Vicente Serejo
Uma vez, interessado nas expressões populares dos dicionários informais, aqueles que registram mais diretamente os falares da oralidade em nossa língua inculta e bela, perguntei a Oswaldo Lamartine como não incluiu o verbete ‘Papa-ceia’ no ‘Vocabulário do Criatório’. É assim que no sertão se refere ao planeta Vênus, que brilha logo cedo da tarde, e vai até às primeiras horas da manhã. Ele foi definitivo: não é do universo vocabular em torno do gado.
O poeta Sanderson Negreiros tinha outro fascínio, embora não desmerecesse o planeta Vênus, mas gostava da ‘Lua da Tarde’ que usou como título do seu livro de crônicas, ele que das portas da velha redação do ‘Diário de Natal’ se demorava olhando a lua da tarde quando saía e ficava boiando sobre o mar, naquela hora que numa crônica chamou de rupestre. Antes da noite chegar a lua brilhava debaixo de um céu que os poetas românticos diriam plúmbeo.
Câmara Cascudo, apurado no olhar sobre o homem cósmico e universal, o homem de todo lugar, teve o cuidado de registrar o que chamou de ‘respeito misterioso sobre as estrelas’. Tanto que o assunto é verbete no seu até hoje insuperável ‘Dicionário do Folclore Brasileiro’, desde a primeira edição, 1954, registrando as superstições em torno da lua. Como o medo do castigo de ter verrugas nascidas nos dedos a quem se atrevesse a apontá-las para contá-las.
Cascudo também foi pioneiro no cuidado de registrar em livro as horas sertanejas. Do primeiro cantar do galo inaugurando o dia e anunciando a madrugada, aos rastros da manhã, da tarde e da noite. Da ‘Hora da raposa’ à ‘Hora da noite’, da ‘Boca-da-noite’ e da ‘Noite velha’. Das visagens e da hora do ‘de noitão’, à meia-noite, ‘hora aberta’, de maus presságios, agouros e abusões. O medo ancestral que já nasceu com o homem e nele viverá para sempre.
JUSTO – As instituições culturais vão marcar com magnitude intelectual os cem anos de Aluizio Alves? Criou a Fundação J. Augusto, cursos superiores e uma ação cultural marcante.
DETALHES – Aluizio foi o primeiro a criar uma instituição autônoma para a cultura (FJA), com um instituto de pesquisas sociais Juvenal Lamartine e cursos de sociologia e jornalismo.
MIMOS – Antônio Gentil retorna de mais uma temporada em Portugal olhando o mundo e trazendo de presente, na bagagem, várias revistas e jornais. O cronista, comovido, agradece.
MAIS – A revista semanal portuguesa ‘Sábado’ com duas páginas só sobre “Essa Gente”, o livro de Chico Buarque. Em Lisboa, os elogios ao documentário ‘Democracia em Vertigem’.
ABSURDO – Sabe o leitor quanto o país vai gastar para acabar com as filas dos que tentam a aposentadoria, apavorados com a tal reforma da previdência? R$ 9,7 bilhões. Deu na Folha.
FIM – Um leitor pergunta se não há novos encontros com o amigo antifeminista. O terceiro e último sai amanhã. O nosso cético se diz apanhado pelo tédio que lhe rouba o próprio ânimo.
FORÇA – A revista de bordo da TAP dedica vinte e cinco páginas às belezas de Alagoas. E como se não bastasse, classifica o novo destino turístico nordestino de “um paraíso na terra”.
EXAUSTÃO – Deu na Folha de S. Paulo: Diego, a tartaruga-macho da ilha de ‘Espanhola’, arquipélago de Galápagos, Equador, depois de amar intensamente uma dezena de fêmeas para salvar a raça, agora descansa. Espera os filhos. Sem seu vigor a espécie já teria desaparecido.
FITA – Nas praias do Rio a moda é o biquíni feito com fitas adesivas. Quatro cores, em neon, nas preferências rosa-choque, laranja, verde e roxo. Tal é o sucesso nas águas do piscinão de Ramos que os idealizadores fizeram a sunga para os homens. Não seria coisa do comunismo?