Se você ainda”. Traça um perfil didático de Jair Bolsonaro. Conclui assim:
“Enfim, se você ainda se surpreende ouvindo-o dizer coisas inenarráveis ao ser filmado cortando o cabelo numa cadeira de barbeiro, imagine o que ele não faz sozinho, sem testemunha, sentado em outra espécie de trono. ”
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