quinta-feira, 25 de abril, 2024
32.1 C
Natal
quinta-feira, 25 de abril, 2024

A palavra como imagem essencial

- Publicidade -

Yuno Silva
Repórter

Poeta na essência, médico e vereador por capricho do destino, Franklin Capistrano fala com propriedade sobre a arte de escrever. Amigo da turma do Poema/Processo nos setenta e militante da poesia visual nos oitenta, ele está de volta à cena literária após um hiato de 22 anos. Com “Palavremas” (Jovens Escribas, R$ 35), Franklin deixa de lado sua verve cerebral e semiológica – vista nas três primeiras obras – para exercitar versos ousados e impregnados de lirismo e subjetividade. O lançamento está marcado para esta quinta-feira (7), a partir das 18h, no Solar Bela Vista.
O médico, intelectual e vereador Franklin Capistrano já foi um militante da poesia visual e  uma das cabeças da expressiva produção da década de 70
O poeta não estará sozinho: a noitada será coletiva e reforçada pelo filho, o escritor e filósofo Pablo Capistrano, que relança o livro de contos “Os corvos chegaram para jantar”; e pelos quadrinistas Pedro Cobiaco, Diego Sanchez e Shiko, presenças que marcam o início de uma parceria entre a Jovens Escribas e a editora de HQ Mino (SP).
Para Pablo, o novo livro do pai traz “duas boas surpresas: a primeira é a de que o poeta, que iniciou sua carreira literária nos anos 1960 e que nos anos 1980 militou nas vanguardas formalistas e concretistas, não deixou de produzir; a segunda é a constatação de uma mudança na abordagem dos poemas, que transitaram de experimentações mais cerebrais e semiológicas para tonalidades mais líricas e subjetivas”, constata.

A reportagem do VIVER entrevistou Franklin na Câmara Municipal de Natal, onde o parlamentar exerce o cargo de presidente da casa. Animado com o rebento em mãos, fez questão de destacar a diagramação “fora do comum” (assinada por Danilo Medeiros) como bem pede o material que recheia o livro. Também disse que procura fazer com que o poema dito, escrito e falado se torne um poema visual para o leitor. “As pessoas tem grande atração pela poesia visual”, garante. E acrescenta que em seu trabalho poético “há a intenção de cutucar o leitor. Ao sair da inércia, ele passa a fazer parte do processo de construção criativa”. Para o autor, seus poemas abrem muitas frentes de interpretação – a começar pelo título: um neologismo que une palavras e poemas. “Meu desafio é fazer com que a palavra, por si só, seja um poema”, arrisca.  

Aos 73 anos, Franklin Capistrano informa que sua produção literária recebe influência direta dos quadrinhos e do cinema. “Me envolvi com cinema, frequentei o antigo Cineclube Tirol”, lembra. Sobre seu processo produtivo, diz que fez um trabalho silencioso e ininterrupto nesses 22 anos que separam “Poemagens” de “Palavremas”. “Minha relação com a poesia é diária. Muita coisa ficou de fora e tenho material para editar um novo livro só de poesia visual e outro de poesia discursivas”. A hora de publicar foi percebida por Pablo, que foi guardando o material que o pai compartilhava.

Metalinguagem
“Palavremas”, segundo o próprio autor, é um livro de poeta falando sobre poesia – uma pegada metalinguística que permeia todo o trabalho. “Me preocupo com as palavras, desde o grafema (símbolo gráfico da letra) até a construção da palavra, das frases e, por fim, dos versos. Busca novas perspectivas para a poesia a partir de poemas que falam do poema, coloco uma interrogação sobre o ato de poetar. E dentro do conteúdo semântico dos versos, procuro responder perguntas fundamentais para a compreensão da poesia no seu nascedouro e como ato criativo”.

Para Franklin Capistrano o foco principal é a letra “como situação mais importante do poema; é onde tudo começa”.
O livro se divide em três partes: ‘Câmara Escura’ revela o que o poeta tem dentro de si, e destaca os poemas a partir do contexto em que estão inseridos. Na segunda parte, ‘Máquina de Escrever’, “os poemas estão ali, colocados no branco do papel,  exercendo uma visão pluridimensional da própria poesia”, teoriza.

Por fim, ‘Pequeno Caderno de Orações’ soa mais intimista e trata de temas como espiritualidade. “É o poeta falando de sua intimidade, de sua interioridade, mas sempre interrogando sobre o por quê e o  para quê do fazer poético”.

A Margem
Este é o terceiro livro de poemas publicado por Franklin Capistrano. Em 1985 lançou “Catagrama”, onde extrai versos do próprio título de cada poema. “Os poemas saem de si mesmo, do nome do poema, da palavra”, explica. Já “Poemas da Flor da Pele” (1990), editado com páginas coloridas, traz um conteúdo preocupado com o entendimento e o sentido: poemas existenciais e antológicos ilustram as páginas azuis; poemas políticos, preocupados com o coletivo, foram impressos em páginas vermelhas. A temática ambiental figura nas páginas verdes, e o foro íntimo estão nas amarelas.

Lançou ainda “Poemagens”, em 1994, cujo título é outro neologismo que junta ‘poemas e A Margem’ – nome do jornal literário que circulou em Natal entre 1985 e 2005, editado pelo artista visual Falves Silva, entre outros, e teve entre seus colaboradores o jornalista e poeta Anchieta Fernandes, Charlier Fernandes, Moacy Cirne, Marcos Silva, Véscio Lisboa e o próprio Franklin Capistrano. “Foi um momento importante, época dos fanzines, com o pessoal que fazia Poema/Processo experimentando as poesias visual e experimental. No meu caso, o que existe mais forte dentro de mim, tem a ver com o lirismo: buscar o lírico para descortinar novos horizontes da palavra”.

Combo de Quadrinhos reúne grandes do gênero
A editora potiguar Jovens Escribas aproveita a ocasião para consolidar parceria com a editora de quadrinhos Mino, de São Paulo. Serão apresentadas publicações dos artistas Pedro Cobiaco, Diego Sanchez e Shiko. O paraibano Shiko, conhecido do público local, virá autografar “Lavagem”. Diego, ilustrador e quadrinista carioca, traz para Natal “Perpetuum Mobile”, “Hermínia” e “Quadrinhos insones”; enquanto o paulista Pedro Cobiaco, vencedor do prêmio HQMIX em 2015 por “Hamatã”, autografa o aclamado “Aventuras na ilha do Tesouro”.

Serviço
Lançamento do livro de poesias “Palavremas” (Jovens Escribas, R$ 35), de Franklin Capistrano. Quinta-feira (7), a partir das 18h, no Solar Bela Vista. Também será relançado “Os corvos chegaram para jantar”, de Pablo Capistrano, e obras dos quadrinistas da Editora Mino (SP) Shiko, Pedro Cobiaco e Diego Sanchez.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas