Ramon Ribeiro
Repórter
Um dos nomes mais conhecidos da edição, a veterana Lan Lahn não decepcionou no Bossa e Jazz
Vamos começar pelo fim. Na noite de domingo a banda paraibana Macumbia fechou a programação do festival com um show de música caribenha que fez o público do Pipa Beach Club, na orla, balançar com força. Na noite anterior, por causa da chuva que atrapalhou a programação noturna do sábado, eles não puderam se apresentar (devido a lei local que proibe som depois das 2h). Como consequência, o show do domingo valeu por dois, com o bis se estendendo por umas três músicas.
Mas antes o público foi brindado por aquela que foi a atração mais impactante do festival. Uma garota da Bahia, de 13 anos, voz poderosa que encarnava divas do soul e do jazz, como Aretha Franklin e Nina Simone. Seu nome é Cacá Magalhães e ela estava acompanhada da Banda Terráquea. Sua apresentação foi de arrepiar.
Blues contagiante e sem caras e bocas: The Cinelli Brothers
Isso me faz voltar para a tarde do sábado, quando, tendo o sol se despedindo por trás das falésias, o Quarteto de Cordas da Pipa fez um concerto curioso no deck. Não dá para esquecer de um figurão que surgiu entre os personagens desta fauna eclética. Tanta gente bonita, jovens e coroas, casais e baladeiros, gente bebendo bons drinks, outros fumando, no meio desse ambiente fascinante, aparece essa figura pedindo o isqueiro. Estava de sunga e camisa. Uma espécie de tiozão do churrasco, mas do blues jazz. Ele pede o isqueiro e acende um cigarro, dá dois tragos, o cigarro apaga, pede o isqueiro de novo, acende, puxa, solta a fumaça pro alto e do nada tira um ganzá de dentro da bolsinha hippie que trazia à tiracolo. Um daqueles ganzás em forma de ovo. Balançou o instrumento devagarzinho, perto do ouvido, até achar o ritmo da música que a banda paraibana Macumbia tocava no palco. Quando encontrou, sorriu pra mim e sumiu no meio do público. Adoro a Pipa!
Mas voltando para a programação, é preciso citar a The Cinelli Brothers. Dois italianos radicados em Londres que chegaram na Pipa para defender o blues de Chicago – o que fizeram pelo menos três vezes entre o sábado e o domingo, e sempre de forma contagiante. Agradou demais!
Pelo segundo ano, o formato descentralizado, com a programação espalhada por vários palcos, alguns ao ar livre como na Praça do Pescador, outros em pequenos bares, ainda é ponto alto do festival. Mas é preciso apontar também o que não agradou. Para um festival que carrega “Bossa” no nome, sentiu-se a falta de um momento tributo ao pai da bossa nova, João Gilberto, falecido mês passado. Uma ausência sentida. Outra ausência é a da música africana, algo de afrobeat. Nesta seara, o festival deveria investir mais na mistura de culturas. Não da origem dos músicos, mas na bagagem musical diversa, que tornasse o festival ainda mais cosmopolita – como a Pipa é.
*O repórter viajou a convite do festival