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A procura de um sucessor

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Cidade do Vaticano – A renúncia do Papa Bento XVI – anunciada por ele e confirmada pela Cúria Romana na última segunda-feira, 11(leia a carta de renuncia, na integra, na página 16) – desperta, de imediato, especulações sobre quem será o próximo “sucessor do apóstolo Pedro”, líder da Igreja Católica Apostólica Romana. Nas discussões informais em Roma, quem encabeça a lista dos papáveis atualmente é o cardeal italiano Angelo Scola, da arquidiocese de Milão, uma das mais importantes da Itália. A lista dos nomes considerados traz ainda outros representantes da Europa, Canadá, Estados Unidos e também da América Latina – entre eles, o brasileiro Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo.
Papa Bento XVI anunciou nessa segunda-feira (11) sua renúncia ao papado
Embora não existam pré-requisitos oficiais para ser um “papabile” (“papável”), há mais de 600 anos os cardeais elegem entre si o novo Papa. Atualmente, existem 119 cardeais com menos de 80 anos e que podem votar. Durante o período de transição, quem administra a Igreja é o colégio de cardeais, especialmente na figura do “camerlengo”, o responsável pelos bens da Cidade do Vaticano. Trata-se do Secretário de Estado, o “número dois” do Vaticano, atualmente o cardeal italiano Tarciso Bertone.

Pela proximidade com o Papa, Bertone é um dos candidatos naturais para suceder Bento XVI, embora neste momento não seja o favorito. Sua função envolve grande autoridade política e diplomática e, por isso, ele conhece bem o funcionamento do Vaticano. Pertence à congregação dos religiosos Salesianos de Dom Bosco (SDB), uma das mais bem sucedidas na atualidade, conhecida no Brasil pela atuação na área de educação. No entanto, boa parte dos cardeais não enxerga em Bertone um bom administrador e muito menos um bom “pastor”. Alguns erros de gestão e o recente escândalo de vazamento de documentos secretos do Vaticano, que ficou conhecido como “VatiLeaks”, enfraqueceram sua imagem. Ele certamente receberá votos no conclave, mas uma eventual eleição de Bertone para o papado seria uma surpresa, pois seu nome divide mais do que congrega.

O favorito Angelo Scola, da arquidiocese de Milão, uma das mais importantes da Itália, é especialista em antropologia teológica e muito alinhado a Bento XVI, o que é visto como uma qualidade. Ambos são pensadores católicos.

 Scola é mais extrovertido e carismático do que Ratzinger. É muito aclamado em Milão e, portanto, está acostumado com multidões. Seus fãs dizem que Scola mistura a autoconfiança de João Paulo II com a intelectualidade de Bento XVI. Ele tem 71 anos, idade que lhe confere ampla experiência como religioso, bispo e administrador, sinalizando que seu pontificado duraria até 20 anos – seria mais longo do que o de Bento XVI, Papa por apenas sete anos.

 Porém, é justamente a idade que pode tirar votos de Scola: alguns cardeais querem um papado mais longo. Contra Scola também está o fato de que ele nunca ocupou um cargo no Vaticano e, além disso, representaria o segundo pontificado consecutivo de intensos ensinamentos teológicos, o que poderia ser considerado um excesso. Também pesa sua nacionalidade italiana, pois alguns cardeais acreditam que é preciso renovar, escolhendo alguém diferente, talvez até de fora da Europa.

Há também outros italianos entre os favoritos, como o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, de 70 anos, um intelectual renomado em diversas áreas, como teologia, arte, ciências e filosofia. Ele atua tanto no meio acadêmico quanto na imprensa popular, em rádios e televisões, aproximando-se inclusive dos não católicos. Muitos o consideram uma pessoa gentil, afável e engraçada, mas lhe falta base de apoio na Itália, onde pesa o lado político. Além disso, Ravasi pode ser visto como europeu demais para o momento atual e não tem experiências fora do país.

A vivência internacional que falta a Ravasi sobra para o cardeal canadense Marc Ouellet, de 68 anos, prefeito da Congregação para os Bispos e um discípulo intelectual de Bento XVI. Embora seja canadense, já viveu também na Áustria, na Alemanha e na Colômbia, o que é visto como uma grande qualidade para o papado. Se eleito, ele será o primeiro Papa das Américas. Ouellet certamente receberá votos no conclave, pois, além trabalhar no Vaticano, acumula a experiência de ter sido arcebispo de Quebec, reitor e professor. Seus admiradores dizem que ele é humilde e um grande mestre em questões de fé. Porém, alguns acreditam que Ouellet é parecido demais com Joseph Ratzinger.

Brasileiro na lista tem poucas chances

O brasileiro Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, não é considerado um favorito, mas sua eleição tampouco seria uma surpresa. Scherer lidera a mais importante arquidiocese do Brasil – país com maior número de católicos – e uma das maiores da América Latina. Isso atribui a ele grande visibilidade e experiência pastoral. O cardeal brasileiro também tem ampla vivência em Roma, onde trabalhou e estudou por sete anos. Outra qualidade a ser notada pelos cardeais é o fato de Scherer dialogar com diferentes movimentos, desde os grupos mais tradicionalistas, como Opus Dei e os Focolares, até os mais novos, como a Renovação Carismática Católica (RCC), e as pastorais sociais. Ele poderia ser um candidato de consenso, alinhando europeus e latino-americanos, tradicionais e moderados
Cardeal brasileiro Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em maio de 2012, o arcebispo de São Paulo disse que não imaginava a possibilidade de ser Papa. “Só um será eleito Papa e existem tantos que podem ser escolhidos! É o conclave que decide, não alguém que se propõe ou que diz ‘quero ser Papa’ ou ‘vote em mim, eu vou ser Papa’”, explicou o cardeal Scherer. “Não passa pela minha cabeça outra coisa além de ser arcebispo de São Paulo.” Observadores costumam dizer que embora os brasileiros sejam vistos em Roma como homens simpáticos, não são firmes o suficiente para o papado.

Outra dúvida a ser levantada no conclave é se Scherer vem respondendo à altura ao crescimento das igrejas evangélicas e ao fortalecimento do ateísmo no Brasil. O fato de ser de família alemã também pode ser um empecilho, pois, para alguns, representaria o segundo Papa “alemão” consecutivo. Com 63 anos, seria esperado do eventual Papa brasileiro um longo pontificado.

Lista de papáveis inlcui africanos e sul-americanos

Entre os papáveis não-europeus, há ainda pelo menos três latino-americanos: O cardeal argentino Leonardo Sandri é um dos “preferiti” (preferidos), pois trabalha no Vaticano como Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, foi Vice-Secretário de Estado entre 2000 e 2007 e é visto como um bom administrador. Para alguns, seria a pessoa ideal para restaurar a ordem na cúria romana, perdida durante a administração de Bertone – Bento XVI foi um Papa mais teólogo e professor do que administrador, dizem analistas do Vaticano.

Outro cotado para o papado na América é o hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa. Destaca-se por ser uma pessoa carismática e de fácil comunicação. Alguns o chamam de “João Paulo II latino-americano”. É atualmente presidente da obra social Caritas Internationalis, a mais notável e reconhecida instituição de caridade católica do mundo. Salesiano como Bertone, Maradiaga viveu em Roma e Turim. Sua reputação foi parcialmente manchada, no entanto, por ele ter apoiado no início o golpe militar contra o ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya, em junho de 2009, ocasião que mobilizou a diplomacia internacional.

Outros nomes estão na lista dos papáveis, mas com menor probabilidade de eleição. O italiano Angelo Bagnasco, arcebispo de Gênova;  o cardeal ganês Peter Turkson – o mais cotado entre os africanos -, atualmente presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, no Vaticano; o cardeal Robert Sarah, Presidente do Pontifício Conselho “Cor Unum”, guineense de 66 anos; o arcebispo de Abuja, John Olorunfemi Onaiyekan.

Entre os cardeais europeus de fora da Itália, o arcebispo de Viena, cardeal Christoph Schönborn, é um dos mais fortes. O cardeal húngaro Péter Erdo foi eleito duas vezes presidente da Conferência Episcopal Europeia, o que lhe atribui boa visibilidade, afinal, quase metade dos cardeais é europeia. O cardeal norte-americano Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, tem ganhado muito destaque nos Estados Unidos por criticar políticas do governo de Barack Obama que vão contra o pensamento da Igreja, como a política de saúde pública, que obriga instituições católicas a oferecer contracepção.

De qualquer forma, o perfil do Papa eleito deve sinalizar qual é o rumo que os cardeais pretendem dar à Igreja Católica nos próximos anos. Eles devem avaliar ao menos cinco aspectos principais na escolha do novo pontífice: idade, que ajuda a estimar quanto tempo deve durar o pontificado; experiência pastoral e fidelidade ao ensinamento teológico da Igreja; experiência como governante ou administrativa – ter sido bispo de uma grande diocese pode ser uma qualidade; experiência política, para mediar conflitos e se relacionar com autoridades de outros países; carisma, pois o Papa precisa lidar com multidões e saber se comunicar.

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