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A nobreza do maxixe

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Diogenes da Cunha Lima

Escritor, advogado e presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (ANL)
Maxixe é música e dança mestiça, mulata. Gênero que incorporou nuances do batuque, lundu, choro, polca, habanera, tango, em ritmo rápido e expressa sensualidade.
Essa dança era marginalizada pela elite da sociedade carioca, que se escandalizou com o noticiário de uma festa no Palácio do Governo. 
Nair de Teffé, esposa do Presidente da República Hermes da Fonseca, em 1914, incentivada por Catulo da Paixão Cearense, levou o Maxixe “Corta-Jaca”, de Chiquinha Gonzaga, a um Soirée no Palácio do Catete. Ela própria acompanhou com violão.  
O folguedo foi o bastante para provocar as mais agressivas e violentas reações. O baixinho Rui Barbosa, ainda magoado com o fracasso de sua candidatura presidencial, enrubesceu e fez protesto discurso no Senado da República. Afirmou: “A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens. Irmã gêmea do batuque e do samba”. Disse ainda que se estava elevando o Corta-Jaca à altura de uma instituição cultural.  
Já em 1912, havia começado a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. O baiano Antônio Lopes de Amorim havia levado um grupo de maxixe, “Le vrai tango brasilién”. Sob a liderança de Pixinguinha, o conjunto “Os Batutas” apresentou-se em boates, salões, festas particulares durante seis meses. O gênero ganhou a Europa e chegou aos Estados Unidos, tanto que é citado em contos de Scott Fitzgerald. 
Otto Maria Carpeaux constatou que a arte alcança finalidades que não tem. De fato, toda a arte relembra o título de Schubert, é uma sinfonia inacabada. Aconteceu o inesperado e o antigo samba “O Boi no Telhado”, de “Zé Boiadêro” (José Monteiro) encantou o músico Darius Milhaud, que acompanhava a missão diplomática do poeta Paul Claudel e o apresentou em Paris ao genial Jean Cocteau. O balé criado e apresentado em restaurante conservou a expressão surreal, “Le Boeuf Sur Le Toit”, tão do gosto desse escritor surrealista. O elegante restaurante conserva esse nome até o dia de hoje.
A nobreza do maxixe contagiou o Rio Grande do Norte. Relembro alguns dos compositores potiguares que atingiram o gosto popular. O carnaubense Tonheca Dantas é pioneiro no gênero com a composição “Cabeça de Porco”. O notável flautista Carlos Zens produziu o inédito “Choro Maxixe”, do CD Potyguara, 1995. O maestro Antônio Madureira, que atua no Recife, compôs “Maxixe”, Quarteto Romançal, CD1977. O professor universitário e músico Roberto Lima é autor de “Saudades de quem”. Os irmãos Roberto e Eduardo Taufic compuseram maxixes. “Maxixando”, do CD “Eles e Eu” 2009, é de autoria de Roberto. Babau (Erivaldo do Nascimento Galvão) compôs o sincopado samba-maxixe “Não Faz Assim”.
Como se vê, o maxixe mereceu ser exaltado.
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