Yuno Silva – enviado ao Rio de Janeiro*
O modelo do aparato que envolve o lançamento de uma grande produção hollywoodiana é cercado por rituais que só mesmo o cinema norte-americano seria capaz de conceber, e a combinação glamour (leia-se tapete vermelho) mais o potencial endeusamento dos artistas valem tanto ou mais que o próprio filme. A fórmula foi posta em prática nesta última quarta-feira (14), no Rio de Janeiro, onde foi montada arena digna de uma super festa de música eletrônica às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas para receber o lançamento oficial na América Latina do quarto filme da série “Missão Impossível”. Com o subtítulo “Protocolo Fantasma”, a produção traz de volta às telonas o astro Tom Cruise na pele do agente secreto Ethan Hunt.
Previsto para estrear no Brasil na quarta-feira que vem, dia 21 de dezembro, data antecipada para driblar a ‘concorrência’ das festas de fim de ano, o filme tem todos os elementos que fazem a alegria do público que busca entretenimento puro nas salas de cinema: sequências de tirar o fôlego, trama simples e cheia de reviravoltas, muita tecnologia e pequenas doses de humor diluídas entre as cenas de tensão. No caso de “Missão Impossível – Protocolo Fantasma”, o fator ‘locações exóticas’ tempera ainda mais a ação rodada na Rússia, Índia e Dubai (Emirados Árabes).
A chuva que caiu durante a tarde no Rio de Janeiro deu trégua à noite, e afastou qualquer risco capaz de estragar a festa de Cruise e da atriz Paula Patton (“Déjà Vu” e “Preciosa – Uma História de Esperança”), que desfilaram pelo tapete vermelho comprovando a aura de encantamento que cerca os grandes astros e estrelas do cinema. Com visual impecável, a todo instante retocado pelo maquiador que seguia de perto todos os passos da atriz, Patton foi a primeira a pisar na ‘passarela’ cercada por um batalhão de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas que se estapeavam por uma declaração ou o melhor ângulo.
CAPOEIRA E COREOGRAFIA
Encarnando na tela a agente “durona” Jane Carter, como bem descreveu o diretor Brad Bird (de “Os Incríveis” e “Ratatouille”), Paula Patton esbanjou simpatia e concedeu entrevistas: “Adoro fazer filmes de ação, e gostaria de ser vista como referência para as novas atrizes que se aventurarem nesse gênero”, respondeu a atriz ao ser questionada se aceitaria outro convite para uma nova sequência.
Pela primeira vez no Brasil, ela garantiu que pretende voltar com mais tempo para “conhecer melhor o país” e lembrou que treinou capoeira durante a preparação para o filme – “vou continuar praticando”, informou.
Mas a maior expectativa era mesmo em torno da presença do astro Tom Cruise, também co-produtor dos filmes “Missão Impossível”. Despojado e sorridente, o eterno galã do juvenil “Top Gun – Ases Indomáveis” causou furor no público feminino que se esgoelava no camarote; e mobilizou a tropa cada vez mais amontoada de jornalistas. “Passei a produzir meus próprios filmes para o resultado sair do jeito que imagino”, afirmou o ator. Sobre uma possível continuação de Missão Impossível foi realista: “Neste momento estou focado no lançamento deste filme. Quero aproveitar a festa”. E revela: “Não há nada planejado ainda, mas sempre há essa possibilidade. A única certeza até agora é que continuarei fazendo filmes de ação”.
Mister Cruise disse que adora o Brasil, a cultura brasileira, e que por isso escolheu o país para lançar “Protocolo Fantasma” – esta é a quarta vez do ator em solo verde amarelo. Vale registrar que as respostas dos atores foram compartilhadas entre os jornalistas de veículos impressos que acompanharam o ritual no tapete vermelho, pois a prioridade dos artistas eram as entrevistas para emissoras de TV.
“Consegui falar com ele, mas tudo o que gravei foi abafado pelo som do DJ”, disse uma jornalista de São Paulo, que dividiu o que conseguiu lembrar com aqueles que ficaram só na vontade. No final das contas, valeu até pescar o bate-papo entre repórter e cinegrafista de televisão para complementar o texto.
Antes de saírem de cena, Cruise, Patton e o diretor Bird ensaiaram alguns passinhos ao som da versão remix produzida pelo DJ Tiësto para o tema do filme composto originalmente pelo pianista Lalo Schifrin para o seriado exibido na televisão entre 1966-73.
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ENTREVISTA
“Meu maior medo era não conseguir contar a história”
Para reverberar o maior dos lançamentos organizados pela Paramount Pictures fora dos EUA, 50 jornalistas de diversos países da América Latina (entre eles, 23 brasileiros) foram convocados para acompanhar o cronograma de atividades na capital carioca que incluiu a primeira exibição do longa-metragem orçado em US$ 135 milhões no continente e entrevistas coletivas com o diretor Brad Bird (“Os Incríveis” e “Ratatouille”), que dirigiu pela primeira vez um filme com ‘pessoas reais’, o produtor Bryan Burk (“Lost” e “Super 8”) e o DJ Tiësto,da Holanda, que remixou o tema original do filme composto pelo pianista argentino Lalo Schifrin na década de sessenta.
Com o tempo milimetricamente cronometrado, as entrevistas mediadas pelo jornalista potiguar Roberto Sadovski (ex-editor da revista Set) renderam o suficiente para compreender o ritmo acelerado de execução do projeto e detalhes da produção que priorizou a filmagem de cenas ‘reais’, ou seja, sem a utilização ostensiva de efeitos especiais. O encontro aconteceu no famoso hotel Copacabana Palace.
Houve algum receio sobre rodar o filme ‘ao vivo’?
Brad Bird – Meu maior medo era não conseguir contar a história. Outro desafio foi o porte do projeto e o tempo curto que tivemos de preparação antes das filmagens.
Qual a grande diferença entre filmar sem tantos efeitos especiais?
Brad – Coisas poderiam ter saído diferente. No caso da animação você só pode imitar a cena real, por isso o filme se torna mais verdadeiro.
Os filmes anteriores foram dirigidos por diretores autorais (Brian de Palma, John Woo e J. J. Abrams), fato que pode gerar comparações. Até onde isso dificulta ou facilita?
Brad – O que mais me atraiu neste projeto é justamente a possibilidade de fazer diferente, de imprimir a própria personalidade.
Por que o filme não foi lançado também em versão 3D?
Bryan Burk – Desde o início optamos por usar poucas câmeras, takes longos, coreografias longas, poucos cortes.
#saibamais#Brad – E rodamos 25 minutos com câmeras IMax, que tem de quatro a cinco vezes mais definição que uma câmera comum de 35 mm. São pesadas, um trambolho, barulhentas, mas vale a pena a precisão e a qualidade. Gosto do 3D mas vejo algumas desvantagens que não valem a pena como o uso dos óculos, perda de gradação de luminosidade e telas menores. São passos para trás que não compensam. Outro motivo de não optar pelo 3D é o custo, iria ficar de US$ 30 a US$ 40 milhões mais caro.
Como o filme se passa em vários países, o Brasil chegou a ser cogitado?
Bryan – No primeiro tratamento do roteiro o filme também passava pelo Rio de Janeiro, mas com o tempo curto não dava para articular os detalhes.
Tiësto, você fez várias versões do tema principal da trilha sonora. Viu o filme antes?
DJ Tiësto – Não. Vi os outros filmes. Minha missão era atualizar a música, então produzi várias versões que poderão ser utilizadas em continuações da série.
De alguma maneira a música brasileira também influencia o seu trabalho?
Tiësto – Ouço bastante música brasileira, samba, Carnaval, mas sou mais da batida dura, eletrônica. (Pelo visto ele não conhece muito de música brasileira nem os DJs Marky Mark e Patife que fazem sucesso no exterior).
* o repórter viajou a convite da Paramount Pictures do Brasil
A badalação dos atores no tapete vermelho durante o lançamento latino-americano do filme Missão Impossível – Protocolo Fantasma em evento realizado no Rio de Janeiro.