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A odisseia nordestina de Jovino Santos Neto

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Um livro amarelado e com as bordas desgastadas pela ação do tempo na biblioteca de sua família, no Rio de Janeiro, chamou a atenção do pianista, compositor, arranjador e regente Jovino Santos Neto. Era “Alma do Nordeste”, publicado em 1936 pelo folclorista cearense C Nery Camello, que dedicara de próprio punho à ocasião de seu lançamento aquele exemplar ao avô sergipano do músico nascido na capital fluminense há 62 anos.

Jazz dialoga com as sonoridades de raiz do Nordeste
Jazz dialoga com as sonoridades de raiz do Nordeste

Após ler a obra, o professor do Cornish College of the Arts, em Seattle, no estado americano de Washington, resolveu buscar nele – e em sua ancestralidade – a inspiração para compor seu oitavo álbum. Deixou o frio do extremo noroeste dos Estados Unidos e percorreu 1,2 mil quilômetros do Sertão, Zona da Mata e Agreste de Alagoas, Pernambuco e Paraíba para ouvir causos e poesias, conhecer curiosidades, sentir cheiros, saborear receitas e, principalmente, ouvir a música típica da região.

O resultado é o belo e exuberante “Alma do Nordeste” (independente). Nele, o ex-integrante da banda de Hermeto Paschoal que também tocou com Airto Moreira, Flora Purim, Mike Marshall, entre outros nomes internacionais, mostra através de forrós, maracatus, xotes, sambas de roda etc., sempre com uma sólida base jazzística, na melhor tradição fusion, toda a riqueza sonora nordestina.

“Saudade de Sua Gente”, “Donkey Xote” e “Festa na Macuca” – esta resultado de três dias que o músico passou tocando com sanfoneiros e percussionistas locais na fazenda Macuca, localizada na cidade pernambucana de Garanhuns, ocasião em que conheceu Mestre Zé Romão e uma festa de boi diferente e anárquica – são bons exemplos disso. Mas é na faixa-título que a plenitude do Nordeste se revela.

Com um lindo arranjo de pifes, ela faz referência direta ao sertanejo ser, antes de tudo, um forte e a um Corisco que não aceita se entregar, como no filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. O Nordeste de Jovino Santos Neto neste disco retrata o que a região realmente é: um lugar de pessoas fortes e valentes, culturalmente rico e dono de uma arte sofisticada e muito bonita. Extremamente bonita. (Por Silvio Santiago)

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