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A pressa de viver de Matheus Aciole

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Luiz Henrique Gomes
Repórter
Matheus Aciole tinha pressa de viver e um coração sempre aberto para receber novas pessoas. Querido por todos, era o filho mais novo do casal Elione Aciole e Balbino Costa, do qual herdou a paixão pela cozinha que o levou a se tornar gastrólogo. A partida do jovem, falecido aos 23 anos nesta terça-feira, 31, em decorrência da Covid-19, deixa os familiares e amigos desamparados, mas o maior conforto encontrado é na alegria que Matheus sempre demonstrou. “A alegria que ele nos deixou com o seu jeito sempre doce vai fazer a gente se reerguer”, contou a mãe Elione.
Matheus Aciole começou a ter sintomas da Covid-19 dias após participar de um baile de formatura. Ele morreu na terça-feira, 31
#SAIBAMAIS#O falecimento de Matheus é lamentado por toda família principalmente pelas circunstâncias da despedida. Ele foi sepultado às pressas na madrugada desta quarta-feira, 1º, com um caixão lacrado e a presença somente dos pais, irmão e familiares mais próximos por causa do risco de infecção pelo coronavírus. “Isso me arrasou muito, mas a alegria dele e todo carinho que os amigos demonstram acalentam a minha alma”, continuou a mãe.
O jovem era conhecido entre amigos e familiares por sempre mostrar bom-humor, gostar de festas e querer as pessoas próximas. Na faculdade, Matheus foi monitor e teve o contato com alunos de diversos períodos da graduação. José Matheus dos Santos, colega da monitoria, afirma que a característica mais forte era o coração gigante que demonstrava na relação com os outros. Mesmo nos momentos mais sérios da faculdade, o jovem sempre estava animado.
“Ele era sinônimo de alegria e não negava paixão por forró e cerveja. Por isso era sempre animação quando estava perto dele. Analisando um pouco, a impressão que eu tenho hoje é que Aciole tinha pressa de viver, por isso só espalhou coisas boas por onde passou”, afirmou José.
As festas faziam parte da vida de Matheus. A última que esteve presente foi uma formatura no dia 14 de março, um sábado. Só chegou em casa no outro dia às 9h30. Quatro dias depois, na quinta-feira, começou a ter febre e a tossir. Eram os primeiros sintomas do coronavírus, que evoluíram até o jovem precisar ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 28, onde permaneceu até falecer.
A mãe Elione lembra que ele sempre era o último a sair dos locais. A vontade de estar presente nesses momentos é uma das características mais lembradas. “Ele viveu, aproveitou cada segundo, parece que sabia que seria breve. Brincou, se divertiu, foi para toda as festas que quis”, relembra a prima Amanda Acioli, da mesma idade do jovem. Eles cresceram juntos e sempre mantiveram contato.
Paixão por cozinhar
Antes de adoecer, o jovem estava animado pelas encomendas da páscoa que recebia. Há dois anos, ele trabalhava por conta própria como confeiteiro e auxiliava os pais, donos de uma fábrica de bolo artesanal. Sua especialidade era bolos e tortas. A gastronomia é uma paixão que possuía desde criança, quando convivia entre as confecções de bolos.
Elione perdeu de vista as vezes que brigou com o filho durante os veraneios em casas de praia porque ele preferia estar na cozinha e não brincando com as outras crianças. Quando se tornou adolescente, o jovem se tornou o primeiro cozinheiro das amigas. “Ele sempre gostou, se oferecia para cozinhar. E isso foi crescendo, ele queria seguir esse rumo”, relembrou a mãe.
Atualmente, cursava a sua segunda graduação, de Nutrição, e especialização na área de Gastronomia, da qual tem formação superior há dois anos. “Ele queria trabalhar com o que amava, que era a gastronomia, e se tornar um chef. Ele amava comida, amava comer e cozinhar”, contou Elione.
Outra paixão era o América Futebol Clube de Natal, relação que possuía desde criança graças ao pai e ao irmão mais velho, Maxwell Aciole. O clube lamentou a partida do jovem nesta quarta-feira. Para Elione, as homenagens recebidas são o que “conforta o coração”. “Ele era o queridão de todo mundo, aquele da turma que todo mundo ama. Recebo muitas homenagens e minha alma está acalentada depois disso tudo. Eu tenho orgulho da pessoa que ele foi.”
O adeus sem amigos
Nos últimos dias, já doente, perdeu as duas maiores características dele: a alegria e o apetite. “Nos últimos dias em que ele ficou em casa, estava diferente e sem a alegria de sempre. Ele ficava no quarto isolado e eu ficava muito preocupada porque ele só aceitava água, recusava todo tipo de comida. Era estranho.”
A morte do cozinheiro causou repercussão nacional porque ele é a vítima mais jovem de coronavírus no Brasil até o momento. Entretanto, para a família ele sempre será “a joia rara”. Para os amigos, restam as memórias de um rapaz cheio de vida. “Tão cheio que um pouco da vida dele ficou em nós”, afirmou José Matheus dos Santos.
A prima Amanda Acioli, que cresceu junto com ele e não esteve presente no sepultamento, afirma que a partida “foi da pior maneira possível” e diferente do que Matheus representava.
“Gostaria de pedir para que todos fiquem em casa, se puderem. Matheus se foi da pior maneira possível. Nossa família sempre foi muito presente e nesse momento não podemos nem estar perto uns dos outros, isso é muito triste. Matheus não pôde ter o velório que ele merecia, que seria lotado de pessoas que o amavam porque ele era muito amado, muito. E não inventem mentiras sobre ele”, apelou a prima.
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