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A propósito de mais um Dia do Escritor

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Nelson Patriota [ escritor ]

Com a irreverência que lhe deu quase tanta notoriedade quanto suas caçadas africanas, o escritor Ernest Hemingway não resistiu a criticar seu próprio ofício quando perguntado, certa vez, sobre o que deveria fazer alguém que planejasse ser escritor: “Digamos que ele deva enforcar-se, por descobrir que escrever bem é difícil a ponto de ser impossível. Então, ele deveria ser retirado da forca impiedosamente e forçado por si próprio a escrever o melhor que possa para o resto de sua vida. Pelo menos terá, como ponto de partida, a história do enforcamento”.

Apesar de hoje em dia não ser comum se ameaçar escritores com a forca (há quem prefira métodos mais sutis ou, pelo contrário, mais práticos), nem haja muitos escritores preocupados em dar o melhor de si  no que escrevem, quando basta um terço desse investimento em certos gêneros, a sugestão feita por Hemingway, tirante seu chiste, pode ser perfeitamente adaptada a outros começos, o que coloca os jovens escritores diante de um problema comum: qual o melhor pon-to de partida para começar a escrever? Sobre essa questão, porém, só se sabe que, quanto mais demorada a busca, mais riscos impõe à obra em projeto.

Neste 25 de julho se comemora o dia do escritor, efeméride relativamente nova e que, provavelmente, passará mais uma vez incógnita à grande maioria das pessoas. Talvez porque, ao contrário do resultado do trabalho do escritor, a comemoração desse dia não vise diretamente ao público que lê, mas ao questionamento do ofício de quem escreve. E isso compete mais de perto aos próprios escritores, pois, como declara o mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, em entrevista ao jornal “Rascunho” deste mês, “literatura é uma conversa sobre as dúvidas”. E quem não sabe que os melhores escritores são os mais obcecados por dúvidas, se voltando para a criação literária justamente em busca de um porto seguro?

Mas a data pode se prestar a co-memorações pontuais e, mesmo, exemplares. Por suposto, a reviravolta que o escritor Bartolomeu Correia de Melo impôs à sua vida, redirecionando-a para a literatura, logo depois de concluir uma carreira acadêmica bem-sucedida na docência de química. Com essa guinada, revirou de ponta-cabeça a arte do conto potiguar, conferindo-lhe novos motivos e uma linguagem personalíssima. A publicação em breve, pela editora pernambucana Bagaço, de sua obra completa, contendo, inclusive, uma obra poética em separado, é algo digno da mais efusiva comemoração.

Do mesmo modo, a informação que circulou esta semana na imprensa potiguar, com ampla cobertura desta Tribuna, de que o escritor Deífilo Gurgel pôs um ponto final em seu Romanceiro Potiguar, pesquisa na qual vinha trabalhando há quinze anos, é outro bom motivo de comemoração no dia do escritor. A obra vai reunir um total de 300 romances, perfazendo dezenas de horas de gravação com romanceiros dos mais improváveis lugares que, depois, precisaram ser transcritas, ordenadas num texto coeso. Enfim, não foi uma tarefa simples.

Um terceiro motivo de co-memoração do dia do escritor vem da seção local da União Brasileira de Escritores. Trata-se do anúncio do Prêmio literário Eulício Farias de Lacerda, cujos detalhes serão conheci-dos nesta segunda-feira, 25,, num encontro que acontecerá às 19h, na Aliança Francesa, em torno de uma discussão sobre a obra desse paraibano de alma potiguar. Participarão do debate o poeta Jarbas Martins, o livreiro Francisco Alves Sobrinho e este articulista, tendo como mediador o escritor Eduardo Gosson, presidente da UBE/RN.

A ideia é demarcar com o evento o compromisso da entidade dos escritores potiguares de apoiar e incentivar a criação literária em nível estadual. Para isso, lança mão de um nome emblemático de nossas letras, autor de obras inovadoras como “O rio da noite verde”, “Os deserdados da chuva”, “O dia em que a coluna passou”, entre outros. Evocar o nome de Eulício é como dizer que a literatura é sonho. Pode dar certo, sim. Mas não se garante.

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