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A “nova” dama do crime

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P. D. James é o nome literário de Phyllis Dorothy James (1920-), a “Baroness James of Holland Park”, representante vitalícia do Partido Conservador na Casa dos Lordes do Parlamento britânico. Em plena atividade aos 91 anos, ela acaba de lançar o seu mais recente romance policial, “Death Comes to Pemberly” (editora Faber & Faber). Resultado: primeiro lugar na lista de best-seller de ficção no Reino Unido. Com uma longevidade que me faz lembrar a querida amiga Agatha Christie (1890-1976), outrora merecidamente apelidada de a “dama” ou a “Rainha” do crime, P. D. James tem com “Death Comes to Pemberly” o ponto de chegada (ainda provisório, acredito) de uma belíssima carreira literária que se inicia com “Cover Her Face” (1962), onde ela nos apresenta o seu detetive, Adam Dalgliesh, da Scotland Yard. Pertencente à Royal Society of Literature e presidente da Society of Authors, P. D. James, por alguns de seus romances assim como pelo conjunto da sua obra, já ganhou inúmeros prêmios atribuídos à literatura policial, tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos.

Em “Death Comes to Pemberly”, P. D. James une duas de suas grandes paixões: o romance policial e a obra de Jane Austen (1775-1817), uma das maiores escritoras inglesas de todos os tempos, autora dos romances “Sense and Sensibility” (1811), “Pride and Prejudice” (1813), “Mansfield Park” (1814), “Emma” (1815), “Persuasion” (1818) e “Northanger Abbey” (1818). “Death Comes to Pemberly” põe morte e mistério no mundo de “Pride and Prejudice”. Em 1803, Mr. Darcy e Elizabeth (Bennet), principais personagens do clássico de Austen, são casados há alguns anos e têm dois filhos. Tudo vai muito bem em Pemberley, a propriedade da família no condado inglês de Derbyshire. Mas essa tranquilidade é quebrada em certo dia do outono. Após uma festa, sem convite, uma esposa aparece alegando haver sido seu marido assassinado. A partir daí a felicidade no casamento de Mr. Darcy e Elizabeth é ameaçada. A Pemberley de Austen é agora um ambiente permeado de crime e muito mistério. Uma empreitada audaciosa, pode-se dizer do novo livro de P. D. James. Embora na literatura inglesa venha se tornando cada vez mais frequente os pastiches e as paródias dos clássicos, “Death Comes to Pemberly”, seriamente, procura inserir uma estória dentro de outra estória, o que, convenhamos, não é nada fácil.

De P. D. James eu já conhecia e aprovara “A Certain Justice” (1997), que gira em torno do assassinato de uma brilhante advogada criminal, Venetia Aldridge, após haver defendido, com sucesso, um jovem acusado de haver matado a própria tia. Para aqueles ligados ao Direito, sobretudo ao direito criminal, “A Certain Justice” tem um apelo especial: entre outras coisas, ele procura analisar o que se passa na mente de um criminoso, discute os dilemas morais dos advogados criminais (o que nem todos eles, é verdade, têm), assim como explica as limitações de qualquer sistema de justiça criminal. “Death Comes to Pemberly” foi, portanto, uma compra natural. E logo comecei a devorar as primeiras páginas.

Mas, numa dessas coincidências da vida, no mesmo dia que adquiri “Death Comes to Pemberly”, perambulando pelos sebos de Charing Cross (ao dizer isso mais uma vez, fica até parecendo que vivo por lá e nada estudo de Direito), dei de cara com uma coleção de romances de P. D. James em uma promoção imperdível. Cada qual com suas 400 páginas, todos em capa dura e novinhos. O melhor: apenas 1 libra cada. E lá foram para a minha sacola: “A Mind to Murder” (1963), “Unnatural Causes” (1967), “Death of an Expert Witness” (1977), “Innocent Blood” (1980), “A Taste for Death” (1985), “Original Sin” (1994) e “Death in Holy Orders” (2001), “The Murder Room” (2003) e “The Lighthouse” (2005).

Foi só chegar em casa e folhear esses livros que me bateu uma dúvida: deveria continuar lendo “Death Comes to Pemberly” ou deveria (re)começar minha aventura pelo mundo de P. D. James por um dos seus romances policiais tradicionais, com o detetive Adam Dalgliesh como meu guia?

Sem consultar pessoalmente minha nova amiga (P. D. James), deixei de lado “Death Comes to Pemberly” e parti para “Death in Holy Orders”. Que me desculpe a queridinha Jane Austen, mas adorei o enredo de “Death in Holy Orders”, que tem como pano de fundo uma série de assassinatos em um Seminário da Igreja Anglicana, o St. Anselm’s Theological College, localizado em um remoto ponto na costa de Suffolk, condado no estremo leste da Inglaterra. Achei “sinistro” ou, como dizem os jovens de Natal com um sentido bem positivo, “tenso”. Em tempos de Carnatal, é do que preciso. Depois, prometo, volto para descansar na “Pemberly” de Austen e James.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Mestre em Direito pela PUC/SP
Doutorando em Direito pelo King’s College London – KCL

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