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A nova primavera

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Vicente Serejo

cena

Ao longo do passado, e mesmo que se comece só a partir da luta republicana, tivemos grandes vozes. Pedro Velho, Amaro Cavalcanti, Eloy de Souza, Seabra Fagundes, Café Filho, Juvenal Lamartine, José Augusto, Georgino Avelino, Dinarte Mariz, Aluizio Alves e Cortez Pereira. Para citar os mortos. Hoje, quem falaria por nós? Qual é a voz que se ergueria forte e diante do país? Ontem Garibaldi Filho presidiu o Senado e Henrique a Câmara Federal. E hoje?

Não exagero, mas também não escondo nossa pobreza de vozes. Não temos ninguém no cenário nacional que represente a pequena e forte tradição que construímos ao longo do século que passou. Não temos como interferir no turbilhão de vozes da vida política nas câmaras altas, ministérios e palácios. Estamos girando em torno de nós mesmos, num carrossel de cavalinhos e nos entregamos à própria sorte no pobre tartamudeio que de tão amador chega a inofensivo.

Parece exagero de eloquência. Não é. E se amanhã fizéssemos um teste de densidade política e convocássemos uma entrevista coletiva em algum lugar de Brasília, qual o veículo de âmbito nacional que pautaria a repercussão? Basta ir além: e se pautássemos um político para falar ao Brasil das agruras que hoje vivemos, ou corremos o risco, quem pararia para ouvir? Só aqui, talvez, esses alguns poucos que sobem à mesa e aplaudem os poderosos de plantão.

Pode não ser agradável insistir no pauperismo da nossa representação política, mas é urgente. Seria mais cômodo e mais simpático calar. Dizem que a velha tradição árabe, de saber milenar, adverte que os piores inimigos são as nossas próprias palavras. Melhor não dizê-las. Deixá-las prisioneiras do silêncio. A conveniência, ensinam os franceses, se faz pelo dito e o não dito. É só saber a hora de falar e calar, dizer e não dizer. A vida fica fácil de ser vivida.

O pior é que já vamos além do triste vale da mudez. Não temos quem formule em nome do Rio Grande do Norte no exercício das idéias que não precisam nascer na riqueza econômica de uns ou pobreza de outros. As grandes idéias só nascem daquela riqueza de inteligência que tivemos, fertilizada pela sensibilidade e o espírito público. Não. Só lançamos palavras em torno dos nossos próprios umbigos, e se neles estão bem escondidos todos os interesses pessoais.

Mudo, sem voz que se eleve e estilhace as vidraças da Câmara, do Senado e ministérios  que ensombram a Praça dos Três Poderes, como falaremos até para estender a mão numa hora tão difícil? Contam que numa manhã parisiense um poeta notou que todos passavam e ninguém deixava moeda a um pobre cego. O poeta, então, escreveu numa folha de papel: “É primavera em Paris e eu não vejo”. Quem lutaria por nós, junto aos poderosos, por uma nova primavera?
NOME – O ministro Marcelo Navarro, do STJ, é o nome cotado para fazer a conferência dos trinta anos da Constituição Estadual. Na Assembléia Legislativa, e sem detrimento de outros.

AGENDA – O ex-senador Fernando Bezerra arruma a bagagem para mais um novo périplo, desta vez ao mundo Nórdico. Ele e a professora Candinha vão ver de perto como é a Islândia.

CORREÇÃO – Esta coluna recebeu uma correção: S. Gonçalo não tem só uma senadora e um deputado federal. Tem aeroporto internacional e hoje a Nova Natal, ali onde foi a Coteminas.

ALIÁS – Por falar em S. Gonçalo, ninguém duvide da disposição do médico Jaime Calado para disputar o governo em 2022. Basta a candidatura de Fátima Bezerra fraquejar nas pesquisas. 

MEDO – Uma leitora desta coluna reclama da escuridão na Av. Jundiaí, quarteirão do trecho entre Afonso Pena e Rodrigues Alves. E a Taxa de Iluminação Pública, mensal, é para quê?

UFA! – Deus é grande. O dia dos pais passou para felicidade de todos nós. Não é fácil suportar mensagens dramáticas, algumas de cortar o coração. Nós, os hipertensos, então, nem pensar.

AVISO – Um pai de aluno do Marista acessou a coluna, via zap, para reclamar da decisão do colégio de adotar containers como salas de aulas durante as reformas físicas. Fica o registro.

HUMOR – Do profeta do Grande Ponto afiando a quicé de cortar fumo numa pedra de amolar: “A constituição do sabido está no sovaco. Quando começa a feder põe o desodorante da lei”. POBREZA – Não foi à toa que Monteiro Lobato, numa carta de 1935 a Charles Frankie, um engenheiro suíço que vivia no Brasil e apoiava a grande luta em defesa do petróleo, classificou o Brasil: “Este país é uma imensa burrada”. Hoje, quase 85 anos depois, não melhoramos tanto.

RUÍNAS – Nesta taba de Poti, por exemplo, é assim: deixamos, como método, que tudo chegue às ruínas pela força da nossa insensibilidade. E, nas ruínas, aplicamos a jurisprudência do fato consumado. Quando não alegamos o conceito torto e surrado da sonhada modernidade urbana.

ASSIM – Vão sendo devorados os traços fisionômicos marcadores da nossa história urbana. Dos casarões da Ribeira, da arquitetura funcional dos anos cinquenta, do Hotel Reis Magos, marca dos anos sessenta. E os cavalões comendo, como já alertava o poeta Manuel Bandeira.

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