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A nova fauna e flora do Bossa & Jazz

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Ramon Ribeiro
Repórter

É um privilégio ver tanto instrumentista bom reunido. Gente que toca com alma, que te prende com performances hipnotizantes ou que te leva pra longe ao sabor das vibrações. Mas essa paisagem musical não ganha fácil a atenção de quem está à passeio pela exuberante praia da Pipa, onde, entre os dias 15 e 18 de agosto, o Fest Bossa & Jazz iniciou as comemorações de seus 10 anos de existência – ainda vem as etapas de Mossoró, em setembro, e São Miguel do Gostoso, em outubro. A reportagem do VIVER esteve presente no fim de semana e, dividido entre a natureza tocante da praia e as interpretações marcantes de temas clássicos e contemporâneos do jazz, blues, chorinho e bossa nova, pôde captar um pouco da fauna e flora do festival.

Um dos nomes mais conhecidos da edição, a veterana Lan Lahn não decepcionou no Bossa e Jazz


Um dos nomes mais conhecidos da edição, a veterana Lan Lahn não decepcionou no Bossa e Jazz

Vamos começar pelo fim. Na noite de domingo a banda paraibana Macumbia fechou a programação do festival com um show de música caribenha que fez o público do Pipa Beach Club, na orla, balançar com força. Na noite anterior, por causa da chuva que atrapalhou a programação noturna do sábado, eles não puderam se apresentar (devido a lei local que proibe som depois das 2h). Como consequência, o show do domingo valeu por dois, com o bis se estendendo por umas três músicas.

Mas antes o público foi brindado por aquela que foi a atração mais impactante do festival. Uma garota da Bahia, de 13 anos, voz poderosa que encarnava divas do soul e do jazz, como Aretha Franklin e Nina Simone. Seu nome é Cacá Magalhães e ela estava acompanhada da Banda Terráquea. Sua apresentação foi de arrepiar.

“Comecei a fazer aula de canto aos quatro anos. Meu avô tinha muito cd de jazz e blues. A gente ouvia no carro, eu cantava em casa. Canto até hoje”, disse a garota em entrevista a este repórter. Seu pai, do lado, era só orgulho. “Eu e a mãe sempre demos apoio. Acompanhamos ela nos shows. Viajamos junto. Sabemos como é universo da música. Mas ela divide seu tempo direitinho. Tem dado conta dos estudos”, comentou o pai. Vale destacar a apresentação de Cacá na hora do pôr-do-sol. E o pôr-do-sol da Pipa, p…!, sempre impressiona.

Blues contagiante e sem caras e bocas: The Cinelli Brothers


Blues contagiante e sem caras e bocas: The Cinelli Brothers

Isso me faz voltar para a tarde do sábado, quando, tendo o sol se despedindo por trás das falésias, o Quarteto de Cordas da Pipa fez um concerto curioso no deck. Não dá para esquecer de um  figurão  que surgiu entre os personagens desta fauna eclética. Tanta gente bonita, jovens e coroas, casais e baladeiros, gente bebendo bons drinks, outros fumando, no meio desse ambiente fascinante, aparece essa figura pedindo o isqueiro. Estava de sunga e camisa. Uma espécie de tiozão do churrasco, mas do blues jazz. Ele pede o isqueiro e acende um cigarro, dá dois tragos, o cigarro apaga, pede o isqueiro de novo, acende, puxa, solta a fumaça pro alto e do nada tira um ganzá de dentro da bolsinha hippie que trazia à tiracolo. Um daqueles ganzás em forma de ovo. Balançou o instrumento devagarzinho, perto do ouvido, até achar o ritmo da música que a banda paraibana Macumbia tocava no palco. Quando encontrou, sorriu pra mim e sumiu no meio do público. Adoro a Pipa!

Mas voltando para a programação, é preciso citar a The Cinelli Brothers. Dois italianos radicados em Londres que chegaram na Pipa para defender o blues de Chicago – o que fizeram pelo menos três vezes entre o sábado e o domingo, e sempre de forma contagiante. Agradou demais!

Pelo segundo ano, o formato descentralizado, com a programação espalhada por vários palcos, alguns ao ar livre como na Praça do Pescador, outros em pequenos bares, ainda é  ponto alto do festival. Mas é preciso apontar também o que não agradou. Para um festival que carrega “Bossa” no nome, sentiu-se a falta de um momento tributo ao pai da bossa nova, João Gilberto, falecido mês passado. Uma ausência sentida. Outra ausência é a da música africana, algo de afrobeat. Nesta seara, o festival deveria investir mais na mistura de culturas. Não da origem dos músicos, mas na bagagem musical diversa, que tornasse o festival ainda mais cosmopolita – como a Pipa é.

*O repórter viajou a convite do festival

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