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A pirralha

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Ivan Maciel de Andrade
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)

Quem não acredita nas mudanças climáticas? Trump gostava de ironizar as campanhas de defesa e preservação do meio ambiente. Mas já reconheceu publicamente que existem de fato as mudanças climáticas e que é preciso criar políticas públicas para enfrentá-las. Com isso, diz a mídia americana, decepcionou e irritou grande parte da extrema direita que vota nele. Mas como é possível negar essas mudanças? O aquecimento global, causado pelo aumento da liberação dos gases de efeito estufa, é um fenômeno que se evidencia em todos os continentes, regiões e países. Como, de outra forma, explicar o derretimento das calotas polares? As catástrofes naturais se multiplicam cada vez com maior intensidade e frequência. E os cientistas e pesquisadores preveem desastres piores.

Aqui no Brasil já estamos nos habituando a muitas calamidades: alagamentos, enchentes, inundações, enxurradas, desmoronamentos, desabamentos, deslizamentos. São tantas as ocorrências trágicas que a rigor exigem um glossário para que possam ser entendidas as diversas características que as diferenciam. Tanto acontecem nas maiores cidades – nas metrópoles (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife etc.) – como em localidades rurais. Há quem argumente: as nossas grandes cidades estão impermeabilizadas pelo asfalto, pela urbanização irracional, que impossibilita a drenagem das águas pluviais. Outros destacam a urgência de se promover o desassoreamento do leito dos rios. Mas um consenso existe: por trás dos problemas estão as fatídicas mudanças climáticas.

Diante desse quadro, como justificar a intolerância, o ódio e o menosprezo com que é tratada, por alguns líderes e intelectuais de vários países, a jovem ativista ambiental (sueca) Greta Thunberg? O que leva um jornalista e escritor de renome – o português João Pereira Coutinho – a assumir, em recente artigo publicado em jornal de São Paulo, posição agressiva e destemperada contra ela? Escreveu: “sempre que vejo Greta Thunberg a pontificar na televisão, com dedo levantado e olhar fulminante sobre a raça humana (de que ela, obviamente, não faz parte), a minha vontade imediata é vandalizar ainda mais o planeta, não conservá-lo”. João Pereira não nega as mudanças climáticas e a necessidade de cuidar dos ecossistemas. Critica o que ele denomina de “catastrofismo ambiental”.

Mas não estamos vendo as catástrofes se expandirem e se reproduzirem? A atitude de Greta Thunberg – na medida em que ganha adeptos e crescente credibilidade – não representará um choque capaz de despertar governos e organismos internacionais da apatia e indiferença que os imobilizam?         

Há poderosos interesses econômicos se contrapondo às políticas que tentam evitar o que Yuval Noah Harari chama de “colapso ecológico”. Afinal, a humanidade ainda está na dependência dos combustíveis fósseis. E a pregação da ativista sueca pode parecer arrogante e insensata para quem acha que esse assunto deve ser tratado unicamente por especialistas credenciados por instituições governamentais. Como aceitar que uma adolescente de 17 anos, uma pirralha, empolgue mais de um milhão de jovens, em 125 países, e se meta a liderar um movimento de proporções tão gigantescas? 

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