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A perigosa queda do Real entre as moedas

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Elviro Rebouças
Economista e empresário 

Moeda brasileira é a que mais perde valor ante o dólar em 2020. Com a pandemia de Covid-19, o risco fiscal e a incerteza política, o real não apenas se desvaloriza frente ao dólar — descola até da cotação dos emergentes. É acentuada, por exemplo, a desvalorização em relação às moedas de parceiros comerciais.

Um indicador que leva em conta a média ponderada das taxas de câmbio dos 61 principais parceiros comerciais do Brasil, de acordo com sua importância na economia brasileira, aponta que o real se desvaloriza 40,70 % neste ano, até ontem,  27 de outubro.  A relação com o dólar, a mais importante, é acompanhada diariamente. Dentre todas as divisas do mundo, o real é a terceira que mais perde valor ante a moeda dos EUA, atrás apenas do dólar do Suriname e da cuacha de Zâmbia. A fonte é segura – Banco Central do Brasil. 

A alta do euro é ainda maior (49,4%), a R$ 6,70. Até o peso argentino, que se desvaloriza 22% em relação ao dólar neste ano, tem vantagem sobre o real, ficando quase 10% mas valioso, a R$ 0,07.

O Real perde valor ante principais parceiros comerciais do Brasil “Geralmente, moedas latinas caminham juntas, pois têm economias semelhantes, baseadas na exportação de matérias-primas, mas efeitos políticos pesam nessa balança e geram desequilíbrio”, diz Thomaz Favaro, diretor para Brasil e Argentina da Control Risks, consultoria de análise de risco político.

Em tempos de crise, ativos de segurança como o dólar tendem a se valorizar por sua solidez. Por trás desta moeda, há a maior economia do mundo, com quase nenhuma chance de calote aos olhos do investidor. Na mesma lógica, moedas de países com economias e contas públicas mais fragilizadas tendem a perder valor.

“A desvalorização do real está relacionada à percepção do estrangeiro quanto ao crescimento do Brasil nos próximos anos e à preocupação com a deterioração das contas públicas. Havia muita confiança no fiscal e isso está em dúvida agora”, afirma Favaro.

A dívida pública brasileira bateu recorde em setembro, ao alcançar R$ 4,526 trilhões, representando 92,1% do PIB (Produto Interno Bruto) com o aumento de gastos do governo com a pandemia, e deve seguir em alta com o plano do governo de expandir o Bolsa Família, com o nome de Renda Cidadã. Até o momento, o governo aponta fontes de recursos, mas não mostra onde cortar gastos.

Chile e Peru têm dívidas de cerca de 30% do PIB e vão para 40% neste ano. O Brasil vai para 95% e deve bater 100% do PIB cedo ou tarde. Quando você tem esse tipo de passivo, o efeito da perda de confiança é ainda maior.

Os EUA também têm uma elevada dívida pública, que deve chegar a 100% do PIB em 2021, segundo estimativas do escritório de orçamento do Congresso americano. A diferença para o Brasil é que há uma maior confiança dos investidores de que o governo dos EUA irá quitar suas dívidas.

“É uma tempestade perfeita. Temos um grande problema no mundo e vários por aqui, sendo que o maior deles é o risco fiscal. Além disso, o cenário para 2021 é ruim. Tudo isso faz o estrangeiro sair do país e indica que o real vai continuar depreciando”, diz Roberto Dumas Damas, professor do Insper.
O economista também aponta a relação conturbada do governo Bolsonaro com o Congresso e entre seus próprios ministros, a crise ambiental, o elevado desemprego e a deterioração as relações com a China e com os democratas americanos, que através do ex-vice-presidente Joe Biden devem desembarcar à Casa Branca em 2021, como mostram insuspeitas pesquisas como fatores que impactam o real. África do Sul, Peru, Colômbia e Chile não têm todos esses problemas.

É preocupante a falta de credibilidade dos investidores internacionais e brasileiros nos rumos que tomarão a nossa combalida economia. Dados do IPEA em seu estudo “Três Décadas de Evolução do Funcionalismo Público no Brasil, demonstra que o número de servidores dos Governos no Brasil subiu 123,50%, de 5,1 milhões para 11,4 milhões, dessangrando os cofres governamentais, do federal ao municipal. Crescimento do servidorismo público representa desafios perigosos para às administrações.

Nove Estados superaram em 2019 o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) de 60% da receita corrente líquida em gastos com pessoal, incluindo ativos a aposentados. Os dados constam no Boletim de Finanças dos Entes Subnacionais, divulgado pelo Tesouro Nacional. O documento traz uma radiografia completa da situação dos Estados e municípios. Nosso sofrido Rio Grande do Norte, encabeça o indesejável ranking, gastando 73%, seguido de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Tocantins, Rio de Janeiro, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraíba estouraram o limite permitido por lei. No Rio Grande do Norte, para cada R$ 100 de receita, o Estado usa R$ 73% para pagar o funcionalismo. Em relação à despesa de pessoal, o Rio Grande Norte está com situação mais grave do que Rio de Janeiro (65%), Minas Gerais (69,4%) e Rio Grande do Sul (66,4%) – os três Estados que têm as finanças mais desequilibradas. O perigo ronda toda essa complexa situação. Como a inflação está em alta, outro perigo se associa a um desgastante quadro! 









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