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A peste – IV

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Vicente Serejo
Coluna
A peste ensina. E isto não revela a menor novidade. Ensina a todos. Sábios e sabidos. Das coisas mais simples às mais inesperadas. Outro dia, um apresentador tentou buscar na memória uma palavra para dizer que a Prefeitura do Rio quer instalar lugares públicos para que as pessoas possam lavar as mãos. Poderia ter dito a antiga: lavadouro. Ou, mais antiga: lavatório. Não. No glamour de um novo canal, sacou um neologismo charmoso: lavódromo.  
Contra? Não. Sou um prisioneiro do Coronavírus, de alma agora mais vadia, vagando entre estes poucos quadrados, uma sentinela dessa geometria a procura de novidades até nos janelões.  São poucas as tarefas, além da coluna, dois prefácios e as leituras. Meu exército de resistência está aquartelado debaixo da rede e tem muitas divisões. Vai, entre inutilidades, de um ensaio de filosofia a uma latinha de pastilha Valda, com o gosto bom da infância.  
Gosto dos neologismos. Nascem feitos de uma propriedade admirável. Se há uma máquina que se chama xerox, claro, é por poder xerocar, se xerocar, por dedução lógica, é copiar. Tanto é que hoje faz parte do Guia Ortográfico da Língua Portuguesa. No governo de Fernando Collor, o seu intrépido ministro do trabalho foi o sindicalista Antônio Magri que cunhou a expressão ‘imexível’, hoje dicionarizada. Algo mais seguro do que o imexível?
Portanto, e antes que os meus pouquíssimos leitores possam estranhar, defendo, sim, os neologismos. As boas invenções que enriquecem a língua falada que é a língua certa do povo, como advertiu o poeta Manuel Bandeira. Gostei de lavódromo. É de pouca empatia, digamos. E de uma prosódia eivada de certo requinte. Aliás, como é da natureza de alguns belos proparoxítonos e, principalmente, se caem sonoros e cantantes nos ouvidos do povo.
Houve coisa pior? Houve. E pestilenta. Feita daquela morbidez que é propor às escondidas a suspensão do salário de trabalhadores por quatro meses, em pleno efeito da peste, numa maldade dita provisória. Depois, e de máscara, esses chefetes de almas e ideias subalternas engendraram a desculpa esfarrapada. O país levantou-se contra o absurdo que acabou caindo de podre. Dizia o velho Ulisses Guimarães que o poder só tem medo do povo.
Eis a peste, Senhor Redator, nos seus vários bestuntos. Nas mil faces que se revezam e revelam de muitas e variadas maneiras. O intrépido Jair ainda não consegue entender, ou então não aceita, que foi eleito, legitimamente, por quase 58 milhões de votos. Mas depois da eleição – à qual não era obrigado – passou a presidir quase 220 milhões de pessoas. Não é fácil, reconheçamos. Mas, as candidaturas nos regimes republicanos são atos voluntários. 
LUTA – Mano Targino aproveita a quarentena e cuida de renovar sua criação de porcos de olho no segundo semestre. Enquanto aguarda a visita do hoje célebre chef Jefferson Rueda. 
POESIA -Racine Santos lança depois da peste do Coronavírus a nova edição do seu livro ‘Uma Cidade Vestida de Sol’, de 1986. Com inclusão de novos poemas. O que é muito bom. 
VÍRUS – Como disse Laura Mattos que escreveu sobre a censura à novela ‘Roque Santeiro’: contra Dias Gomes foi o vírus da ditadura, mas agora, com ‘Amor de Mãe’, é o Coronavírus.
GRAVE – Gastar três milhões com a campanha de combate ao Coronavírus é uma idéia de boa fé, mas inoportuna. Melhor comprar máscaras e luvas para os médicos e os enfermeiros.  
TIRO – Gilmar Mendes não é ícone de equilíbrio, mas não se perde por falta de inteligência, atirou como um snyper depois do pronunciamento de Bolsonaro “É o luxo da insensatez”. 
DEPOIS – A editora Leya adiou para depois da peste o lançamento de dois livros quentes: o de Ciro Gomes e de Lobão, este com o mea culpa pelo erro de ter apoiado Jair Bolsonaro.
MAGIA – A realidade não basta. Ontem, aniversário de Rejane, estávamos reunidos, mas de forma virtual: as filhas, os genros e netos em suas casas, confinados. Um encontro virtual.
VIDA – De Nino, filósofo melancólico do Beco da Lama, lendo Flaubert, enquanto a chuva fina alisava o silêncio dos morros: “A medida de uma alma é a dimensão de seu desejo”.
COMO? -Em Fortaleza cerca de 40 mil idosos estão sendo vacinados em casa e recebem os remédios que precisam nos próximos sessenta dias. Como? Se aqui não há nada disto? É que lá tem líderes que desde algum tempo, vacinaram seu povo contra o vírus da insensibilidade.
ALIÁS – É por isso que fica fácil entender a derrota do Rio Grande do Norte quando não foi capaz de ter dois portos internacionais de passageiros e cargas. E de fazer do seu aeroporto o que não soubemos fazer, presos a um altruísmo geográfico da Segunda Guerra Mundial.  
REZA – Este cronista, um velho mariano, por herança do avô e do pai, e dado a respeitar os poderes de Deus, reza para acreditar que o governo pode proibir que se negue a assistência médica às vítimas  do Coronavírus. O decreto da governadora chega às raias da platitude. 
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