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A nova viagem do turista e aprendiz

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Ramon Ribeiro
Repórter

Jovens rabequeiros e brincantes de boi-de-reis receberam Mario de Andrade no Aeroporto Internacional Aluízio Alves, em sua chegada a Natal, na tarde da última terça-feira (30). A cena, que pegou todos no aeroporto de surpresa, simboliza a passagem do autor de “Macunaíma” pela cidade, ocorrida no final de 1927, quando o escritor realizava pesquisa sobre a cultura popular no norte e nordeste do país. No papel de Mário de Andrade, estava o ator Pascoal da Conceição, notório intérprete do escritor – e famoso pelo personagem Dr Abobrinha, da série infantil Castelo Rá-Tim-Bum.
Flashmob do folclore: ‘Chegada’ de Mário de Andrade, na pele de Pascoal da Conceição, aconteceu no Aeroporto Aluízio Alves e contou com participação de brincantes de boi de reis
Desde o início dos anos 2000 vivendo Mario de Andrade, em minisséries como “Um Só Coração” (2004) e “JK” (2006), na TV Globo, e “Mário de Andrade Desce ao Inferno”, no teatro, Pascoal adquiriu, além dos trejeitos, um maior conhecimento sobre a vida do escritor, suas pesquisas e pensamento.

Munido de todo esse conhecimento, o ator incorpora Mário de Andrade para lembrar a relação do escritor com Natal, Câmara Cascudo e a Cultura Popular, em bate papo no projeto Conexão Brasil 2016, promovido pelo Conexão Felipe Camarão. Contando também com a participação de Glauce Gouveia, da FUNDAJ, de professores das escolas públicas da comunidade e de convidados, a conversa acontece nesta quarta-feira (31), das 14h às 17h, na Escola de Saberes Conexão Felipe Camarão (rua Maristela Alves, 579-A, Felipe Camarão), com entrada gratuita.
Hoje, o ator participa de rodas de conversas
Coordenadora Geral do Conexão Felipe Camarão, Vera Santana lembra que Mário de Andrade apostava no Brasil como uma unidade interligada de diversidades, onde a cultura nacional deveria ser pensada levando-se em consideração a mescla de cultura erudita e popular. “A viagem de Mario a Natal marca o encontro com o historiador Câmara Cascudo. Os dois tratavam do mesmo tema: a identidade do povo brasileiro como força motriz da sociedade. Sua presença aqui foi importante para sua formação e muitas das preocupações de Mário continuam atuais e precisam ser discutidas”, comenta Santana.

Em viagem a Natal, em 1927, Mario de Andrade refletiu sobre o que via em diários, rabiscos apressados e crônicas para jornais. Essas notas só foram publicadas em conjunto 31 anos depois de sua morte do escritor, no livro “O turista aprendiz” (1976), organizado pela professora e pesquisadora Telê Ancona Lopez, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da USP. É em alusão ao livro que o bate papo será conduzido.

Em Natal, Mario foi apresentado a diversas manifestações culturais. Um dos relatos mais célebres de Mario sobre a região é sobre seu encontro com o cantador de coco Chico Antônio, em janeiro de 1929, em um engenho nos arredores de Natal (RN).
Pascoal da Conceição no espetáculo Mário de Andrade Desce ao Inferno: “O Mário é uma entidade que me absorve”
“Lembrar a cultura popular hoje é algo necessário. Esse evento em que estou participando acontece no mês do folclore, logo quando vivemos uma invasão de pokémons. O Brasil passa por esse predomínio de outras culturas. E estudiosos como Câmara Cascudo e Mário de Andrade ajudam a encontrarmos a nossa identidade, a nossa brasilidade”, comenta Pascoal, que veio como Mário de Andrade desde o Rio de Janeiro, se apresentando como o escritor para as aeromoças. “Gosto de misturar essas realidades. Coloca as pessoas para pensar. O Mário é absorvente. É uma entidade que me absorve. Eu sou apenas um ator. Só refaço sua importante trajetória”.

O ator acredita que se vive tempos muito difíceis no Brasil, onde só o conhecimento sobre a própria cultura pode propor saídas inteligentes. “Em Goiás, o governo está entregando a direção das escolas para a PM. Isso é louco. A educação deveria passar pela cultura”, desabafa Pascoal, que no ano passado esteve presente nas ocupações de escolas em São Paulo vestido como Mário.

“Mário disse uma vez: ‘Nunca fomos tão momentâneos’. Isso em 1942. A gente vê que vivemos isso mais do que nunca. Independente do que se fala de problemas econômicos e políticos, as pessoas precisam ter a consciência da sua importância e papel  político, social e cultural. É com essa consciência que poderemos mudar alguma coisa”.

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